08/05/2017 - 14:54
A cadeia mundial de proteína animal, vez ou outra, é abalada por acontecimentos desastrosos, travando uma engrenagem que começa no campo e vai até a mesa do consumidor. Na maioria absoluta das vezes, essa quebra acontece pela ameaça de surtos de doenças generalizadas nos rebanhos e não por motivos pontuais, como ocorreu no País com a Operação Carne Fraca. Quando as crises acontecem, as perdas são gigantescas. Confira casos importantes no Brasil e no mundo:
A febre aftosa
Causada por um vírus, a febre aftosa é altamente contagiosa, levando os animais a não se alimentarem. Ela está entre as enfermidades que geram maior impacto econômico para a produção de carne, especialmente a bovina, no mundo. Nas últimas décadas, os mais graves surtos de febre aftosa registrados no Brasil ocorreram nos anos de 1989 e 1999 no Rio Grande do Sul, e em 2004 nos Estados de Mato Grosso do Sul e Paraná. No Sul foram cerca de 100 focos da doença, que entrou no País através de gado contaminado do Uruguai, então considerado paíse livre da doença. Em Mato Grosso do Sul, o foco ocorreu na fronteira com o Paraguai. Apenas no surto de 2005, as perdas com as quedas da produção e das exportações nos dois anos seguintes foram estimados em US$ 1 bilhão por período. O Brasil, que vacina seu rebanho, tem status de livre da doença com vacinação.
A maior parte dos países produtores de carnes, como os europeus, mais Argentina, Uruguai e Estados Unidos, já erradicaram o vírus e não vacinam seus animais. Mesmo assim estão sujeitos. Em 2001, a Europa enfrentou um surto da febre, iniciado na Grã-Bretanha, que se espalhou por Holanda, França e Irlanda. Para conter a doença foram gastos, somente pelos ingleses, US$ 11 bilhões e sacrificados seis milhões de animais, a maioria bovinos, suínos e ovinos. No mesmo ano, dois países latinos foram afetados. Um surto no Uruguai levou ao abate de 20 mil bovinos e um prejuízo de US$ 730 milhões. Na Argentina, para conter 78 focos, foram gastos US$ 20 milhões em oito meses, com perda de US$ 1,5 bilhão em exportação naquele ano. Em 2010 foi a vez da Ásia. Um surto na China se espalhou para Mongólia, Japão e Coreia do Sul. Somente na Coreia houve o sacrifício de 290 mil suínos, a um custo de US$ 2,8 bilhões.
O efeito Vaca Louca
A maior epidemia da encefalopatia espongiforme bovina (EEB), conhecida mundialmente como o Mal da Vaca Louca, foi registrada na Inglaterra, entre os anos de 1991 e 1994. Neste período mais de 122 mil bovinos foram sacrificados e 226 pessoas morreram em decorrência da variante da doença de Creutzefeld Jacob (vDCJ), que é transmitida aos humanos por meio do consumo de carne contaminada de animais infectados pela EEB.
A doença degenerativa afeta o cérebro dos animais. É causada por uma proteína, chama príon, que leva à morte de células cerebrais. Na Inglaterra, onde foi registrado o surto mais severo da enfermidade, a indústria de carne bovina teve um prejuízo de € 980 milhões, além do investimento de € 1,5 bilhão gasto em sanidade animal para recuperar os mercados perdidos.
No Brasil, foram registrados dois casos atípicos da doença – que ocorrem quando o príon que causa a enfermidade é encontrado no cérebro dos animais, mas eles não manifestam os sinais clínicos da doença nem morrem por causa dela. O primeiro caso foi registrado no Paraná, em 2012, e o segundo em Mato Grosso, em 2013. No caso do Paraná, o Estado levou dois anos para recuperar todos os mercados que fecharam as portas ao produto nacional.
Influenza Aviária
A influenza aviária é uma doença viral altamente contagiosa, que afeta aves de várias espécies e pode ser transmitida a humanos. A enfermidade ganhou destaque mundial a partir do início dos anos 2000, quando os surtos começaram a se intensificar. Em 2002, o Chile abateu 500 mil frangos ao custo de US$ 31 milhões. Em 2003, a Holanda sacrificou 30 milhões de frangos criados em sistema orgânico, ao custo de E150 milhões, mas a estimativa é prejuízo da ordem de E500 milhões. Na Ásia, onde o vírus é endêmico, apenas nos anos de 2003 e 2004, Japão, Indonésia e Vietnã o prejuízo para a cadeia foi de E8 bilhões. Em todo o mundo, segundo o Banco Mundial, nesses anos foram abatidos 170 milhões de frangos, 6% da população global de aves, com perdas estimadas de US$ 760 milhões. Agora, um novo ciclo atinge 30 países desde o ano passado. De 2014 a 2016, foram identificados casos em 77 países, segundo a OIE, que levaram à morte de milhares de aves. O Brasil nunca registrou casos da doença, o que fortalece a sua posição no mercado externo como maior exportador do mundo.
Peste suína
Há dois tipos de peste suína, a clássica e a africana. Ambas doenças são virais e provocam diarreia, lesões cutâneas e febre, podendo o levar o animal à morte. A maioria dos países registra casos da clássica. Em 1997, a Holanda sacrificou 11 milhões de porcos, a um custo estimado de US$ 2,3 bilhões. A Rússia, que estava fora do grupo, sofreu um surto de africana em 2011. Foram abatidos 300 mil animais, a um custo de US$ 240 milhões. Em junho do ano passado, o país voltou a notificar um caso.
No Brasil, a Organização Internacional de Saúde Animal (OIE), reconhece 14 Estados e o Distrito Federal como áreas livres da peste clássica. Não há registro da africana. O anúncio foi feito em maio de 2016. Até então, apenas Santa Catarina e Rio Grande do Sul possuíam o status sanitário, importante para o comércio internacional de carne suína. A última vez que um caso foi registrado no Brasil foi em 2004.
Carne de Cavalo
Em 2013, o uso de carne de cavalo em produtos congelados (à dir.) que deveriam conter carne bovina ganhou as manchetes dos jornais europeus e abalou a confiança dos consumidores no produto elaborado em 16 dos 28 países do bloco econômico. Na ocasião, houve uma perda de US$ 300 milhões no valor de mercado da Tesco, rede de supermercados na qual foi identificada a venda da carne.