Por Celso Masson
Se ainda falta tradição no cultivo de oliveiras no Brasil, o que sobra é qualidade. Em apenas uma década, produtores das regiões Sul e Sudeste foram capazes de estabelecer uma forte reputação no cenário internacional, conquistando prêmios de prestigio e superando até países com séculos de história na olivicultura. O mais recente reconhecimento foi conferido no dia 16 de janeiro à marca de origem paulista Azeite Sabiá, criada pelo casal Bia Pereira e Bob Costa. Com apenas quatro safras comercializadas, os azeites produzidos em Santo Antônio do Pinhal (SP), na Serra da Mantiqueira, já acumulam 96 prêmios internacionais.

Agora, pelo segundo ano consecutivo, um dos rótulos da marca foi premiado entre os 10 Melhores Azeites do Mundo no Evooleum Awards, um dos mais respeitados concursos da olivicultura, além de ter sido eleito o melhor na categoria blends (quando há mais de um cultivar na composição). A conquista se soma a outra igualmente importante, anunciada em setembro do ano passado: o titulo de Empresa do Ano no concurso italiano Lodo, o mais antigo e tradicional do setor.

Na avaliação dos especialistas, a brasileira desbancou duas das mais tradicionais companhias italianas: Marfuga, fundada em 1817, e Frantoi Cutrera, de 1906. A coroação elevou o Brasil ao mais alto patamar de qualidade na produção global de azeite extravigem. Um feito que consagra a vocação nacional para a excelência no setor, com uma nova geração de produtores dedicados a extrair o melhor que as oliveiras podem oferecer.

Colhido e processado rapidamente, o azeite tem baixa acidez

(Divulgação)

A reportagem da DINHEIRO RURAL visitou a fazenda onde nasceu o Azeite Sabiá no início da safra deste ano, poucos dias depois de o casal de produtores retornar de Madri. Lá, Bia e Bob receberam o prêmio em uma cerimônia comandada pelo ministro da Agricultura Espanhol, Luis Planas, e com a presença do embaixador brasileiro no país, Orlando Leite Ribeiro.

Depois de conhecer parte do olival, visitar as instalações onde o azeite é produzido e participar de uma degustação (programa aberto ao público, a um custo de R$ 59 por pessoa), foi possível conhecer um pouco mais da história do casal e entender o que os levou a investir na produção de azeites.

“Em 2014 nós conhecemos o Rodrigo Veraldi, chef do restaurante Entre Vilas e dono do Viveiro Frutopia, que produz mudas de diversas espécies adaptadas ao terroir da Mantiqueira”, disse Bia Pereira, que trabalhava como jornalista“Entendemos que era possível cultivar oliveiras na propriedade onde até então criávamos gado”.

Antes de iniciar o plantio, porém, o casal estudou em profundidade a história do azeite e o cultivo de oliveiras.

• A marca Sabiá surgiu a partir de uma conversa com um dos filhos do casal. Ali, o desenho de uma folha de oliveira se transfigurou em pássaro, e o nome Sabiá veio naturalmente.
 Bob, que atuou a vida toda como publicitário, adicionou uma interpretação pessoal“A letras S e A simbolizam Santo Antônio [do Pinhal] e Bia é o nome da mulher que eu amo”, afirmou.
• O passo seguinte foi contratar especialistas para assessorá-los no manejo, na escolha dos equipamentos e nas técnicas para alcançar a mais alta qualidade possível.
•Uma das descobertas nesse processo foi a de que o tempo entre a colheita e o processamento do fruto é de suma importância. Para garantir o frescor, baixa acidez a maior concentração de substâncias benéficas à saúde, é preciso que decorram no máximo 4 horas até a seleção e prensagem na Mori-Tem, máquina italiana de última geração que extrai o azeite com toda a temperatura controlada – e com um moedor que corta as azeitonas ao invés de esmagá-las.

O casal de proprietários na sede do Azeite Sabiá, em Santo Antônio do Pinhal (SP) (Crédito:Divulgação )

São detalhes que fazem a diferença e que contribuem para o excelente resultado final, tão apreciado por especialistas.

Um exemplo é a italiana Maria Paola Gabusi, diretora e líder do painel sensorial do concurso Leone d’Oro Internacional, que veio ao Brasil especialmente para conhecer as instalações do Sabiá e descobrir como um país de fora do Mediterrâneo atinge níveis de qualidade internacional.

Evidentemente, o papel do mestre lagareiro é fundamental para a extração de um bom azeite. No caso do Sabiá, quem exerce a função é o agrônomo Emanuel De Costa, diretor de Produção e Transformação, sócio da marca e um dos mestres lagareiros mais qualificados do País.

(Divulgação)

Embora nascido na Mantiqueira, o Sabiá alçou voos para bem longe dali. Em 2022, Bia e Bob adquiriram uma propriedade bem maior no município gaúcho de Encruzilhada do Sul. Lá, onde o clima é favorável à produção em larga escala, o casal construiu um dos mais modernos lagares do mundo, com equipamentos desenvolvidos sob medida pelo papa do setor, Giorgio Mori.

Nas duas fazendas são cultivadas as variedades:
 Arbequina e Arbosana, de origem espanhola,
 Koroneiki, da Grécia,
 Coratina, da Itália.

Elas dão origem a azeites monovarietais (com frutos de apenas uma variedade) e ao Blend de Terroir – esse, envazado em garrafas de 250 ml e 500 ml. Todos à venda em lojas especializadas e no site da marca.

Abaixo, Rafael Marchetti, o mestre de lagar que assina o rótulo especial. Acima, as oliveiras onde ele é produzido

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Uma edição de Prosperato para colecionar (Crédito:Divulgação )

ORIGENS

No mesmo Rio Grande do Sul onde o Azeite Sabiá pretende crescer, a marca Prosperato comemora dez anos lançando um rótulo especial, o Prosperato Origens: Campanha Gaúcha. Criado pelo diretor e mestre de lagar da empresa, Rafael Marchetti, ele combina duas variedades: a gregha Koroneiki e a espanhola Picual.

A escolha foi feita cuidadosamente a partir das melhores parcelas de produção da safra 2023 de seus olivais nesta região, para criar seu azeite de mais alta gama, que leva a assinatura de Marchetti no rótulo. Diferente de seu Blend tradicional, que é feito com a mescla de azeitonas de diferentes variedades antes do processo de extração, o rótulo comemorativo é resultado de um processo minucioso: apenas os melhores lotes de azeitonas de cada variedade são selecionados, têm seus azeites extraídos separadamente, para então, serem combinados de forma cuidadosa, em proporções únicas.

“Esse método, chamado de Assemblage, nos permitiu criar um azeite que equilibra perfeitamente as notas amendoadas da Koroneiki com o aroma marcante de frutas da Picual, gerando um sabor até então pouco explorado no mundo do azeite, por conta das distintas origens destas duas variedades”, disse Marchetti. Serão produzidas apenas 100 unidades numeradas de 500 ml cada, embaladas em caixas de madeira de oliveira (R$ 208,42 cada). Um item voltado para colecionadores.