Segundo levantamento da consultoria Datagro, a safra 2024/2025 do milho está estimada em 132,7 milhões de toneladas, 8,7% superior à colheita anterior.  Apesar de toda essa oferta elevada, o que vem chamando a atenção é a demanda, que vem crescendo no país ano após ano. Estratégias no campo e conhecimento do setor podem ser cruciais para elevar a produtividade.

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A expectativa é de que neste ano a demanda supere a produção em 2,3 milhões de toneladas, o que representará o quinto déficit consecutivo de milho no país.

As exportações de milho em 2024 atingiram 39,75 milhões de toneladas, uma queda de 29,84% em relação a 2023. Por outro lado, a demanda interna por milho está aumentando, especialmente para produção de etanol e proteína animal. O grão é o principal componente da ração para aves, suínos e bovinos.

(Reprodução/Vitor Finger)

O Brasil é o terceiro maior produtor global de milho, atrás apenas dos Estados Unidos e da China. Por aqui, o grão é o segundo principal cultivo sendo desbancado pela soja, sendo cultivado em praticamente todo o território nacional. Cerca de 77% da área plantada e 92% da produção concentraram-se nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste.

Consumo acima da produção

Glauber Silveira, diretor executivo da Associação Brasileira dos Produtores de Milho e Sorgo (Abramilho), explicou que apesar da produção brasileira crescer nos últimos anos, a forte demanda global pelo grão é o que mais preocupa o setor.

Tabela: Ismael Jales – Dinheiro Rural/Fonte: FIESP

Um relatório divulgado pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) referente a safra 2025/2026, mostrou que o consumo global de milho deve crescer 2,4%, 30,2 toneladas a mais do que na safra anterior. Já para os estoques, espera-se um recuo de 9,4 milhões de toneladas, o menor volume desde 2013/2014.

“É bastante preocupante, porque se temos algum problema, pode faltar milho no mundo. Hoje, os estoques globais servem para abastecer o consumo por apenas dois meses, então isso é bastante, é preocupante”, diz Silveira.

O diretor pontua que esse déficit pode ser uma oportunidade para o Brasil aumentar sua produção e se consolidar ainda mais no mercado global. Segundo ele, o Brasil pode apostar em novas áreas para produção e repensar a utilização de terras “subaproveitadas”.

“Temos condição de crescer mais, estamos aumentando nossa produtividade em torno de 3% ao ano. Então, se você pensar em dez anos, cresceremos 30%. Mas na minha opinião temos capacidade de até dobrar a produção de milho no país”, afirma Silveira.

Estratégia e inovação pode ser a resposta

A busca por uma produtividade maior é constante no setor da produção de milho. Vitor Finger, que produz o grão no estado de Santa Catarina, explicou que tecnologia no agro vai muito além de maquinário. “É preparo e conhecimento”, diz.

Ele conta que, tradicionalmente, muitos agricultores aplicavam fungicidas apenas quando já havia sinal de doença no milharal, mas hoje a estratégia é outra.

“No tempo do meu avô, muito tempo atrás, era só plantar e colher. Hoje isso mudou, uma das maiores diferenças é que começamos a fazer aplicação de fungicida muito antes sem haver nem uma praga no milho. Percebemos que o negócio começou a render, colhemos bem mais. A gente começou a entender que precisa cuidar da planta desde jovem, como construir uma casa com base sólida”, conta Finger. 

Vinicius Junges, outro produtor que conversou com a Dinheiro Rural ,revelou adotar uma estratégia diferente para melhorar seus números na colheita do milho.

Ele explicou que neste ano o que fez diferença foi a utilização de adubo orgânico retirado do piso de seu aviário, conhecida como “cama de frango”. Segundo o produtor, o uso do adubo orgânico reduz a dependência de fertilizantes químicos importados, ajudando o produtor a economizar, principalmente em tempos de alta nos preços dos insumos.

“Acredito que meu diferencial é ter uma boa integração entre a lavoura e a criação de aves. Para mim esse é o principal fator de eu ter colhido tanto. Nossa produtividade foi sensacional, tanto que já faturei e reinvesti de volta pensando na próxima safra”, explica Junges.