O Produto Interno Bruto (PIB) do agronegócio do Brasil em 2026 deverá crescer 1% em 2026, com produtores garantindo a expansão do setor no país graças à utilização de uma parcela maior de recursos próprios em suas atividades, enquanto o crédito está mais caro e escasso, afirmou nesta terça-feira a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA).

Para 2025, a CNA estima expansão de 9,6% do PIB do agronegócio, que considera os segmentos de insumos, agropecuária, agroindústria e serviços, impulsionado por safras recordes de soja e milho.

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Além da forte base de comparação e de indicações iniciais de um clima não tão favorável para a safra de grãos em 2026 em relação a 2025, a situação financeira de parte dos produtores também pesa, em momento em que os dados da inadimplência no campo atingiram níveis recordes no Brasil, comentou o diretor técnico da CNA, Bruno Lucchi, durante encontro com jornalistas.

Isso acaba se refletindo em um custo maior do financiamento em ambiente de taxas de juros já elevadas, o que leva os agricultores a utilizarem uma parcela maior de recursos próprios para desenvolver seus negócios.

“Está havendo um ajuste. O produtor não tem disponibilidade de recursos dos bancos oficiais e está havendo um aporte de capital dos produtores, aqueles capitalizados de safras anteriores. Por isso tivemos oportunidade de aumento de produção, mesmo com a escassez de financiamento”, disse o presidente da CNA, João Martins.

A entidade citou dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) sobre a safra 2025/26, afirmando que a produção total de grãos e oleaginosas deve superar o volume colhido na safra anterior em 0,8%, para 354,8 milhões de toneladas.

“Se continuam os juros altos… vamos ver rapidamente uma nova agricultura no Brasil, uma agricultura autossustentável pelo produtor”, declarou ele, ponderando que, ainda assim, seria desejável mais recursos oficiais.

O chamado crédito rural oficial, oriundo das instituições financeiras, representa cerca de 30% do total da agricultura brasileira, com 40% vindo do mercado privado (mercado de capitais, cooperativas, revendas, etc), e os 30% restantes seriam capital próprio, segundo a entidade.

“O que temos visto é que tem aumentado o investimento com capital próprio, tinha caído nos últimos anos, estava em torno de 20%. Ele voltou a crescer porque as taxas e exigências de garantias estão elevadas”, disse Lucchi.

Ele comentou que os preços de importantes produtos, como a soja e milho, deverão crescer em 2026, especialmente o cereal, com projeção de alta de 15%.

“A soja (preço) vai crescer pouca coisa, mas vai ser melhor que este ano. Porém o custo de produção vai estar muito maior, em função não só dos insumos, mas principalmente pelo custo do financiamento da produção”, disse o diretor técnico.

Segundo ele, a questão do crédito não vai se resolver de um ano para o outro. “Vai precisar de mais um ano para ter estabilidade maior dos financiamentos.”

INADIMPLÊNCIA HISTÓRICA

A confederação afirmou que em outubro deste ano o crédito rural com taxas de mercado registrou a sua maior inadimplência desde o início da série histórica, em 2011, alcançando 11,4%.

A entidade citou como fatores os recorrentes problemas climáticos nos últimos anos; a queda nos preços das commodities e alta nos custos de produção; recursos insuficientes para o seguro rural, além de bancos mais restritivos e juros maiores.

No mesmo período do ano anterior, o valor era de 3,54% e, em janeiro de 2023, de 0,59%.

Além disso, o maior número de recuperações judiciais tem deixado credores mais cautelosos, impactando a concessão de crédito.

A CNA destacou também que a falta de apoio para o seguro rural em 2025 deve refletir nos resultados do próximo ciclo. De acordo com dados da entidade, o Programa de Subvenção ao Prêmio do Seguro Rural (PSR) registrou o seu “pior” desempenho desde 2007, cobrindo 2,2 milhões de hectares, o que representa menos de 5% da área agricultável do país.

VALOR DA PRODUÇÃO EM ALTA

Não obstante, o Valor Bruto da Produção (VBP) agropecuária do Brasil deve alcançar R$1,57 trilhão em 2026, alta de 5,1% ante 2025, segundo a entidade.

O segmento agrícola deve totalizar R$1,04 trilhão (+6,6%), impulsionado pelo aumento da produção de grãos. Já o VBP da pecuária deve avançar 2,2%, chegando a R$528,09 bilhões, com a bovinocultura de corte apresentando expansão de 4,7%.

Esse crescimento se daria apesar da expectativa de uma queda de 4,5% na produção de carne bovina e com maiores preços.

Com redução nos abates em função da retenção de fêmeas e uma demanda firme, as expectativas são de aumento nos valores da arroba do boi gordo e animais de reposição em 2026, disse a entidade.