Com a COP30 às portas, os holofotes da sustentabilidade se voltam para o Brasil — um país que tem nas mãos o alimento, a floresta e uma promessa global. Mais do que anfitrião da conferência, o Brasil assume uma responsabilidade histórica: provar que é possível alimentar o mundo sem abrir mão da biodiversidade, da justiça social e do equilíbrio climático.

Nesse cenário, o conceito de produção verde ganha força e urgência. Não se trata apenas de mitigar impactos. É sobre regenerar, cuidar, conectar saberes locais e tecnologia, e construir um modelo produtivo que preserve, valorize e integre.

Segundo a Embrapa, práticas sustentáveis como a Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF) já estão presentes em mais de 17 milhões de hectares no Brasil. Essa abordagem permite recuperar áreas degradadas, aumentar a produtividade e reduzir emissões — tudo ao mesmo tempo. É tecnologia a serviço da regeneração.

Mas não existe sustentabilidade sem dignidade. A transição verde precisa caminhar junto com os direitos humanos, os direitos territoriais e a valorização das comunidades. Isso inclui garantir:

  • acesso à terra e à água;
  • proteção de povos indígenas e quilombolas;
  • apoio real à agricultura familiar, que sustenta a economia local e preserva práticas ancestrais com forte valor ecológico.

Iniciativas como o PolvoLab mostram que é possível construir futuros regenerativos quando se investe em educação comunitária, articulação territorial e soluções que respeitam a diversidade como base para o desenvolvimento. A inovação, nesse contexto, deve ser compreendida como um sistema integrado: ela nasce da pesquisa científica, sim, mas também se concretiza na experiência prática dos produtores, nas soluções adaptativas das comunidades rurais e na gestão territorial de quem convive com os ecossistemas. Valorizar esse intercâmbio é fundamental para acelerar a adoção de práticas sustentáveis com base territorial e escala produtiva.

COP30 será mais do que uma conferência. Será uma vitrine — e um espelho.

Que imagem o Brasil quer refletir para o mundo?

Que modelo de desenvolvimento queremos projetar para as próximas gerações?

Para que a produção verde se torne um pacto de futuro, é hora de unir forças. A verdadeira transformação virá da aliança entre o agronegócio e a agricultura familiar. O grande produtor, com sua escala e acesso à tecnologia, pode liderar essa virada ao apoiar, adaptar e compartilhar soluções com os pequenos. Já a agricultura familiar oferece raízes, resiliência e diversidade. Unir essas visões não é apenas desejável — é estratégico.

O Brasil tem tudo para liderar um novo capítulo global. Basta escolher. E cooperar.

*Daniela Kallas é empreendedora social e advogada, sócia-investidora e diretora de Relações Institucionais na Polvo Lab e coautora do livro “As faces da violência: do indivíduo ao Estado” (2018).