03/09/2020 - 10:00
No último domingo, centenas de pessoas se reuniram na entrada do SEGA Akihabara 2nd Arcade, uma das mais icônicas galerias de fliperamas de Akihabara e, por consequência, do Japão. O motivo: despedirem-se do empreendimento de oito andares, localizado em Akihabara, bairro comercial de Tóquio, que fechava definitivamente as portas naquele dia. O prédio era um dos símbolos mais icônicos do distrito considerado a meca dos fãs de videogames e desenhos animados japoneses. Localizado no coração do bairro, no início da Chuou-Dori, principal avenida da região, o SEGA Akihabara 2nd Arcade ficava bem próximo da estação central de Akihabara, ponto de baldeação para cinco linhas diferentes de trem e metrô.
É verdade que o mercado de arcades (fliperamas) caiu muito nos últimos anos no Ocidente. A plataforma na qual surgiram os primeiros videogames nos anos 1970/ 80 acabou perdendo espaço frente aos consoles caseiros, desde o advento do Atari 2600, em especial a partir do Famicom da Nintendo. Por um tempo, ainda nos anos 1990, os fliperamas ainda atraiam um bom público por conta da qualidade técnica, bastante superior à encontrada nos diminutos consoles.
Todavia, desde a sexta geração de consoles (PS2/Xbox/Gamecube/Dreamcast), os jogadores já podiam usufruir de cópias fiéis, e até melhoradas, de suas contrapartes das galerias de arcade. Tudo isso a um preço fixo justo, sem limite de tempo, e no conforto da nossa casa. Os arcades também serviam como ponto de encontro de fãs de videogames, um espaço comum de conhecimento e convívio de jogadores. Era uma oportunidade para disputar com um amigo, vangloriar-se como exímio jogador, e até participar de campeonatos. O EVO, um dos mais populares campeonatos de esporte eletrônico do mundo, começou exatamente em um local como esse, o Golfland USA Arcade, na Califórnia, em 1996.
Esse espaço de socialização, no entanto, seria substituído pela internet, em especial os servidores online de competição amadora, e até profissional, acessíveis em qualquer videogame comercializado atualmente. Os smartphones também vieram para suprir aqueles momentos de tédio em que você precisa matar tempo na rua, tirando muitos potenciais jogadores dos arcades.
O resultado a gente viu aqui mesmo no Brasil. Quem tem 30 anos ou mais deve lembrar dos centros de fliperamas tão comuns em qualquer shopping, no início dos anos 1990, muitos deles fornecidos pela DiverBras, empresa ainda atuante no Brasil. Hoje, é raro encontrar espaços assim e, quando os encontramos, costumam contar com poucos exemplares de jogos. Quando muito, oferecem sobras de arcades populares nos anos 1990, como Daytona USA, Top Skater e The House of the Dead.
No Japão, essa tendência vem acontecendo a passos muito mais lentos. Nos anos 1980, havia cerca de 44 mil galerias de fliperamas espalhadas pelo arquipélago japonês, segundo dados da Japan Amusement Industry Association reportados em uma matéria especial do jornal britânico Finantial Times. Em 2017, já havia estimativas de que esse número havia baixado para 14 mil.
Não é incomum a gente se deparar com pequenas e grandes galerias de fliperama pelas ruas do Japão, principalmente nos grandes centros comerciais de Tóquio, Osaka ou Nagoya. Os motivos seriam o apego a tradições, com muitos desses espaços sendo reverenciados e tratados como verdadeiros pontos turísticos. Os donos dos principais centros de arcades do Japão são empresas desenvolvedoras de fliperamas como SEGA, TAITO e Namco. Além disso, o povo japonês é mais receptivo a novas formas de gameplay, muitas delas difíceis de replicar, ou muito custosas em consoles. O uso de múltiplas telas, tambores, movimentos ou tapetes de danças são algumas das experiências que surgiram primeiro nos arcades japoneses, antes de serem replicados em consoles caseiros.
No momento, as galerias de arcades no Japão precisam lidar ainda com outro obstáculo: a pandemia do novo coronavírus (covid-19) que, como sabemos, nos impõe isolamento social e coloca espaços como o SEGA 2nd Akihabara como um lugar arriscado: os corredores apertados e sem janelas oferecem alto risco de disseminação do vírus. Os turistas, claro, também sumiram. Mas os japoneses e estrangeiros ainda têm muitas opções de fliperamas para se divertir em Akihabara. Só a SEGA tem outros quatro empreendimentos nos arredores, entre outras dezenas (senão centenas) de unidades espalhadas pelo país.