15/08/2018 - 12:54
O produtor Helodir José Verde, 44 anos, dono da fazenda Sempre Verde, localizada no município de Modelo, no oeste catarinense, foi às compras recentemente. Mas a decisão não foi fruto de um impulso de momento. Ela estava em sua agenda desde 2016, quando decidiu aderir ao sistema de consórcio para financiar seus investimentos na propriedade. Foi a primeira vez que o produtor usou esse tipo de compra programada, desde que começou a trabalhar no campo, há 30 anos. “Escolhi o consórcio por causa da facilidade para contratar o crédito”, diz ele. “Além disso, para mim, os custos da taxa de administração foram mais baixos que de outros financiamentos.” Sorteado há poucos meses, Verde tem hoje estacionado na sua propriedade um trator novinho, no valor de R$ 128 mil. O produtor, que cultiva soja, milho e cria aves, em 150 hectares, afirma que o sistema coube na sua demanda justamente pela possibilidade de se programar ao longo do tempo. Nos últimos anos, o consórcio tem caído no gosto do produtor rural. É o que mostra o mais recente levantamento da Associação Brasileira de Administradoras de Consórcios (Abac), apresentado em abril. Entre 2015, quando a Abac começou a monitorar o setor, até o início deste ano, o aumento de contratações na modalidade cresceu 33,8%. Passou de 69,5 mil consorciados rurais para 93 mil. Hoje, o setor rural equivale a um terço das cotas de aquisição de veículos pesados no País. Em valores, no ano passado, as aquisições de tratores, colhedeiras e implementos somaram R$ 2,9 bilhões, 21,5% a mais que em 2016.
O cenário de boas safras sucessivas no campo, com perspectiva de preços favoráveis para os grãos em 2018, acima de 2017, aliado a uma inflação baixa e uma taxa Selic que referencia juros e que vem em constantes quedas nos últimos tempos, aumenta a confiança do produtor. Ele se sente mais seguro para adquirir bens. E isso não ocorre apenas no agronegócio. O mercado de consórcio bateu recorde de crescimento no último ano, segundo dados da Abac, e mostra fortes tendências de crescimento. Neste ano, nos primeiros três meses, o crescimento geral foi de 8% ante 2017, com cerca de 600 mil adesões, incluindo setores como automóveis e imóveis. Segundo Paulo Roberto Rossi, presidente-executivo da Abac, o aumento das contratações rurais está relacionado com as características do consórcio, como parcelas de valores fixos e a não incidência de juros. Nesse tipo de negócio, o que conta é a taxa média de administração sobre o valor contratado pelo produtor, que equivaleria aos juros de mercado. Atualmente, ela é de 0,11% ao mês, ou 1,32% ao ano. No principal sistema oficial de crédito, o Programa de Modernização da Frota de Tratores Agrícolas, Implementos Associados e Colheitadeiras (Moderfrota), as taxas na safra passada foram de 7,5% ao ano até 9,5% ao ano. “Para o produtor que consegue planejar suas compras, as características do consórcio estão em consonância com a gestão de seu negócio”, afirma Rossi. Para Humberto Ferri, gerente nacional do consórcio da americana New Holland, a modalidade não cresce ainda mais porque falta informação ao produtor. “O financiamento é para atender demandas imediatas”, afirma Ferri. “O consórcio é para atender demandas futuras.” As vendas via consórcio na New Holland têm crescido 10% ao ano. Em 2017 foram cerca de mil máquinas, das quais 90% eram tratores. Para Cláudio Bassani, diretor da administradora brasileira Randon, em Caxias do Sul (RS), que gere o consórcio da multinacional americana John Deere no Brasil, o sistema é uma boa alternativa para investimentos no médio e no longo prazos. “Ele é uma poupança disfarçada de dívida”, diz Bassani. No ano passado, a John Deere vendeu 3,5 mil cotas, um aumento de 9,4% ante 2016. Em valores foram R$ 472 milhões, 9,8% acima. Para este ano, a expectativa é manter o crescimento no valor das vendas, indo a R$ 480 milhões em 3,3 mil cotas.
A queda no número de contratações, em oposição aos recursos, indica que o produtor está buscando máquinas de maior valor agregado, embora os tratores de rodas e de esteira ainda dominam as contratações na modalidade. Na John Deere, o segmento representa 38% das escolhas, seguido por implementos agrícolas e rodoviários com 32%. As colhedoras representam 18% das cotas e os cultivadores motorizados, 12%. A fabricante americana Massey Ferguson, pertencente ao grupo AGCO, também acompanha esse movimento. A maior parte das vendas da companhia, via consórcio, tem sido de máquinas de média potência.
Adotado pela empresa em 1982, a empresa já entregou cerca de 70 mil unidades nessa modalidade. De acordo com Juan Latorre, gerente de vendas da Massey Ferguson, nos últimos tempos, o consórcio também tem se tornado atrativo para médios e grandes produtores. “De fato, neste ano há um crescimento de máquinas de maior valor agregado”, diz ele. Como colhedoras e tratores potentes. É o caso de José Nelson Mallman, 53 anos, que cultiva tomate, soja, milho, trigo e feijão em 1,7 mil hectares nos Estados de São Paulo e de Minas Gerais. Ele já comprou dez tratores por R$ 1,5 milhão. “Por ser planejado, o consórcio é a melhor forma que encontrei para atualizar a frota”, diz Mallman. O planejamento leva em conta o período de safra, à escolha do produtor. Caso ele não queira quitar as parcelas por mês, há as opções por trimestre ou semestre. Pode optar, também, pelo pagamento de meia parcela mensal, com reforço trimestral ou semestral. O prazo de contrato vai de 60 meses a 120 meses.