17/03/2022 - 8:01
As chuvas de março fechando o verão de São Paulo trouxeram com elas uma série de alagamentos, quedas de árvores, enchentes e desabamentos ao longo dos últimos dias, ultrapassando logo na primeira quinzena o total esperado para todo o mês. Segundo o Centro de Gerenciamento de Emergências Climáticas (CGE), o volume de água chegou a 178,9 milímetros às 7h da terça, enquanto a média para o período inteiro é de 175,2 milímetros.
Segundo o órgão, a área mais atingida foi a zona leste, a única onde o volume de chuva ultrapassou a marca dos 200 milímetros (201,7 mm) nesta primeira quinzena. A região foi uma das mais afetadas na capital, onde uma obra da Prefeitura fez com que o bairro Artur Alvim sofresse com alagamentos e enchentes atípicos para este período do ano.
Com exceção da zona norte, todo o restante de São Paulo também chegou a registrar chuvas acima da média esperada para março. Como resultado, os alagamentos causaram dificuldades já conhecidas no trânsito, atrapalharam a rotina dos paulistanos e, mais que isso, trouxeram prejuízos financeiros ao invadir casas, lojas e carros. Segundo o Corpo de Bombeiros, foram 44 ocorrências de enchentes e alagamentos, 13 desabamentos e 84 quedas de árvores apenas nos primeiros três dias da semana, entre segunda e quarta-feira.
Proprietário do Bar do Biu, que há 40 anos pertence à família e fica no mesmo ponto da Rua Cardeal Arcoverde, em Pinheiros, Rogério Gomes da Silva conta que sempre ficou alerta em períodos de chuva, mas que os temporais deste ano já trouxeram um prejuízo inesperado de aproximadamente R$ 15 mil. “Cresci no bairro e sempre tivemos problemas com enchente, mas agora piorou porque estão crescendo muitos prédios na região e a Prefeitura não tem feito a limpeza das galerias e do esgoto. A situação vai piorando a cada ano”, relata.
EXEMPLO
Nos últimos 15 dias, o Bar do Biu foi invadido duas vezes pelas cheias. Nas duas ocasiões, foram mercadorias, freezers, mesas e decorações destruídos. “Todo verão temos de ficar alertas. Quando tem chuva forte, alaga. Agora, vamos ter de esperar a chuva parar no mês que vem e consertar tudo. Portas, janelas, parede…”, conta.
Na terça-feira de carnaval, 1º dia do mês, a região teve uma enchente que derrubou os muros e invadiu o interior das casas, carregando tudo o que estava pela frente. “Tem um prédio sendo construído aqui sem nenhum foco para escoar a água. Chamaram a Defesa Civil para analisar a obra e as estruturas, mas disseram que não poderiam fazer nada e só voltariam se alguém aqui morresse”, diz Gomes. Procurada, a Prefeitura não respondeu até 21 horas de ontem.
Do outro lado da cidade, próximo da Estação Artur Alvim do Metrô, Benedito Batista, de 50 anos, conta que a chuva da última segunda-feira levou tudo o que tinha dentro da banca de jornal que ele e os dois irmãos cuidam há 40 anos. Ali, o motivo da enchente foi uma obra realizada pela Prefeitura, que impediu o escoamento da água.
“Foi a primeira vez que a água invadiu dessa forma. Inundou a banca, o lugar todo. O valor exato do prejuízo a gente não sabe ainda, mas perdemos muitas coisas. Copiadora, geladeira, computador, revistas, jornais, tudo…”, lembra Benê. A Prefeitura disse que ele e outros comerciantes da região serão indenizados, mas ainda não contou quando será isso.
Acostumada a gastar 1h40 no trajeto do trabalho, no Morumbi, até sua casa no Itaim Paulista, a analista de sistemas Paloma Gonçalves, de 28 anos, conta que na terça-feira dobrou o tempo de deslocamento na capital paulista. A chuva tinha alterado tanto o fluxo e a lotação dos trens quanto o trânsito na região em que ela pega o ônibus. “Cheguei em casa tão molhada e tão cansada que nem tive forças para assistir à aula do EAD.”
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.