A startup Indigo chegou ao Brasil em 2018, com soluções biológicas para as lavouras. Em 2021, os produtos da empresa cobriram mais de um milhão de hectares, e a meta para este ano é dobrar a área. O País vem se tornando cada vez mais relevante para os negócios da agtech e foi essencial para o crescimento de 1.200% em receita, entre 2018 e 2021. Em 2017, a presença na América Latina era apenas na Argentina. Não foi tão complicado dobrar de tamanho no início, pois as dimensões eram modestas, mas sustentar e acelerar o ritmo de expansão mexeu com a alta liderança e com os planos da empresa.

No final do ano passado, o CEO da Indigo na América Latina, o argentino Dario Maffei, assumiu a cadeira de Chief Business Officer (CBO) global. Na opinião do executivo, a escolha de um latino-americano para esse cargo em uma companhia de origem norte-americana – a matriz fica em Boston, nos Estados Unidos – é sinal de reconhecimento pelos resultados. Maffei diz ter assumido a posição em um bom momento. “Tivemos uma renovação de lideranças e o objetivo da empresa está bem definido”, afirmou.

“Além dos grãos o agricultor pode ter uma safra de carbono” Dario Maffei Indigo (Crédito:Carlos Della Rocca)

O conceito que sustenta esse objetivo é a integração de ciências biológicas e digitais, o que a princípio pode parecer divergente. Mas um dos diferenciais da empresa está exatamente em mostrar o contrário, na teoria e na prática. Até por isso, 30% dos 1 mil colaboradores da Indigo são cientistas. No campo dos biológicos, a startup apresentou recentemente uma linha de alta performance para soja e milho, baseada no micro-organismo Bacillus simplex, um bioestimulante que otimiza o desenvolvimento das plantas mesmo em situações de estresse hídrico. A julgar pelos problemas que os agricultores enfrentaram no ano passado, por conta dos efeitos climáticos, o momento parece oportuno para as novidades.

De acordo com Maffei, a empresa tem em Boston mais de 70 mil bactérias que são avaliadas, testadas e, após a confirmação de seu potencial, podem ser adequadas geograficamente. Assim garantem resultados mais positivos na região onde realmente serão aplicadas, como Estados Unidos, Europa ou América Latina. “Trabalhamos com micro-organismos que já estão nas plantas, então as soluções podem ser usadas em qualquer lugar onde são cultivadas. O que muda é só a legislação de cada local”, disse.

DIGITAL Para contribuir em outras frentes com o produtor, a empresa tem também o AgFinance, primeira conexão entre a ciência biológica e a tecnologia digital. Criado há quatro anos, ajuda o agricultor a financiar insumos para suas lavouras, e com atenção às peculiaridades de quem lida com fábrica a céu aberto. Segundo Maffei, oferecer crédito a um produtor é muito diferente de atender outros segmentos. “Também somos cuidadosos ao escolher os investidores, sobretudo os que não queremos.”. Em 2021, foram R$ 400 milhões em créditos via operações de barter. Para este ano, a estimativa é chegar a meio bilhão de reais.

Há ainda outra frente. Essa relacionada a novas linhas de receita e sustentabilidade. “Somos a primeira empresa do agro a pensar que além dos grãos o agricultor pode ter uma safra de crédito de carbono”, disse Maffei. O pacote tecnológico aumentou e ficou ainda mais integrado. Os bioinsumos, que podem ser adquiridos com financiamento, reforçam as práticas agrícolas mais sustentáveis e aumentam as possibilidades de ter créditos de carbono para negociar. “A grande vantagem do agro é que além de abater as emissões pode sequestrar”, afirmou.

O programa Carbon by Indigo, anunciado globalmente, fechou sua primeira safra de créditos de carbono agrícola certificados. São 20 mil créditos, com valor de US$ 40 cada, que resultaram do trabalho de 175 agricultores em mais de 40,5 mil hectares, entre 2018 e 2020. Por se tratar de um segmento novo, o horizonte para avançar é amplo. O programa atua no mercado voluntário e ainda não chegou à América Latina. Pode estar disponível a partir de 2023, mas ainda é apenas uma expectativa. O que já está sendo apresentado no Brasil é o Market+, aplicativo de comércio digital lançado em janeiro nos Estados Unidos para atender agricultores, cooperativas, compradores, processadores e marcas de consumo. O segmento de marketplace está aquecido no agro nacional, mas é necessário habilidade para equilibrar os muitos fatores dessa equação. “Vivemos um momento único com juros altos; dólar caindo, mas nem tanto; commodities em alta, mas insumos também; e ainda temos a guerra na Ucrânia. Precisamos ficar de olho em tudo isso”, afirmou Maffei.