O aumento dos custos de produção pressionou o mercado de proteínas animais por todo o mundo ao longo de 2022. A inflação global provocada pela alta das commodities, pelos preços dos combustíveis e de energia tende a continuar, o o que tornará o cenário ainda bastante desafiador para os produtores durante o decorrer deste ano. Além disso, a guerra na Ucrânia segue sem solução provocando instabilidade na economia global e causando impactos em toda a cadeia produtiva. Do lado do consumo, há ainda muita expectativa sobre o crescimento da economia da China, grande consumidor de proteínas. O gigante asiático tem enfrentado novas ondas de Covid-19 e não se sabe quando voltará a crescer em níveis pré-pandemia. Mesmo assim, houve aumento do consumo de carne proveniente do Brasil entre os chineses. Segundo o analista de mercado de proteína animal do Rabobank, Wagner Yanaguizawa, “a China elevou suas compras e respondeu por 55% do total exportado, o que deve continuar ocorrendo em 2023”.

Se as incertezas globais afetam os resultados das exportações brasileiras, no mercado doméstico há outras variáveis que pesam na rentabilidade do setor de proteínas. A inflação fechou o ano com o IPCA em 5,79%, bem acima da meta estipulada pelo Banco Central (que era de 3,5%) e também pesou no bolso do consumidor brasileiro. Ainda de acordo com o analista do Rabobank, “a alta dos preços levou o brasileiro a diminuir bastante as compras de carne bovina”.

No total, a produção brasileira desse item chegou a 10,2 milhões de toneladas em 2022 e a expectativa é de crescimento tímido, apenas 2% neste ano, para 10,4 milhões. De acordo com estimativas da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), as projeções para o aumento de exportações de carne bovina também é modesta: 1,5%. Se a previsão se cumprir, as vendas ao exterior chegarão a 2,7 milhões de toneladas até dezembro. Em 2022, foram exportadas 2,69 milhões de toneladas.

“O Brasil tem grande capacidade de oferta e demanda internacional continuará firme” Wagner Yanaguizawa Rabobank (Crédito:Divulgação)

Apesar do pouco otimismo com as vendas, produtores brasileiros elevaram a quantidade de bovinos confinados, atingindo em 2022 a marca recorde de 6,95 milhões de cabeças. O crescimento foi de 4% em relação ao ano anterior e de 46% ante 2015, segundo o Censo de Confinamento feito pela DSM, multinacional especializada em nutrição animal.

SUÍNOS E AVES No caso de suínos, a produção está em alta por nove anos e o consumo interno atingiu o maior volume dos últimos anos, superando a casa dos 18 quilos per capita. Ainda assim, é por causa das vendas ao mercado externo que a produção tem crescido mais.

Isso se deve à maior competitividade dessa proteína em relação ao boi. No total, a produção de suínos cresceu 2,5% no último ano em relação a 2021, atingindo a marca de 4,47 milhões de toneladas. Para este ano, a projeção é subir 1%, chegando a 4, 519 milhões de toneladas. Deste total, 1,3 milhão de toneladas devem ser exportadas, 2% a mais que no ano anterior.

Assim como nas previsões para bovinos e suínos, o setor de frango não alimenta grandes expectativas para 2023. A produção deve chegar a 14,791 milhões de toneladas neste ano, 1,5% acima das 14,573 de 2022. As exportações, porém, devem subir 3%, passando das 4,394 milhões de toneladas de 2022 para 4,526 milhões em 2023, de acordo com os dados da ABPA.

Segundo o analista Yanaguizawa, a China também é o maior mercado para o frango brasileiro. “O Brasil tem grande capacidade de oferta, custo competitivo, por isso a carne brasileira está sendo muito demandada”, afirmou, deixando um alerta: “É preciso ficar atento porque pode haver um aumento de barreiras sanitárias”. Um problema a mais para quem produz de olho nas exportações.