Em tempos de crise financeira, em que poucos se arriscam a fazer prognósticos para o futuro, uma possível falta de crédito rural no mercado tem preocupado o campo brasileiro. Apesar de os recursos de R$ 78 bilhões destinados ao plano safra 2008/2009 representarem um incremento de R$ 8 bilhões em relação ao que foi disponibilizado no ciclo 2007/08, a estimativa é de que o montante seja suficiente para custear apenas 30% dos custos da produção agrícola brasileira. Além disso, existe o temor de que o acesso ao crédito fique ainda mais restrito e comprometa a produção. A boa notícia é que pelo menos os bancos oficiais não parecem compartilhar deste cenário negativo. A garantia dessas instituições é que o crédito está acessível. Um exemplo disso é a Nossa Caixa, banco recém-comprado pelo Banco do Brasil, que tem recursos disponíveis na ordem de R$ 900 milhões. “Não falamos em restrição do crédito, ao contrário, queremos incentivar os produtores a buscar recursos conosco”, garante o gerente de agronegócios, Gilberto Fioravante. Ele revela que cerca de 50% dos recursos já foram tomados.

O vice-presidente de agronegócios do Banco do Brasil, Luiz Carlos Guedes Pinto, responsável por 62,7% dos recursos que estão à disposição da agricultura, também acredita que não faltam recursos nos bancos. “O governo inclusive aumentou a parcela da poupança rural direcionada para o crédito rural, o que adicionou mais R$ 2,5 bilhões para o setor agropecuário.” O Banco do Brasil detém uma linha de crédito de R$ 30,8 bilhões. Desse montante, cerca de R$ 19 bilhões serão destinados para crédito de custeio, dos quais R$ 13 bilhões já foram tomados.

Porém, Guedes, que já ocupou a cadeira de ministro da Agricultura, ressalta que o financiamento agrícola da rede bancária não é suficiente para custear toda a produção brasileira. Ele indica que o problema está no financiamento liberado pelas próprias empresas do setor, que disponibilizam insumos em troca da produção a ser entregue no futuro. Com a crise financeira, essas empresas estão mais retraídas, o que deve reduzir suas linhas de crédito. “O maior impacto deve ficar para o Centro- Oeste, em que 50% dos recursos são obtidos por meio das tradings.”

Segundo Guedes é necessária uma mudança no sistema de crédito agrícola. Para isso, ele propõe uma série de medidas, entre elas o fim das prorrogações das dívidas rurais e tornar compulsória a adesão ao seguro rural e a mecanismos de hedge (leia matéria a seguir), para aumentar a participação do sistema financeiro. “A atividade rural é de maior risco. Queremos que o governo amplie os subsídios ao seguro agrícola e subsidie os custos de operação de hedge. Isso seria mais barato do que ficar renegociando dividas”, finaliza.

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