À primeira vista, a tecnologia desenvolvida pela multinacional francesa Saint-Gobain, uma gigante do setor de cerâmica e vidros, presente em 57 países e com faturamento global de 44 bilhões de euros, pode não chamar tanta atenção. Afinal, trata-se de um sistema de rastreamento bovino por meio de um chip, como tantos outros existentes no mercado. Mas a grande novidade nesse caso é que, diferentemente dos vários modelos de brinco amplamente utilizados, esse dispositivo não é preso na orelha do animal. Ele é engolido pelo gado. “Isso faz com que não haja extravio e aumenta a segurança e a confiabilidade do sistema”, explica o diretor-geral da divisão de cerâmicas da Saint-Gobain do Brasil, José Alonso Kafer.

Quais as diferenças entre os sistemas

O chip fica alojado dentro do animal. Dessa forma, não há risco de perda do dispositivo, o que aumenta a segurança do rastreamento. Mas seu custo ainda é alto. Cada chip sai por R$ 10 e o sistema completo custa R$ 6,8 mil. Contudo, o dispositvo pode ser reaproveitado no rebanho, após o abate do animal.

O brinco é o dispositivo mais comum, mas o manejo do gado pode fazer com que ele se solte, comprometendo a rastreabilidade do rebanho. Sua vantagem é o preço, em média R$ 6,50 por animal. No entanto, ele não pode ser reaproveitado, tendo que ser descartado após o abate.

O sistema funciona com um chip instalado numa espécie de cápsula de cerâmica, que após ser ingerida fica alojada dentro do bicho, mais precisamente na segunda câmara ruminal. Um conjunto formado por uma antena e uma leitora se encarrega de captar os sinais do dispositivo e com ajuda de um software é possível, além de identificar o animal, saber informações importantes do processo produtivo. “Esse sistema é indicado para rebanhos bovinos e bubalinos e representa uma importante modernização na gestão do gado, permitindo um controle completo e preciso de informações de cada cabeça, como índice de peso, histórico de vacinas e sanitário, entre outras.”

O Bolus, como é chamada a cápsula, é instalado por meio de uma sonda, para evitar que o animal morda o dispositivo. Segundo a empresa, também não há risco de o animal expelir o aparelho. “O Bolus pesa 72 gramas e tem 68 mm de comprimento e 10 mm de diâmetro. Essas características, além de sua forma anatômica, foram desenvolvidas de maneira que o dispositivo se aloje perfeitamente na segunda câmara ruminal e permaneça lá”, complementa Luiz Henrique Amadeu, gerente de operações da companhia.

No Brasil desde 1937, a empresa, que também produz bicos utilizados em pulverizadores, espera dar um salto no faturamento da sua linha agro com a nova tecnologia. “Hoje os produtos voltados para o agronegócio somam vendas de R$ 20 milhões. Acreditamos que em dois anos as vendas cheguem a R$ 10 milhões por ano”, revela Kafer, que acredita que a empresa tenha potencial para atender dois milhões de cabeças.

Contudo, o preço do novo sistema pode ser um obstáculo. Cada chip tem um custo médio de R$ 10 por animal. Bem acima dos R$ 6,50 pagos em média pelo brinco eletrônico. Além disso, o conjunto de antena e leitora sai em média por R$ 6,8 mil e o recomendado é ter uma leitora para cada mil animais. “O investimento é um pouco maior, mas compensa, pois, diferentemente do brinco, nossos chips podem ser reutilizados por outros animais após o abate. Além disso, os grandes mercados estão cada vez mais rigorosos com o sistema de rastreamento e essa solução, que está integrada ao Sisbov, garante transparência e eficiência ao processo”, finaliza Kafer.