Após a tragédia que causou pelo menos 49 mortes no litoral norte de São Paulo no carnaval, empresários do setor de hotelaria ou de imóveis para aluguel tentam evitar a onda de cancelamentos de reservas na região, uma das mais buscadas pelos turistas. Em São Sebastião, ainda são calculados os prejuízos e há dificuldades de acesso. Em Ubatuba, eles argumentam com clientes que os estragos se concentraram em outras áreas para encorajar os hóspedes.

Meteorologistas, porém, recomendam que visitantes evitem a região nos próximos dias. O mesmo apelo foi feito pelo ministro dos Portos e Aeroportos, Márcio França.

Segundo a Associação Comercial e Empresarial de São Sebastião, um quarto dos hotéis e pousadas do município fica na região mais atingida pelas chuvas. Olivo Ramirez Balut, presidente da entidade, diz que a maioria das pousadas entre Boiçucanga e Boraceia, na costa sul, foi atingida diretamente por alagamentos e inundações. “Muitos desses estabelecimentos, além de terem de lidar com prejuízos próprios e dos hóspedes, ficarão impossibilitados de fazer reservas por semanas e até meses”, afirma.

Hotéis e pousadas da costa norte, centro e costa sul até Boiçucanga, que não tiveram prejuízos diretos, estão sendo afetados por uma onda de cancelamentos, segundo ele. “É normal que a pessoa que fez reserva se sinta insegura de vir nesse momento em que ainda há estradas bloqueadas e situação ainda de emergência. O que a gente vê nesse momento é o movimento de pessoas querendo deixar a região”, afirma.

A Pousada Ipê, na região central da cidade, não sofreu com a chuva, mas foi obrigada a atender a pedidos de cancelamentos de reserva. “A costa sul, que foi atingida, está bem distante, mas os reflexos chegam até aqui. Quando nos procuram para reservas, estamos informando que o acesso é só pela (rodovia dos) Tamoios, que ainda não dá para ir às praias da costa sul”, diz Jéssica, funcionária do local.

Corretoras e empresas de locação, como a Airbnb retiraram de suas páginas na internet ofertas de acomodações nas praias atingidas pelo desastre, como Juquehy, Camburi e Barra do Sahy. Por meio da assessoria de imprensa, a Airbnb informou que ainda não tem balanço de cancelamentos.

Pousadas de Ilhabela, que dependem das balsas de São Sebastião para a chegada do turista, também sofrem. “Era muita água e nossa pousada foi alagada. Conseguimos salvar os carros dos hóspedes, mas perdemos muita coisa, inclusive meu próprio carro, camas e eletrodomésticos”, diz Ezequiel de Souza Vale, gerente de uma unidade. Ele conta que, no domingo, estava com os oito apartamentos e o chalé ocupados. “Tivemos de devolver o dinheiro”, diz. Todas as reservas até o fim deste mês foram canceladas.

Ubatuba alega distância e tenta atrair turistas

“As pessoas não sabem que em Ubatuba não houve tanto estrago como aconteceu em São Sebastião e cancelam com medo de vir para cá”, diz Salim Simão, gerente do Hotel Porto do Eixo, numa das praias do sul da cidade litorânea. O estabelecimento, de 38 quartos, já teve dois cancelamentos na quarta-feira, 22.

Na Praia do Sapê, no sul de Ubatuba, a gerente da pousada de luxo Temoana, Juliana Netto, diz se esforçar para explicar aos clientes que nem a hospedaria nem a cidade foram atingidas tão fortemente como em São Sebastião, a 77 quilômetros.

“Já tivemos um cancelamento de hóspedes que viriam neste final de semana. Muitos estão pedindo informações. A gente explica a distância, manda fotos, e diz que os estragos aqui foram muito menores”, afirma Juliana Netto de Oliveira, gerente da pousada, que cobra diária média de R$ 900.

Na Pousada Kaliman, na mesma cidade, o gerente Rui Ribeiro usa uma câmera que transmite imagens ao vivo da praia na tentativa de convencer os clientes. “O funcionamento do túnel para subida da serra pela Tamoios também ajuda a acalmar os clientes”, diz. O túnel de 12,5 km, na subida da Serra do Mar, foi inaugurado em março último.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.