A  marca registrada do grupo Takaoka, dirigido pelo engenheiro civil Marcelo Takaoka, é a construção de grandes empreendimentos imobiliários, sempre com muito luxo e requinte. Entre os mais recentes está o shopping Iguatemi Alphaville, na região metropolitana de São Paulo, obra avaliada em R$ 180 milhões.

O que pouca gente sabe é que desde 2005 a Takaoka também produz milho, mandioca, feijão e banana, mas em um nicho pouco explorado pelos grandes empresários urbanos que têm um pé no campo, o de produtos orgânicos. Com uma década de atuação no setor, o fazendeiro, nos últimos anos tem refinado o seu negócio ao aumentar as fichas na produção de milho orgânico, filão identificado com maior potencial de crescimento. “O cultivo de orgânicos, principalmente de milho, tem se encaixado bem nas políticas da empresa”, diz Takaoka.

A Takaoka Agropecuária está sediada em Iaras, na região de Avaré, no Oeste de São Paulo, e tem quatro mil hectares de área. Desse total, os orgânicos ocupam 200 hectares com as quatro culturas, e os demais estão arrendados para o plantio de cana-de-açúcar. A produção da fazenda é de 700 toneladas de orgânicos, dos quais 490 toneladas são de milho, que ocupam uma área de cerca de 160 hectares. De acordo com Denis Corazza Moura Drummond de Almeida, diretor do grupo e responsável pela fazenda, a amplianção do cultivo de milho, que nos últimos saltou para quase 80% da área destinada aos orgânicos, vem fazendo com que a gestão do negócio entre nos eixos. Antes a área era ocupada por árvores de frutas, como goiaba, atemoia, ameixa nectarina e pêssego. “Vimos que o mercado do cereal orgânico é mais atrativo, porque pode se destinar tanto à alimentação humana quanto à animal”, diz Almeida. Para a alimentação animal, a Takaoka é fornecedora de milho seco ao grupo Korin, líder no País na produção de frangos e ovos orgânicos.


Gosto em comum: A  aposentada Virgínia Paniguel que vai toda semana ao Walmart comprar milho orgânicos da Takaoka


Chao Liu, presidente da Organics Brasil

Para o consumo humano, o milho verde, somado à mandioca, ao feijão e à banana são enviados a grandes redes varejistas, como o grupo francês Carrefour, e o americano Walmart, que desde 2013 desenvolve uma estratégia para dar maior visibilidade aos produtos orgânicos em suas lojas. Neste ano, por exemplo, a rede readequou as gôndolas do setor de hortifruti e sinalizou a área para que o consumidor perceba com mais facilidade os produtos expostos.  A mudança agradou os consumidores, como a aposentada Virgínia Paniguel, de 68 anos, que duas vezes por semana faz compras no Walmart. “Sou vegetariana há 40 anos e por isso gosto de ver essas mudanças”, diz Virgínia. “Entre os produtos que levo para casa, sempre está o milho da Takaoka.” Almeida não diz quanto o grupo fatura com os produtos orgânicos, mas é possível ter uma ideia do tamanho negócio. No Walmat, por exemplo, o milho da Takaoka é vendido por R$ 11 o quilo, cerca de 40% acima do milho convencional. 

O mercado interno de produtos orgânicos deve movimentar R$ 2,6 bilhões neste ano, no País, 30% acima de 2014, de acordo com a Organics Brasil, entidade com foco no mercado externo, que reúne 41 empresas produtoras ou processadoras de orgânicos e dez cooperativas de produtores. Nas exportações, a receita do setor chegou a US$ 136 milhões, no ano passado, 4,5% acima de 2013. Segundo o presidente da entidade, Ming Chao Liu, a crise econômica pela qual o Brasil atravessa não atingiu o setor porque o cliente de orgânicos não troca de produtos. “Nos últimos anos, o desempenho dos orgânicos foi crescente e achamos que o setor vai continuar assim”, diz Chao Liu. 

Segundo a Federação Internacional de Agricultura Orgânica (Ifoam), o Brasil ocupa a décima posição entre os países em extensão de terras de agricultura orgânica. São 12 mil produtores que possuem 800 mil hectares registrados no Cadastrado Nacional do Ministério da Agricultura (Mapa). Embora essa área corresponda a apenas 0,27% do total cultivado no País, a expectativa é de que ela cresça nos próximos anos. De acordo com o engenheiro agrônomo Rogério Dias, coordenador de agroecologia do Mapa, os orgânicos podem chegar a mais de 1,6 milhão de hectares dentro de cinco anos. “Nos últimos tempos presenciamos a consolidação do setor de orgânicos, algo que era considerado modismo no Brasil”, afirma Dias. “Isso ficou para trás faz muito tempo”.

Para acompanhar esse crescimento e monitorar o mercado interno, será criado, até o final do ano,  o Conselho Brasileiro de Produção Orgânica e Sustentável (Organis). O movimento é comandado por Chao Liu e tem por objetivo a aproximação de todos os setores da cadeia produtiva. “Já existe uma Câmara Setorial de Orgânicos, instalada no Mapa, mas queremos ir além”, diz. De acordo com Dias, que também participa desse movimento, a Organis será uma entidade da sociedade civil com o objetivo de complementar as ações da Câmara Setorial. O grupo envolvido no projeto Organis conta com nomes de peso, entre eles o ex-ministro da Agricultura Roberto Rodrigues, Sandra Caires Sabóia, do Grupo Pão de Açúcar, Fabio Ramos, da consultoria Agrosuisse, Vilmar Gadens, da empresa Mate Triunfo, Leontino Balbo Júnior, da Native Orgânicos, e também Marcelo Takaoka.


“O cultivo de orgânicos tem se encaixado bem na nossa política” Marcelo takaoka, presidente do grupo Takaoka