As chuvas que atingiram o Rio Grande do Sul durante o mês de maio causaram prejuízos milionários para produtores de uva do estado. De acordo com informações da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater/RS), 500 hectares de videiras foram atingidos pelas enchentes e deslizamentos de terra. Esse número representa pouco mais de 1% dos 46,8 mil hectares de videiras no estado, de acordo com estimativa da IBGE. 

Os produtores de uva não foram os mais afetados pelas fortes chuvas na região, já que a colheita se encerra na metade do mês de março. Porém a principal cooperativa vinícola da região da Serra Gaúcha, a Aurora, afirma que, dos 3 mil hectares administrados por ela, 76 foram impactados pelos deslizamentos ocorridos na região. 

O gerente agroindustrial da companhia, Maurício Bonafé, explicou que 86 produtores, 7,82% dos associados da cooperativa, foram atingidos pelas chuvas e tiveram diferentes níveis de prejuízo. 

“A equipe agrícola está atuando na reconstrução de 75 hectares de vinhedos nos municípios de Bento Gonçalves, Cotiporã, Monte Belo do Sul, Pinto Bandeira, São Valentim do Sul e Veranópolis. Destes, 56 ha tiveram maiores danos, sendo que sete já foram recuperados e 12 ha foram completamente perdidos pelos deslizamentos de terra”, explicou. 

68 hectares que tiveram maiores danos ou foram completamente destruídos não serão produtivos na safra 2025. A cooperativa acredita que isso significará que 2,5 milhões de quilos de uva deixarão de ser colhidos, representando um impacto de 3,5% no volume total recebido pela cooperativa. 

Por conta dessas áreas afetadas, 2025 pode ser o segundo ano de quebra de safra de uva na região. Em 2024, a produção de uvas para industrialização registrou uma queda de 26,58% em relação a 2023, com 485.564.476,63 quilos de uvas viníferas, americanas e híbridas. Os dados foram extraídos do Sistema de Declarações Vinícolas (Sisdevin) da Secretaria da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação (Seapi). Tanto as uvas americanas ou híbridas, utilizadas para sucos e vinhos de mesa, quanto as viníferas, utilizadas para elaboração de vinhos finos, registraram queda no comparativo com a safra anterior, de 24,5% e 41,05%, respectivamente.

Apesar das perdas pelos deslizamentos, impacto na safra ainda é incerto Foto: Eduardo Benini

Recuperação pode custar até R$ 100 milhões e levar quatro anos

De acordo com Bonafé, cada hectare para ser recuperado, somando trabalho de terra e maquinário, pode chegar a custar R$ 200 mil. Fazendo uma conta simples, para recuperar completamente os 500 hectares comprometidos em todo o estado, será necessário um investimento de R$ 100 milhões. Além disso, o engenheiro agrônomo conta que os parreirais levarão cerca de quatro anos para começar a produzir. 

“Nós vamos precisar fazer um trabalho de plantio e de fortalecimento desses parreirais. Levará mais ou menos quatro anos para que a gente recupere totalmente a produção desses locais afetados. Cerca de 1 ano para entrar com maquinário na área devido à instabilidade do solo e mais outros 3 anos até a videira produza com plenitude”, contou. 

Produtor perdeu mais de 4 hectares por deslizamento 

Luciano perdeu 4 hectares no deslizamento de terra em maio Foto: Eduardo Benini

Um dos exemplos das 86 famílias de cooperados da Aurora que foram afetadas pelas chuvas é a família De Mari, de Bento Gonçalves. Durante as chuvas, que chegaram a 1000 milímetros em apenas um dia, a família perdeu 4 dos 11 hectares que tem para o cultivo de uvas. Em alguns casos, produtores chegaram a perder 70% da área produtiva. 

“As chuvas começaram na terça-feira à tarde e na quarta de manhã começaram a aparecer os primeiros pontos de deslizamento. O deslizamento aqui foi na madrugada de quarta para quinta. Saímos daqui na quinta, mas na sexta eu já estava de volta. A casa que moramos não foi atingida, mas a garagem foi invadida pela lama”, explicou Luciano De Mari, que produz em parceria com seu pai, Ilso, e seu tio, Nacir. 

O trabalho de reconstrução dos hectares afetados já começou e a cooperativa está dando apoio para que os produtores recomecem a produção, fazendo desde doação de mudas e de postes de madeira para a sustentação dos parreirais até consultoria técnica e ajuda na elaboração de projetos para financiamento junto ao Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf).

Os impactos nos cooperados da Aurora em números

  •  86 propriedades rurais das 1,1 mil famílias associadas à cooperativa foram atingidas, em diferentes níveis de prejuízos, pelos deslizamentos ocasionados pelas chuvas. O montante representa 7,82% do total de produtores cooperados. Nenhuma área foi alagada;
  •  Nenhum cooperado teve perdas totais dos parreiras, porém, um dos associados chegou a ter 70% do vinhedo levado pelo deslizamento de terra;
  • Custo para reconstrução de vinhedos pode chegar a R$ 150 mil por hectare. Esse custo pode chegar a R$ 200 mil em casos de deslizamentos mais severos, em áreas que necessitam de maquinário para recomposição do solo.

*O jornalista viajou para Bento Gonçalves a convite da Cooperativa Vinícola Aurora