O Brasil caminha a passos lentos na evolução genética de seu rebanho bovino, mesmo sendo um dos atores principais desse setor na cena global. Há ainda um longo caminho a ser percorrido e, nessa questão, a bovinocultura de corte se apresenta bem defasada frente ao seus principais concorrentes, o frango e o suíno, onde já se usa heterose e maior complementaridade entre raças há mais de 40 anos.

Se estimarmos esse atraso, já pode custar milhões em oportunidades desperdiçadas. Vejamos o caso dos Estados Unidos, que possui um rebanho de 88 milhões de cabeças e produz 11 milhões de toneladas de carne por ano. Enquanto o Brasil tem um rebanho de 208 milhões de cabeças e produz apenas nove milhões de toneladas de carne, um desfrute de 20%.

Essa vantagem dos Estados Unidos se deve, entre outros fatores, a melhoria genética que vem sendo aplicada. Existe uma forma simples e fácil de aumentar bastante a produtividade do rebanho ao alcance do pecuarista brasileiro, que são os compostos multirraciais.

O desenvolvimento do animal composto veio para dar rumo aos pecuaristas que estavam cruzando tudo com tudo, e obtendo sucesso e fracasso na mesma proporção. Os produtores conseguiam os benefícios desejados apenas na primeira geração (F1), não os mantendo nas gerações seguintes. A solução para isso veio através do desenvolvimento do animal composto multiracial, que recebeu esse nome por ser necessário ter a contribuição de, no mínimo, três raças em sua composição, sempre com o objetivo de manter um mínimo de 75% da heterose de um F1.

Por que acredito no composto multirracial como o gado do século 21? Simples, ele traz a oportunidade de se obter o que mais é almejado na pecuária e em qualquer outro ramo: maior lucro, com simplicidade do manejo e padronização
do rebanho.

Mas, por que dá mais lucro? Porque produz mais por hectare. Índices de prenhez em torno de 90%, aproximadamente 8% a mais do que raças puras apresentaram em todos os nossos anos de atuação na pecuária. Aos 14 meses de
idade, as novilhas apresentam prenhez acima de 70%, e taxa de reconcepção da primípara de dois anos acima de 80%. Desmamamos bezerros acima de 230 kg sem creep feeding (suplementação). Machos chegam ao ponto de abate antes dos 2 anos de idade. Além da alta qualidade da carne, que pode se encaixar em diversos programas de bonificação por qualidade.

E por que é mais fácil de manejar? Basta colocar o touro composto em qualquer raça de vaca, e continuar usando daí em diante. Como citado, outros cruzamentos só conseguem as melhorias genéticas na F1, a partir do F2 perdem
heterose e sofrem segregação. O Composto pode ser cruzado com qualquer vaca, conseguindo manter os níveis de produção na F1, F2, FX, sempre padronizado e uniforme. O mais importante é que ele vai manter o rebanho adaptado porque sempre terá 50% ou mais de zebu + taurino adaptado, e o restante de britânicos e continentais para garantir a produtividade.

Essa adaptação mantém o manejo simples na fazenda, sem problemas comuns de animais com muito sangue europeu, que ficam excessivamente peludos, doentes e cansados no calor tropical. Ou seja,basta comprar um touro  composto de um programa sério com avaliação cientifica, colocar sobre qualquer tipo de vaca para padronizar seus produtos. Recentemente, pecuaristas australianos em visita ao centro-oeste comentaram comigo o quanto de carne poderia ser produzida a mais se utilizássemos mais cruzamento sobre tantas vacas zebuínas.

Entendo que os criadores dessas vacas ficam preocupados com as dificuldades do cruzamento, pois um touro europeu qualquer não cobre satisfatoriamente a campo, portanto, ele terá que inseminar. Há também a crença de que teria que abater machos e fêmeas produzidos, pois fica-se sem saber o que colocar nas fêmeas F1: Zebu perde precocidade e produtividade e europeu perde adaptação. O composto responde essas dúvidas, pois colocado sobre as F1, touros que não perdem nem em produtividade muito menos em adaptação e, pode continuar sendo usado ao longo das gerações. Não seja pego no século 21 com gado do século 20.