A fumaça amarela que recepcionava os apoiadores de Jair Bolsonaro (PL) para a apuração dos votos em frente ao Condomínio Vivendas da Barra, na Barra da Tijuca, deu lugar a uma névoa de decepção, lamentos e nervos à flor da pele conforme a contagem de votos chegava ao fim – e a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) como presidente da República se confirmava.

Gente passando com celular ao ouvido e aos gritos de irritação se misturava a pessoas sentadas em muretas e calçadas, algumas com a cabeça entre os joelhos. As camisas verde-e-amarelas, muitas delas da Seleção e que eram vestidas por muitos dos que estavam por lá, tornavam a atmosfera como se fosse de perda de final de campeonato.

Alguns foram embora chorando, outros simplesmente de cabeça baixa. Mas houve quem preferiu subir ao carro de som para dizer que não aceitaria “a fraude eleitoral” – ainda que a resposta tenha sido um silêncio constrangedor e meia dúzia de aplausos.

“Eu não aceito esse resultado, quem aí aceita?”, indagou o mesmo ativista de cima do carro de som. Três pessoas levantaram a mão fazendo sinal negativo.

Na rua, uma mulher garantiu a quem estava ao seu lado que “vai ter intervenção”, mas não recebeu nenhuma sinalização de concordância.

Com a confirmação da derrota, ninguém quis opinar sobre o resultado. “Não tenho emocional para isso”, disse uma mulher. “Não falo com jornal responsável por isso”, declarou outro.

Petista comemorou infiltrada

Quem falou com um sorriso que nada combinava com o público presente em frente ao Vivendas da Barra foi a estudante universitária Juliana, que pediu para não ter o sobrenome publicado para não arrumar briga com a família.

“Eu sou 13, eu sou 13!”, confidenciou ela à reportagem, mas apenas depois de se certificar que ninguém por perto ouvia o que dizia. “Eu vim aqui pra secar mesmo. Estava louca para ver os bolsonaristas chorando. Estou me divertindo muito.”

Para fazer sua festa particular infiltrada, a jovem usou roupa amarela e até aceitou colar um adesivo com o número de Bolsonaro.

“Minha família é toda bolsonarista. Foi muito difícil conviver nesse período. Minha mãe votou no Bolsonaro (em 2018), mas mudou agora. Nós decidimos não contar para não arrumar briga em casa. É um fanatismo muito complicado. Eu anulei em 2018 e não gostava do Lula. Mas, entre Lula e Bolsonaro, eu sou de esquerda”, sustentou Juliana.