O caixa das fintechs brasileiras não para de receber dinheiro novo. Uma semana depois de o Nubank anunciar uma rodada de investimento de US$ 750 milhões, a curitibana Ebanx, que atende a gigantes como Spotify, AliExpress, Shopee e Uber, anunciou nesta terça, 15, que recebeu um cheque de US$ 430 milhões (R$ 2 bilhões) do fundo de private equity americano Advent, um dos mais ativos no mercado brasileiro.

O investimento será fatiado: US$ 400 milhões agora e um comprometimento de investimento de outros US$ 30 milhões no momento da oferta inicial de ações (IPO, pela sigla em inglês) da companhia, estimada para ocorrer em aproximadamente um ano.

Segundo o presidente executivo do Ebanx, João Del Valle, os novos recursos vão apoiar a trajetória de crescimento da companhia e sua rota de expansão – entre os planos está na mira da startup atrair talentos e fazer aquisições na América Latina. Apesar de não haver até aqui uma data fechada para o IPO, que ocorrerá nos Estados Unidos, a empresa já está debruçada sobre os preparativos. “Em termos de indicadores financeiros, já preenchemos todos os requisitos”, disse.

O executivo lembrou que a startup, desde sua fundação, se preocupou o em buscar os clientes antes de atrair investidores – decisão que garantiu, de largada, a lucratividade. “Somos uma empresa com saúde financeira e rentável”, disse.

Segundo a Advent, esse foi o maior investimento que a gestora já realizou em uma empresa latino-americana de tecnologia. “O Ebanx é uma das empresas mais impressionantes que conheci nos últimos 20 anos”, disse, em nota, Mario Malta, sócio do fundo e responsável por investimentos em serviços financeiros na América Latina.

Não foi divulgada qual a avaliação da fintech de Curitiba após o novo recurso. O Ebanx atingiu status de “unicórnio” (ou seja, foi avaliado em mais de US$ 1 bilhão) em outubro de 2019, após aporte de valor não divulgado do fundo FTV Capital. Desde então, não revelou mais o seu tamanho.

História

Fundada em 2012, o Ebanx ficou conhecido por ajudar plataformas estrangeiras a venderem no Brasil com pagamentos em moeda local. Desde 2015, investe em um projeto de internacionalização robusto, começando com México, Colômbia, Argentina, Chile, Peru, Uruguai, Bolívia e Equador. Em outubro de 2020, anunciou expansão para cinco novos mercados: Panamá, Costa Rica, República Dominicana, Guatemala e Paraguai.

Para Renan Schaefer, diretor executivo da Associação Brasileira de Fintechs (ABFintechs), o aporte é um voto de confiança na expansão internacional das startups brasileiras. “A aceleração do Ebanx só consolida a capacidade que as empresas do País têm de desenvolver soluções tecnológicas competitivas em mercados globais”, afirmou.

Rumo à bolsa

A exemplo de outras companhias brasileiras do setor de pagamentos, o Ebanx planeja abrir capital nos EUA, possivelmente na bolsa de tecnologia Nasdaq – mesmo movimento feito pelas empresas PagSeguro e Stone, avaliadas em US$ 17,5 bilhões e US$ 19,8 bilhões, respectivamente.

Segundo dados da empresa de inovação Distrito, as fintechs brasileiras receberam mais de US$ 1,8 bilhão em aportes ao longo de 2020 – em 2019, o total foi de aproximadamente US$ 1 bilhão. É o setor mais forte do ecossistema de inovação brasileiro: no ano passado, as fintechs receberam mais da metade do volume total investido em startups brasileiras.

“Há muito dinheiro nesse mercado. O potencial é muito grande para as fintechs que estiverem bem posicionadas e preparadas para resolver as dores desse setor”, afirmou Schaefer, da ABFintechs.

Além disso, com o fortalecimento do mercado de fintechs também se acirra a competição no setor financeiro brasileiro, disse Newton Campos, pesquisador do Centro de Estudos em Private Equity da Fundação Getúlio Vargas (FGV). “Essas startups apoiadas por fundos cada vez mais gordos tendem a comer o mercado dos grandes bancos pela beirada”, disse.

Cheques gigantes

O novo aporte do Ebanx é o quinto maior já realizado em startups da América Latina, segundo a Distrito. O Nubank lidera o ranking com a rodada de US$ 1,15 bilhão, fechada na semana passada. Em seguida, vêm a startup colombiana de entregas Rappi e a brasileira Loft, que levantaram, respectivamente, US$ 1 bilhão e US$ 525 milhões. A mexicana de carros usados Kavak ocupa o quarto lugar da lista, com aporte de US$ 485 milhões. Desses, apenas o da Rappi não aconteceu em 2021.

Neste ano, além dos aportes do Nubank e da Loft, a startup de entregas Loggi levantou investimento de US$ 212 milhões em fevereiro, mirando expandir nacional. Em maio, o QuintoAndar recebeu US$ 300 milhões, de olho na disputa pelo mercado imobiliário e com o plano de entrar no México.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.