São raros os produtores rurais com dinheiro em caixa suficiente para pagar à vista por máquinas e equipamentos agrícolas. Um trator de média potência não sai por menos de R$ 100 mil, uma colhedora ultrapassa facilmente R$ 1 milhão. Por isso, financiar tem sido ao longo dos anos a saída mais fácil para renovar a frota no campo. Nos últimos tempos, de olho nesse público, os bancos das montadoras do setor agrícola têm se mostrado mais dispostos a encurtar o caminho do crédito aos produtores. Esse movimento tem um motivo. Os maiores agentes financiadores, basicamente os grandes bancos comerciais, têm se mostrado mais contidos na concessão de empréstimos neste ano. Como resultado, a liberação de recursos através da linha BNDES Finame (principal agente financiador desse segmento) caiu desde o início do ano, abrindo espaço para as instituições bancárias ligadas aos fabricantes atuarem com mais vigor.

Nos primeiros sete meses de 2015, o banco CNH Industrial, ligado às marcas Case IH e New Holland, do grupo Fiat, liberou R$ 825 milhões em crédito, crescimento de cerca de 75% em relação ao registrado no mesmo período do ano passado, quando financiou R$ 475 milhões. Esse desempenho mostra que o banco do grupo italiano percorreu um caminho inverso ao do mercado.  Os dados mais recentes do BNDES Finame apontam que o recuo para o financiamento, no setor, foi de 10% no primeiro semestre de 2015, totalizando R$ 4,67 bilhões, ante os R$ 5,17 bilhões do mesmo período de 2014.  “O fato é que os bancos tradicionais se retraíram e essa posição abriu espaço para a nossa participação”, diz Jucivaldo Feitosa, diretor comercial do banco CNHI, detentor de um patrimônio líquido de R$ 1,2 bilhão. “Nosso objetivo, neste momento, é ocupar ainda mais o espaço deixado por esses bancos.”

O caminho até chegar ao produtor é conhecido de cor e salteado pela indústria. Como a função dos bancos das montadoras é, exclusivamente, fomentar os negócios da marca, eles acabam sendo um instrumento mais fácil e ágil para o produtor comprar tratores, colhedoras e pulverizadores. “Nosso prazo de aprovação de crédito, por exemplo, é, em média, 20% mais curto do que o mercado tradicional consegue oferecer”, afirma Feitosa. Isso significa que a liberação dos recursos pode sair em até 60 dias, através das montadoras, em vez dos 75 dias, como tem ocorrido na média do mercado de crédito. Além disso, no mês passado, o banco passou a garantir um prazo de carência maior para a primeira amortização de juros. O prazo mais praticado no mercado, que era de seis meses a um ano, passou a ser de dois anos. “Estamos usando o máximo de tempo que essa linha de crédito pode oferecer”, diz Feitosa. Para ele, ao conceder mais tempo para os financiamentos, os fabricantes buscam uma forma de assegurar o fluxo de caixa do produtor, no próximo ano. Em 2014, segundo o BNDES, o Banco CNHI liberou R$ 1,84 bilhão pelo Finame.


“O fato é que os bancos tradicionais se retraíram e essa posição abriu espaço para a nossa participação” Jucivaldo Feitosa,
diretor comercial do banco CNHI

Para a maioria das instituições financeiras que atuam no mercado agrícola, a fonte dos recursos é essencialmente a mesma: o Finame do BNDES. Em 2014, foram liberados R$ 11,8 bilhões para o financiamento de máquinas e equipamentos ao produtor, valor equivalente a 18,4% do total de crédito concedido nessa linha. O Finame é a fomnte de maior demanda no mercado, por ter taxas bem competitivas. Em 2015, os juros anuais passaram para 7,5% para clientes com faturamento de até R$ 90 milhões e foram a 9,5% para receitas superiores. Mesmo assim, ainda são bem vantajosos se comparados ao contexto financeiro do País, com uma inflação acumulada em 9,5% e uma taxa Selic de 14,25%.

O agrado das montadoras
As vantagens que os bancos dos fabricantes de máquinas agrícolas  estão oferecendo

  • Aprovação mais rápida de crédito
  • Prazo de carência maior, para iniciar a quitação do débito
  • Até dois anos a mais, para quitar o financiamento

É nesse clima que os bancos das montadoras oferecem cada vez mais vantagens aos produtores rurais, customizando seus pacotes de crédito. A AGCO Finance, uma parceria do grupo AGCO, com o banco De Lage Langen, uma subsidiária do grupo holandês Rabobank, esticou o prazo de financiamento em dois anos. Para as marcas da AGCO, Massey Ferguson e Valtra, o prazo passou de 72 para 96 meses. “Garantir condições mais favoráveis ao produtor rural atrai mais clientes”, diz Gustavo Walch, superintende da AGCO Finance. Para este ano, o banco estima fechar um total de R$ 1 bilhão de créditos liberados, repetindo o desempenho do ano passado. “Diante do cenário econômico do País, esse resultado é um fato positivo”, diz Walch.  E, para atrair ainda mais clientes, o banco foi além do que oferece o Finame. Para as máquinas importadas, que não são contempladas por essa linha, a AGCO Finance oferece linhas de Crédito Direto ao Consumidor (CDC) com taxas que partem de 0,79% de juros, ao mês. “Para o mercado de importados nossa taxa é muito vantajosa”, afirma Walch. “Mas, ela ainda é complementar às linhas do Finame.”