Entenda por que produtores estão abrindo mão de investir na compra de máquina e resolvendo terceirizar

a colheita de suas propriedades

TER UMA ESTRUTURA PRÓPRIA PARA PLANTAR E COLHER REQUER ADMINISTRAR UMA SÉRIE DE CUSTOS QUE PODEM NÃO SER COMPENSADORES

Para viabilizar sua produção de soja no município de Cruz Alta, no Rio Grande do Sul, o produtor Ercílio Macagna adotou uma medida diferente da grande maioria dos produtores rurais. Em sua propriedade de pouco mais de 250 hectares, ele não mantém nenhum funcionário e também não é dono de nenhuma máquina. Pela terceira safra, para plantar, pulverizar e colher sua produção ele recorre a empresas que prestam esse tipo de serviço. Ou seja, o sojicultor, a exemplo do que fazem várias empresas de outros setores, terceirizou as operações da sua fazenda e garante que, com isso, aumentou seus ganhos. “Minha área é pequena e meu rendimento não comportaria um investimento em uma máquina”.

O caso de Macagna ilustra bem como a terceirização, que até pouco tempo atrás se resumia a produtores que alugavam suas máquinas para seus vizinhos, tem se profissionalizado e se tornado uma boa opção de modelo de produção para pequenos e médios produtores, que não precisam arcar com encargos trabalhistas e manutenção de máquinas. Uma economia que, em alguns casos, pode chegar a 15% do custo de produção. Para Macagna, que possui uma produtividade média de 30 sacas por hectare, a opção por terceirizar possibilitou a rentabilidade de seu negócio. “Mesmo não tendo uma produtividade alta, como meu custo é menor eu tenho um retorno muito bom. Não tenho prestação de máquina nem salários para pagar”, ressalta o produtor.

CELITO MISSIO: abriu uma empresa e agora presta serviços de colheita no oeste baiano

De acordo com Severino Folador, que há quatro anos possui uma empresa de terceirização no Paraná, esse tipo de operação pode ser vantajoso, principalmente para pequenos e médios produtores. “Para quem cultiva até 600 hectares em apenas uma região do Brasil, ter uma máquina para operar somente 40 dias no ano e ficar os outros 11 meses com ela parada é um custo alto.” Folador, que também é produtor de soja no Paraná, estima que o custo médio de uma máquina, considerando mãode- obra, taxas de juros de financiamento e manutenção, seja de R$ 100 mil ao ano. Já no caso da terceirização, estipulando um pagamento médio de 2,5 mil sacas pelo serviço, a um preço médio de R$ 35 a saca, o produtor gastaria cerca de R$ 87 mil. “Uma máquina custa em média R$ 600 mil. O produtor precisa pôr na ponta do lápis. Em muitos casos sai mais barato pagar a colheita do que possuir uma máquina. Além disso, o valor que seria colocado em uma máquina pode ser redirecionado para outros fins”, pondera.

A DIFERENÇA DE CUSTOS PODE CHEGAR A 15% EM FAVOR DAS EMPRESAS TERCEIRIZADAS E LIVRAR PRODUTORES DE UMA SÉRIE DE CUSTOS E ENCARGOS

A forma de pagamento por esse tipo de serviço varia de acordo com a região. Em alguns casos fica acordado um valor fixo por hectare. Mas o mais comum é que a empresa prestadora de serviço fique com uma parte da produção, como explica Celito Missio, produtor de algodão em Luiz Eduardo Magalhães (BA), que há oito anos presta serviços de colheita no Estado. “Trabalhamos em regime de parceria, ou seja, ficamos com 6% a 8% do que é colhido. O cálculo é feito sobre uma produtividade média. Se a produtividade for maior, então a porcentagem é menor.” No caso de Ercílio Macagna, ele paga pelo serviço de plantio uma média de R$ 60 por hectare e R$ 24 para pulverização. Já no caso da colheita, o pagamento é feito sobre um percentual.

Embora se mostre uma alternativa rentável, a terceirização também requer cuidados para não trazer dor de cabeça ao produtor. “Muitos produtores temem terceirizar e correr o risco de não ter a máquina quando ele precisar. Em parte é um temor com fundamento, por conta das iniciativas amadoras que existiam nesse setor”, conta Rafael Jobim, proprietário da Agroservice, empresa que há quatro anos se especializou em serviços de colheita, plantio e pulverização. Segundo Jobim, é importante que o produtor, ao optar pela terceirização, tenha um cronograma rigoroso e verifique a disponibilidade de empresas na região onde planta. Ele acredita no crescimento desse tipo de serviço. “Esse cresceu muito. Na safra 2006/2007 fizemos uma área de 1.115 hectares de colheita. Já na safra 2007/2008 o numero praticamente dobrou para 2.200 hectares de colheita.”