O agronegócio brasileiro é, de fato, uma potência, além de contar com ampla diversificação de cultivos e criações. O país, que detém o maior rebanho bovino do mundo e é referência global em avicultura, agora enxerga na criação de rãs uma nova oportunidade para gerar renda no campo.

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Segundo um estudo da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste), o Brasil é o segundo maior criador de rãs do mundo, ficando atrás de Taiwan. Mas existe uma diferença importante: na Ásia, as criações são semi-intensivas e os animais são criados soltos. Muitos são retirados da natureza. Já no Brasil, é adotado um sistema de confinamento, os ranários.

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Apesar desta posição, a produção ainda é pequena. Estima-se que a demanda seja três vezes maior que a oferta. Existe um crescente interesse culinário que tem impulsionado a demanda por produtos da ranicultura, criando um mercado promissor para os produtores rurais. O quilo da carne de rã costuma ser vendido por um valor médio de R$ 70 a R$ 80.

Ranário do produtor rural (Reproduçao)

Além disso, a ranicultura oferece outra vantagem: a possibilidade de otimizar o uso do espaço na propriedade rural. A criação de rãs não exige grandes áreas e pode ser realizada em locais relativamente pequenos, desde que tenham uma estrutura adequada.

Em 2006, o produtor rural Célio Venturelli, da cidade de Matão, no interior de São Paulo, viu na criação de rãs uma oportunidade para lucrar no agro. Atualmente ele possui um ranário com capacidade para confinar até 100 mil rãs, lucrando em média meio milhão de reais anuais apenas com a ranicultura.

“Vale muito a pena. É um dos setores do agronegócio que possui mais rentabilidade. Você cria muitos animais em um espaço pequeno”, conta Venturelli, que reforça que, ao vender a carne do animal, os lucros aumentam ainda mais. 

O negócio do produtor envolve diversas etapas da cadeia da ranicultura, desde a reprodução até a venda do produto final, como:

  • Reprodução e gerinagem – Realiza a desova, eclosão e cria os girinos até virarem imagos (rã jovem).
  • Venda de rãs vivas (imagos) – Vende a rã jovem para outros criadores que fazem apenas a fase de engorda
  • Engorda – Cria as rãs até o ponto de abate
  • Abate e processamento – Insensibilização (para que não sintam dor), Sangria (esgotar o sangue evitando contaminações), Evisceração (remoção de vísceras, cabeça e outras partes não consumidas.
  • Venda de carne de rã – Vende para restaurantes, peixarias e casas de carnes nobres.

Venturelli cria rãs da espécie touro gigante (Lithobates catesbeianus), a mais comum entre todas que são consumidas por seres humanos.

Regulamentação da criação de rãs

No Brasil, para exercer a ranicultura, os criadores devem seguir uma série de regulamentações. Trata-se de um animal exótico sujeito a um forte controle por parte das autoridades agrícolas e ambientais.

Os criadores precisam se registrar no Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). Este registro é fundamental para garantir que a atividade seja realizada de forma sustentável e em conformidade com as normas ambientais vigentes. Também é necessário obter uma licença de produtor rural junto ao Ministério da Pesca e Aquicultura.

Os desafios

A ranicultura ainda não está totalmente difundida na cultura brasileira, seu consumo ainda se restringe majoritariamente a restaurantes especializados, hotéis de luxo e mercados gourmets.

Mas, segundo o produtor contou à Dinheiro Rural, o que mais vem atrapalhando o desenvolvimento do setor são os custos com a ração dos animais. A ração específica para rãs ainda não existe no mercado, então o animal precisa consumir ração de peixe carnívoro, que não é ideal e tem custo elevado. Em média, 1 kg desse tipo de ração pode custar entre R$ 170 e R$ 229

“O que atrapalha é que não tem muita pesquisa para ranicultura, não tem fábrica de ração específica para rã, não existe uma ração específica no mercado. A rã só cresce com muita proteína. Ração de tilápia não podemos dar. Precisa ser de pintado, truta, que naturalmente tem um preço mais caro”, explica. 

*Estagiário sob supervisão