José Marinho, diretor do Banco Original, controlado pela J&F, holding que engloba, entre outros, o frigorífico JBS e a fábrica de celulose Eldorado Brasil, teve bons motivos para almoçar em uma churrascaria no dia 24 de abril. Com uma carteira de crédito de R$ 550 milhões, dos quais R$ 470 milhões estão alocados na pecuária – e o restante em outros setores, como café, cana-de-açúcar, milho, soja, algodão e eucalipto –, o banco divulgou a sua 1ª Pesquisa de Intenção de Confinamento de Bovinos no Brasil, realizada entre março e abril. O resultado do trabalho foi mais do que alvissareiro para quem financia os proprietários do gado de corte. “O crescimento deve ser de 19,3% neste ano”, diz Marinho. Segundo a responsável pela pesquisa, que será feita anualmente, Mariana Peres, analista de mercado do Original, trata-se de uma expansão histórica. “É o maior avanço do confinamento dos últimos dez anos no Brasil”, afirma Mariana. De acordo com ela, com base no Anuário da Pecuária Brasileira 2011, elaborado pela consultoria do agronegócio Informa Economics FNP, o crescimento médio do número de animais no cocho foi de 5,7%, entre 2003 e o ano passado, chegando a um plantel de 3,1 milhões de cabeças.

 

MARINHO, DO ORIGINAL: a carteira de crédito do banco é de R$ 550 milhões, dos quais R$ 470 milhões estão alocados no segmento agropecuário e o restante, em outros setores

O estudo do Original, que prevê o confinamento de 3,7 milhões de animais em 2012, chegou a um número maior que o da Associação Nacional dos Confinadores (Assocon), que, no início deste ano, estimara um crescimento de 15%. “A Assocon vai divulgar, na primeira quinzena de maio, uma segunda pesquisa de intenção de confinamento, que está em linha com o estudo do Original, pois a margem de erro é de 2%”, diz Mariana.

A alta na intenção em confinar bois ocorre após um registro de resultados fracos para a atividade em 2011, quando não houve diferença significativa para os preços médios da arroba de boi gordo na safra e na entressafra, um ponto importante para a rentabilidade do confinador de gado. O avanço é evidenciado por uma série de fatores surpreendentes em Estados menos tradicionais na atividade. Os pesquisadores do Original entrevistaram 227 produtores (109 clientes do banco e 118 não clientes) de dez Estados – Pará, Rondônia, Bahia, Tocantins, Goiás, Minas Gerais, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, São Paulo e Paraná – que representam 90% do mercado de confinamento no Brasil.

MAIS LONGE DO PASTO OS NÚMEROS DA PESQUISA DO BANCO ORIGINAL

CONFINAMENTO EM 2012 19,3% MAIOR ALTA DESDE 2004

GADO CONFINADO EM 2011 3,1 MILHÕES

ENTREVISTADOS 227 PECUARISTAS

10 ESTADOS PARÁ, RONDÔNIA, BAHIA, TOCANTINS, GOIÁS, MINAS GERAIS, MATO GROSSO, MATO GROSSO DO SUL, SÃO PAULO E PARANÁ

REPRESENTATIVIDADE NA PECUÁRIA 90%

MARGEM DE ERRO 2%

 

Quatro deles, Rondônia, Pará, Tocantins e Bahia, aparecem na pesquisa com 20%, 40%, 75% e 100%, respectivamente, taxas acima da média nacional, pois apresentam expansão agrícola e intensificação da produção pecuária. “Na medida em que o grão avança na região Centro-Oeste, é preciso fazer a migração do boi para a pecuária intensiva no Norte e no Nordeste”, diz Marinho. No longo prazo, essas regiões vão ter uma participação ainda maior na pecuária brasileira, pois concentram grandes quantidades de bezerros, a matériaprima para suprir a demanda dos confinamentos. Além disso, esses polos pecuários estão localizados estrategicamente nas proximidades das regiões produtoras de grão no sul do Maranhão, sudoeste do Pará e norte de Mato Grosso.

Os Estados mais tradicionais no cocho também apresentam elevação, como Mato Grosso, com 31%, seguido por Mato Grosso do Sul, com 19%, Goiás, com 10%, e São Paulo, com 6%. Esses dois últimos Estados ficaram abaixo da média nacional. No momento da pesquisa os preços futuros na BMF&Bovespa apontavam uma cotação desfavorável ao confinador de gado