11/05/2021 - 14:41
São Paulo, 11 – O Índice de Confiança do Agronegócio (IC Agro), divulgado pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e pela CropLife Brasil nesta terça-feira, fechou o primeiro trimestre de 2021 em 117,4 pontos, quatro abaixo do levantamento anterior. O nível de confiança do setor, apesar da queda, supera em 17 pontos o índice do primeiro trimestre de 2020, no início da pandemia de covid-19, segundo a Fiesp. Pela metodologia do estudo, índices superiores a 100 pontos demonstram otimismo do setor e, abaixo dessa marca, pessimismo.
Segundo o diretor titular do Departamento do Agronegócio da Fiesp, Roberto Betancourt, a maior parte das entrevistas para o cálculo foi realizada em março. “Pegamos a fase do avanço no número de casos de covid-19, o que levou à redução na atividade devido a lockdowns em várias regiões do País e às sucessivas revisões negativas das estimativas para o crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) em 2021”.
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No período, houve um “descolamento” entre o otimismo dos produtores agropecuários e a percepção das indústrias. O real desvalorizado e a alta das commodities agrícolas no mercado externo impulsionaram os preços pagos a agricultores no Brasil. Mas as indústrias enfrentaram pressões sobre os custos e viram crescer os sinais de descontrole da inflação. “(A inflação) é sempre uma ameaça aos planos de investimento e, no caso das empresas de alimentos, ao consumo das famílias”, argumenta a Fiesp.
O índice de confiança das indústrias inseridas nas cadeias agropecuárias caiu 6,2 pontos, para 110,7 pontos. Elas abrangem os segmentos “antes da porteira”, que fornecem insumos para a produção, e “depois da porteira”, que utilizam produtos agrícolas como matéria-prima.
No caso do índice de confiança das indústrias antes da porteira, a queda foi de 4,9 pontos no primeiro trimestre, para 108 pontos. O menor otimismo das empresas foi influenciado pelas condições do mercado no fim do trimestre, explica na nota o presidente executivo da Croplife Brasil, Christian Lohbauer, entidade que reúne de empresas de defensivos agrícolas. Segundo ele, após a compra antecipada de insumos agropecuários por agricultores no início do ano, muitas empresas tinham expectativa de crescimento no mercado.
“Os produtores, porém, começaram a se afastar das negociações, que evoluíram pouco em março, em parte pelo atraso na colheita da soja mas também pelo aumento dos preços dos insumos causado pela desvalorização do real. Isso mostrou que, talvez, o mercado não evolua tanto quanto se imaginava”, pondera.
O índice de confiança das indústrias situadas depois da porteira caiu mais do que o de antes da porteira, 6,7 pontos em comparação ao trimestre anterior, mas também permaneceu em nível alto, 111,9 pontos. “Um dos motivos foi a pressão de custos trazida pela alta dos grãos e do boi gordo a setores como o de alimentos. As margens dos frigoríficos no mercado interno, por exemplo, passaram praticamente todo o trimestre pressionadas”, disse Betancourt. “A piora nas estimativas para o crescimento da economia prejudica, além disso, as perspectivas para o consumo”, complementa.
Entre os produtores agropecuários, o índice de confiança ficou praticamente estável em 126,7 pontos, recuo de 0,98 ponto ante o último trimestre de 2020. No cálculo, são considerados tanto as percepções dos produtores agrícolas como de pecuaristas. Os agricultores, aponta o levantamento, formam o grupo “mais confiante” dentre os que fazem parte da pesquisa: o índice de confiança dos produtores agrícolas ficou em 127,9 pontos, ainda que tenha caído 1,3 ponto ante o trimestre anterior.
“Os aspectos positivos (para os agricultores) foram os preços, sobre os quais eles demonstraram um dos maiores graus de entusiasmo em todo o histórico do levantamento; a produtividade, que em março se consolidava em ótimos patamares nas principais regiões produtoras, a despeito do clima atribulado durante boa parte da safra; e o crédito”, diz Lohbauer. A queda do índice, contudo, se deu pelos custos de produção, que foram afetados pelo real desvalorizado ante o dólar e pela alta das matérias-primas no exterior, de acordo com o executivo da Croplife Brasil.
O índice de confiança dos pecuaristas também se manteve praticamente estável no primeiro trimestre, em 122,9 pontos, 0,1 ponto acima do índice do trimestre prévio. “Os bons preços do boi gordo e do leite e a oferta de crédito foram fatores positivos, que ajudaram a sustentar o resultado. A avaliação dos custos de produção piorou, mas não tanto quanto entre os produtores agrícolas”, explica Betancourt no documento. “Para o produtor pecuário, o maior impacto provocado pela alta dos grãos ocorreu no quarto trimestre de 2020”, observa.