22/02/2021 - 15:10
A seleção brasileira paralímpica de judô está reunida desde a última sexta-feira (19) no Centro de Treinamento (CT) Paralímpico, em São Paulo. A primeira das seis fases de preparação previstas em 2021 até os Jogos de Tóquio (Japão) marca, também, a volta da delegação ao CT após quase um ano. A ausência foi devida ao fechamento do espaço entre março e junho de 2020 por conta da pandemia do novo coronavírus (covid-19). A reabertura do local a outras modalidades – que não tênis de mesa, natação e atletismo – ocorreu somente a partir de fevereiro.
“A convocação, sem dúvida, é muito importante para verificarmos a condição de cada atleta e avaliá-los. É uma concentração chave. Estamos trabalhando com este grupo há um tempo e os atletas [convocados] são aqueles que estão brigando por vaga ou se garantiram nos Jogos”, explica o técnico Jaime Bragança.
Desde o início da pandemia, os judocas passaram a ser monitorados à distância, com treinos e atividades prescritos pela comissão técnica da Confederação Brasileira de Desportos de Deficientes Visuais (CBDV), adaptados à realidade dos atletas nas respectivas cidades e casas. O período efetivamente longe do tatame e sem competir, como não poderia ser diferente, teve impacto na parte física.
“Tivemos a possibilidade, em outubro do ano passado, de uma retomada de treinos com atletas da seleção brasileira que moram em São Paulo. Conseguimos autorização da prefeitura, que baixou um decreto liberando esportes de alto rendimento. Avaliamos esses atletas e observamos quase 40% de perda de força e potência muscular. [Perda] Muito grande realmente. Com base nos dados, temos feito um trabalho para recuperação dessas capacidades físicas”, detalha o treinador.
Rumo à Tóquio
Treze judocas participam da fase de treinos que vai até domingo (28). Onze podem representar o Brasil em Tóquio, no limite de um atleta por categoria. No masculino, os medalhistas parapan-americanos Thiego Marques (até 60 quilos) e Luan Pimentel (até 73 quilos) ainda precisam confirmar as respectivas vagas. Harley Pereira (até 81 quilos), Arthur Cavalcanti (até 90 quilos), o tetracampeão paralímpico Antônio Tenório (até 100 quilos) e Willians Araújo (acima de 100 quilos, prata nos Jogos do Rio de Janeiro em 2016) estão garantidos.
No feminino, as medalhistas paralímpicas Lúcia Teixeira (até 57 quilos) e Alana Maldonado (campeã mundial até 70 quilos) já têm lugar assegurado na próxima Paralimpíada, enquanto a campeã parapan-americana Giulia Pereira busca uma vaga entre as judocas até 48 quilos. Em dois pesos, há uma intensa disputa interna para representar o país. Até 52 quilos, a briga é entre a experiente Karla Cardoso, duas vezes medalha de prata nos Jogos, e Maria Núbea Lins, que está no primeiro ciclo de seleção e foi bronze por equipes no Mundial de 2018, em Portugal. Ambas, porém, ainda estão fora da zona de classificação.
A competição mais acirrada é na categoria acima de 70 quilos, entre Meg Emmerich e Rebeca Silva, terceira e quarta colocadas, respectivamente, do ranking da Federação Internacional de Esportes para Deficientes Visuais (IBSA, sigla em inglês). Menos de 200 pontos as separam. A diferença pode ser eliminada (ou dobrada) em um único torneio. Se o país pudesse ter mais de uma representante por peso nos Jogos, as duas estariam garantidas em Tóquio.
“É uma categoria que nos deixa feliz. Queríamos que todas estivessem assim. A posição no ranking, é claro, contará bastante. Tem a questão do confronto direto contra os principais adversários internacionais, que a gente observa bastante, além de critérios físicos e técnicos. Elas vêm de resultados interessantes e importantes, brigam sempre por medalhas na Copa do Mundo. São fortíssimas”, diz Jaime.
De qualquer forma, a expectativa é que o Brasil tenha uma renovação significativa em relação à delegação que esteve na Paralimpíada do Rio, com quatro a cinco estreantes.
“A seleção brasileira passa por um processo de renovação contínuo. A gente sempre oportuniza aos jovens que aparecem nas competições nacionais e nos clubes que possam treinar e competir internacionalmente. Temos algumas categorias com atletas mais experientes, mas a maioria tem judocas jovens. Isso faz com que a equipe tenha uma média de idade baixa, Agora, isso [estar nos Jogos] depende dos atletas, de eles se dedicarem”, destaca o técnico, que integra a delegação desde 2009.
Desafio em vista
Por causa da pandemia, as etapas do circuito mundial que definiriam os classificados para Tóquio haviam sido suspensas. Uma já está remarcada: o Grand Prix de Baku (Azerbaijão), entre 24 e 25 de maio. O Grand Prix de Nottingham (Inglaterra) estava previsto para abril, mas foi novamente adiado e ainda não tem uma nova data confirmada. O judô brasileiro não compete desde fevereiro do ano passado, quando disputou o Aberto da Alemanha. Um mês antes, marcou presença no American Championship, que é equivalente ao Campeonato Pan-Americano da modalidade, no Canadá.
“Ainda aguardamos a confirmação, mas temos notícia de que o torneio da Inglaterra deverá ser confirmado para junho. Isso é bom para os atletas que já estão confirmados terem a experiência de lutar, que é importante na preparação, e para quem ainda não adquiriu vaga somar os pontos necessários para ir aos Jogos”, finaliza Jaime.
O judô rendeu 22 medalhas ao Brasil na história paralímpica, atrás somente de atletismo e natação em número de pódios. São quatro ouros (todos com Antônio Tenório), nove pratas e nove bronzes. Na Rio 2016, a delegação brasileira alcançou quatro pratas, com Tenório, Lúcia Teixeira, Alana Maldonado e Willians Araújo.