Você já parou para pensar de onde vem a matéria-prima utilizada para a fabricação dos casacos de pele, tão cobiçados por mulheres de todo o mundo? Parece incrível, mas o Brasil é um dos maiores produtores e o segundo maior exportador de peles de chinchila do mundo, atrás apenas da Argentina, terra natal do roedor. O responsável pela introdução da atividade no País foi Carlos Perez, um argentino que nasceu em meio a uma criação familiar de chinchilas, mas que escolheu o Brasil para viver. Chegou em 1974, trazendo consigo cerca de 20 animais, mas hoje conta com quase cinco mil chinchilas em seu criatório em Itapecerica da Serra, na grande São Paulo, e é considerado um dos maiores especialistas no assunto. Segundo Perez, vítima constante de protestos por parte de ONG’s internacionais, sua criação é como outra qualquer. A diferença é que é bem mais rentável. O preço médio de uma pele de chinchila está em torno de US$ 70 no mercado internacional, mas em alguns casos podem alcançar os US$ 120, dependendo da qualidade. “Existe uma procura muito grande por peles. O mundo produz apenas 300 mil peles por ano, mas o mercado tem um potencial comprador para até 1,5 milhão de peles. Por isso o preço é tão alto”, afirma.

NEGÓCIO DA CHINA: depois de tratada, cada pele é vendida por US$ 70, em média, aos “brokers” estrangeiros. O custo de manutenção das chinchilas é de US$ 1,5/mês

O criador, que abate 4,5 mil animais/ ano, lembra ainda que os custos de manutenção dos animais são relativamente baixos. “Não temos muitas despesas. Cada chinchila custa US$ 1,5 por mês. Fora que não é preciso ter fazenda para começar uma criação. Com 400 m2 você consegue criar até três mil chinchilas”, garante. O mais caro, segundo ele, é o tratamento da pele, feito exclusivamente por um curtume no Rio Grande do Sul, que custa em média US$ 4 por animal, mas é fundamental para agregar valor ao produto.

Mesmo sendo um negócio altamente atrativo, não existem muitos criatórios no Brasil. De acordo com a Associação Brasileira dos Criadores de Chinchila, o País conta com pouco mais de 500 criadores, que produzem cerca de 40 mil peles ao ano. Tudo é exportado via “brokers” como o canadense Brent Poley, um dos maiores compradores de pele do mundo, que vem ao Brasil ao menos quatro vezes por ano em busca de matéria-prima para abastecer os estilistas europeus. Para a próxima visita, que deve acontecer em dezembro, Poley encomendou 20 mil peles, mas só deve conseguir algo em torno de oito mil.

Uma vez nas mãos dos costureiros, as peles finalmente se transformam em roupas. Cada casaco consome até 200 peles e custa pelo menos US$ 40 mil ao consumidor final. E nem a crise econômica mundial parece abalar o negócio. “Mesmo com a crise, sempre vai existir um mercado para os artigos de luxo, principalmente em mercados emergentes, como a China. O comprador estrangeiro vai continuar vindo e levando tudo o que tivermos”, completa o argentino.

Mas se é tão fácil e rentável, porque existem tão poucos criadores? Na opinião da Associação Brasileira dos Criadores de Chinchila, o maior obstáculo encontrado pelos iniciantes é a pressa em alcançar os resultados esperados. Segundo a entidade, para que o negócio comece a fluir, com um plantel de qualidade, é preciso no mínimo quatro anos, pois as matrizes – sim, também existe um trabalho genético na atividade – geram apenas quatro filhotes por ano.