Em dezembro do ano passado, durante a COP 21, a conferência sobre o clima realizada em Paris, agricultores do mundo inteiro colocaram na mesa propostas para reduzir o aquecimento global e, assim, ajudar a controlar as intempéries que têm gerado problemas em todos os cantos do planeta. Na Indonésia, por exemplo, as mudanças climáticas alteraram totalmente o cronograma de plantio de várias culturas. Os períodos de chuva, que antigamente duravam de outubro a abril, tornaram-se imprevisíveis. O mesmo acontece na África, na América Central, na Europa… E o Brasil não está de fora. Por aqui, o excesso de chuva – e a falta dela – tem atrapalhado o ritmo de colheita de soja em vários Estados do País e prejudicado a qualidade do grão. No início de janeiro, na região Centro-Oeste, principalmente na área médio-norte de Mato Grosso, onde há muito tempo não se ouvia falar em problemas climáticos, a quebra de safra era dada como certa devido à falta de chuvas no plantio e excesso, agora, na colheita. “A perda é certa na região médio-norte do Estado, que corresponde a um terço da produção mato-grossense”, diz o economista Daniel Latorraca Ferreira, superintendente do Instituto Mato-grossense de Economia Aplicada (Imea). “A quebra da safra nessa região do Estado chegará a 300 mil toneladas.”

Por todo o País, a reviravolta do tempo fez com que os números da Companhia Nacional de abastecimento (Conab) fossem revisados para baixo, no mês passado. A produção estimada de soja no País saiu de 102,1 milhões de toneladas, em janeiro, para 100,9 milhões de toneladas. Apesar de representar um crescimento de 4,9% em comparação com as 96,2 milhões toneladas colhidas na safra 2014/2015, não há motivo para comemorar. Segundo o economista e pesquisador do Lucilio Alves, do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada de Piracicaba, no interior de São Paulo, além de interromper o ritmo de colheita, as chuvas têm gerado preocupações com a má qualidade da produção. “Os fazendeiros estão receosos principalmente sobre a qualidade do grão que terão para ofertar e estão preocupados com o preço baixo”, diz Alves. O Paraná é um exemplo disso. Dos 5,3 milhões de hectares cultivados com a soja, cerca de 3% ou 16 mil hectares estão em condições ruins segundo o Departamento de Economia Rural, ligado à Secretaria de Agricultura do Estado. No final de fevereiro, a cotação da saca de 60 quilos era de R$ 72, uma queda de 7,8% em relação ao início de janeiro, de acordo com o Cepea.


“A perda é certa na região médio-norte do Estado, que corresponde a um terço da produção mato-grossense” Daniel Ferreira,
superintendente do Imea

Mas, por incrível que pareça, a turbulência climática tem trazido boas notícias para alguns produtores. Mesmo em Mato Grosso, onde na região médio-norte há perdas, algumas áreas têm ganhado com a variação do clima. Lugares que antes não rendiam boa produtividade passaram a garantir. “A região sudeste é o exemplo disso”, diz Ferreira. O rendimento da safra saltou 2,6%, chegando a 3,2 toneladas por hectare. Outro destaque é a região oeste mato-grossense que cresceu 2,4%, registrando a maior colheita de soja por área plantada: 3,25 toneladas por hectare. Um dos motivos da redenção da safra no Estado é sua área de cultivo 2% maior em relação à safra passada, que totaliza 9,2 milhões de hectares plantados, que garantirá uma produção de 28,5 milhões de toneladas. “Já colhemos mais da metade da área plantada”, diz Ferreira. O clima, entretanto, ainda é de tensão.