Compradores da China reservaram pelo menos 10 cargas de soja da Argentina depois que Buenos Aires eliminou os impostos sobre a exportação de grãos, disseram três traders, causando outro revés para os agricultores dos Estados Unidos, já excluídos de seu principal mercado e impactados por preços baixos.

A medida tributária temporária da Argentina aumenta a competitividade da soja local, o que levou comerciantes a garantir cargas para estoques na China no quarto trimestre, um período geralmente dominado pelos embarques americanos, mas agora obscurecido pela guerra comercial de Washington com Pequim.

Os carregamentos de 65 mil toneladas cada estão programados para novembro, com preços CNF (custo e frete) cotados a um prêmio de US$ 2,15 a US$ 2,30 por bushel em relação ao contrato de soja de novembro da Bolsa de Chicago. Um dos traders disse que os compradores chineses haviam reservado 15 cargas.

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Os acordos são um novo golpe para os agricultores dos Estados Unidos, que estão perdendo bilhões de dólares em vendas de soja para a China na metade de sua principal temporada de comercialização, à medida que as negociações comerciais não resolvidas congelam as exportações e fornecedores rivais da América do Sul, liderados pelo Brasil, entram em cena para preencher a lacuna.

“Esses acordos foram feitos ontem à noite, após a decisão da Argentina sobre o imposto de exportação”, disse um dos comerciantes, que não quis ser identificado por não estar autorizado a falar com a imprensa. “Isso significa claramente que a China não precisa dos grãos dos Estados Unidos”. A China, o maior comprador de soja do mundo, ainda não comprou nenhuma carga de soja americana de sua safra de outono.

Na sexta-feira, o presidente chinês, Xi Jinping, e o presidente dos EUA, Donald Trump, tiveram uma conversa telefônica, mas nenhum dos lados informou qualquer atualização relacionada à agricultura, pressionando ainda mais os futuros da soja em Chicago, que já estão perto das mínimas de cinco anos.

No início deste mês, a Reuters informou que a China havia quase concluído as compras de soja para embarque em outubro e reservado cerca de 15% de suas necessidades de novembro, todas da América do Sul. Nessa época, em anos anteriores, a China teria comprado de 12 a 13 milhões de toneladas dos Estados Unidos para embarque entre setembro e novembro.

Isenção temporária

O governo da Argentina disse que a suspensão temporária do imposto sobre grãos durará até outubro, ou até que as exportações declaradas atinjam US$ 7 bilhões, uma medida que fez com que os futuros do farelo de soja chinês caíssem na terça-feira.

“A queda nos preços deveu-se principalmente à remoção dos impostos de exportação de grãos pela Argentina ontem, o que tornou os preços mais atrativos para os compradores chineses devido às margens favoráveis de esmagamento”, disse Johnny Xiang, fundador da AgRadar Consulting, sediada em Pequim.

“Mas é provável que o impacto dessa notícia seja de curta duração, já que a política durará pouco mais de um mês e a oferta geral da Argentina é limitada”, acrescentou.

A Argentina normalmente impõe um imposto de exportação de 26% sobre a soja.