15/09/2020 - 17:48
A ex-primeira-dama Ruth Cardoso alavancou o chamado terceiro no Brasil. Segue texto corrigido:
Ela faria 90 anos no próximo dia 19. A antropóloga Ruth Corrêa Leite Cardoso morreu em 24 de junho de 2008, aos 77 anos, deixando como legado principal a criação do chamado terceiro setor no Brasil, uma prática política por meio da sociedade civil. Organizada em ONGs, a ação se somou às medidas de governo e das empresas na busca pela melhoria das condições de vida para a população.
Para marcar a data, a Fundação FHC programou três eventos ao longo do mês de setembro: um webinário (seminário transmitido pela internet), nesta terça-feira, 15, uma entrevista com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, no dia 22, e uma exposição virtual.
“Quando fui presidente, Ruth cooperava, mas com independência crítica. Jamais foi apenas ‘primeira-dama’, aliás não gostava de ser assim qualificada”, disse Fernando Henrique, hoje com 89 anos. “Ela criou o Comunidade Solidária e se dedicou não ao ‘assistencialismo’: queria que as pessoas exercessem seus papéis na sociedade com autonomia e reivindicando seus direitos.”
A obra de Ruth Cardoso no terceiro setor – o Comunidade Solidária é o programa mais conhecido – será abordada no webinário, realizado a partir das 17h30 com transmissão pela plataforma Zoom e pelo Facebook. Participam o economista Ricardo Paes de Barros, do Insper, e o sociólogo e escritor Augusto de Franco, com mediação de Simone Coelho, do Ideca.
Em documento da própria Ruth, destacado no acervo da Fundação FHC, a cientista social aponta a relevância do trabalho do Comunidade Solidária já na primeira linha. “O Comunidade Solidária é um exemplo novo de parceria entre Estado e sociedade para combater as desigualdades sociais”, escreveu Ruth Cardoso no texto que convida a “ver que, através das experiências das ONGs, vem sendo criada uma nova perspectiva na vida de todos esses jovens”.
“Com o Comunidade Solidária, ela transformou em um projeto real essa ideia que possuía sobre a interação entre movimentos sociais e o governo. E, ao mesmo tempo, ela redefiniu o papel de primeira-dama”, disse a professora aposentada da USP e pesquisadora do Cebrap, Maria Hermínia Tavares, que foi aluna e amiga de Ruth. “Ela trouxe para perto do governo uma experiência de coisas que tinha estudado e para as quais tinha grande sensibilidade.”
Para o economista Marcos Lisboa, presidente do Insper, a contribuição de Ruth foi responsável por abrir caminho para uma atuação mais eficaz do País nas ciências sociais. “A gente melhorou muito a capacidade de fazer política social graças àqueles anos”, disse. Com foco na pesquisa sobre políticas públicas, uma Cátedra da instituição homenageia a antropóloga desde 2018. “O País tem uma dívida imensa com dona Ruth”, afirmou Lisboa.
Sua trajetória é descrita como “brilhante” pelo cientista político e professor da USP José Álvaro Moisés, que foi aluno e amigo de Ruth. “Uma intelectual muito séria, muito competente, mas ao mesmo tempo uma pessoa leve no contato com seus alunos, com extremo cuidado.”
Foi na USP também que ela conheceu Fernando Henrique – com quem se casou, em 1953. “Conheci Ruth quando fazíamos o exame para entrar nas Ciências Sociais da USP. Ela entrou em primeiro lugar, eu no segundo. Ela se especializou em Antropologia, fez doutoramento na USP e foi uma professora dedicada”, lembra FHC.
No dia 22 de setembro, FHC falará sobre a vida e a obra da antropóloga e educadora em entrevista ao escritor Antonio Prata que será transmitida pela internet às 17h30. Ainda em setembro, vai ao ar no site da fundação a exposição virtual sobre a professora universitária e pesquisadora, que publicou livros e artigos sobre sociedade, cultura e política. “Deixou saudades e bons exemplos”, disse FHC.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.