Mecanismo tradicional de proteção contra as oscilações de preços na comercialização da produção e na reposição de estoques, o mercado futuro tornou os negócios mais seguros para o produtor rural, tendo como principal plataforma de negociações no Brasil a BM&F Bovespa. Por isso, há um ano, quando a bolsa lançou um novo contrato de etanol, já se pensava em lançar também um contrato de soja com liquidação financeira. Não tardou muito. Em janeiro deste ano, os novos contratos de opções de compra e venda de soja chegaram ao mercado para completar o portfólio do segmento de derivativos de commodities, a exemplo do milho e do boi gordo.

Entre julho e agosto, segundo dados da BM&F Bovespa, o mercado de derivativos de soja com liquidação financeira cresceu 81%. As modalidades disponíveis para operação superou os 14 mil contratos só no mês de agosto. Segundo Luiz Cláudio Caffagni, gerente de serviços em commodities da BM&F Bovespa, a entidade passou a oferecer contratos futuros de opções, nos quais uma parte adquire de outra o direito de comprar (opção de compra) ou vender (opção de venda) de um ativo ou commodity. “Essas duas operações podem ser realizadas em determinada data por preço previamente estipulado”, diz Caffagni. Além dessas duas opções, há o contrato futuro em que as partes assumem o compromisso de compra e/ou venda, também para liquidação em data determinada, mas contando com o ajuste diário dos valores.

Para Caffagni, o crescente volume de negócios tem justificativa. “A modalidade de opções, por exemplo, é mais fácil para o produtor rural operar”, diz. Nessa operação financeira se repete a mesma ação realizada com o governo, quando ocorre a comercialização da safra do grão por meio de leilões. “Apenas na modalidade de opções foram mais de dez mil contratos negociados no mês de agosto.” Quando comparado ao volume negociado no mês de julho, de pouco mais de dois mil contratos de opções, o crescimento foi de 287,9%. “O objetivo da bolsa é atrair novos participantes, aumentando a liquidez e a possibilidade de o produtor entrar e sair do mercado”, afirma Caffagni. Com a liquidação financeira, a operação também passa a ter um risco menor. “Sem entrega física, o contrato de soja se iguala aos contratos de milho.”

 

VOLUME: para Caffagni, da BM&F, as novas modalidades da bolsa têm riscos menores

Com as novas opções, o contrato antigo foi retirado do mercado. Nele, se realizava a entrega física do produto no porto de Paranaguá (PR). Nos novos contratos a entrega não é mais física, mas o preço de referência permanece sendo o da soja em grão, a granel tipo exportação, transferida e comercializada nesse porto, sendo os contratos liquidados com base no Indicador de Preços da Soja Esalq/ BM&F Bovespa. Para Walter Coutinho Júnior, consultor da Futura Corretora, de Maringá (PR), as novas contratações têm grande potencial para crescer. “Por falta de conhecimento, o uso dessas ferramentas pelos produtores ainda é pequeno”, diz. A exemplo dos mercados do boi gordo e do milho, em que se negociam grandes volumes na bolsa, a expectativa é de que o mercado de soja também ganhe escala. “Para se ter uma ideia, a BM&F Bovespa negocia algo cerca de 10% da safra nacional de soja, o principal produto das exportações agrícolas do País”, diz Coutinho Júnior. “A Chicago Board of Trade, nos Estados Unidos, chega a negociar o correspondente a 18 vezes o volume mundial.”