03/07/2015 - 12:55
O Brasil ocupa o segundo lugar entre os maiores exportadores de soja do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos, mas a contribuição do governo Japonês para essa pujança, ainda hoje passa ao largo dessa realidade.
Este ensaio, portanto, tem como objetivo rememorar os desafios do passado e conectar a realidade presente, na medida em que se busca responder as seguintes questões: a inevitabilidade do desenvolvimento agrícola do cerrado, e em que proporção o governo Japonês fez parte desse movimento.
No início do século XX, a soja era cultivada mais ao sul do país, por pequenos produtores que a utilizavam como fonte de proteínas para suínos e adubo. A perspectiva era a de expandir a fronteira agrícola incrementando os avanços tecnológicos que incluíam pesquisas nas áreas de química, mecânica, e sobretudo, engenharia genética.
Fez-se necessário uma estratégia de incorporação de novas áreas agrícolas frente ao esgotamento das terras disponíveis para exploração agropecuária nas regiões sul e sudeste do pais.
Simultaneamente, uma grande apreensão com a questão da segurança alimentar estava aflorando no Japão, quando os Estados Unidos determinaram o controle de exportação de soja, após os preços dos grãos terem triplicado em 1973. Sendo os Estados Unidos os únicos fornecedores de soja, argumentos emergiram no Japão em favor da diversificação dos fornecedores.
Neste contexto, o cerrado brasileiro, durante longo tempo visto como um ecossistema sem grande potencial para o desenvolvimento agrícola, surge a partir da década de 1970, como polo estratégico para a implementação das políticas de expansão da fronteira agrícola, tanto do interesse brasileiro quanto do japonês.
A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) foi responsável pelo desenvolvimento das sementes adaptadas ao clima tropical, em cooperação com diversos centros nacionais, particularmente o Centro de Pesquisa Agropecuária do Cerrado (CPAC). Atualmente designada Embrapa-Cerrado, exerce papel fundamental nas transformações ocorridas na região.
O CPAC foi beneficiário de cooperação técnica japonesa de grandes proporções após sua fundação em 1975. Os principais programas de promoção do cultivo e a consequente capitalização da agricultura no cerrado, o incremento da produção e da produtividade estão no Programa de Desenvolvimento do Cerrado Brasileiro Brasil e Japão (Prodecer), assim como o inigualável apoio técnico e financeiro proporcionado pela Japan International Cooperation Agency (JICA) durante mais de vinte anos.
O Prodecer é supervisionado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, e foi coordenado pela Companhia de Promoção Agrícola (Campo), apoiado por cooperativas agrícolas e executado por produtores rurais, o que exigiu perfeita sinergia entre os vários atores políticos e privados, nacionais e japoneses.
A contribuição da cooperação japonesa não se restringiu à promoção das inovações tecnológicas, tais como a correção do solo e melhoramento genético, mas também se deu pelas inovações institucionais, a exemplo do desenvolvimento do uso da terra em forma de cooperativas, fundamental para o desenvolvimento do Cerrado.
O crescimento do cultivo da soja no Brasil tem sido impressionante ao longo das quatro últimas décadas, não tanto pela expansão da área de produção, mas pelo aumento da produtividade no campo, resultante do uso intensivo de tecnologias mais eficientes.
Atualmente o setor agroindustrial responde por cerca de 30% do PIB e por aproximadamente 40% das exportações totais do país.
Após um longo processo de aprendizagem envolvendo atores nacionais e japoneses, o Brasil é destaque no mercado internacional de soja e tal posição exige eficiência no uso das tecnologias de produção e habilidade nas ferramentas de gestão.
Neste contexto, é fundamental o papel do governo do Japão no desafio conjunto de transformar o Cerrado brasileiro em celeiro agrícola mundial.