Vaca feliz vive mais e produz melhor. No caso de uma vaca leiteira, essa máxima do mundo animal significa mais lucro no bolso do produtor. Por conta disso, o médico veterinário Maurício de Castro Greidanus, sócio da fazenda Frank’Anna, no município de Carambeí, uma das principais bacias leiteiras do Paraná, diz que faz o que for necessário para arrancar mugidos de satisfação de seu rebanho de 590 fêmeas holandesas, das quais 520 estão em produção. “Vaca feliz é fruto de bem-estar animal e sem ele não há leite na ordenha”, afirma Greidanus. Uma de suas principais ferramentas é interpretar os sinais expressados pelo comportamento das vacas, indicadores que ajudam no manejo visando é aumentar a produção leiteira. “Nossa produção crescido ao longo dos tempos 5% ao ano”, diz. Em 2014, a fazenda Frank’Anna produziu 6,4 milhões de litros de leite, mas a meta é chegar a sete milhões, neste ano, e dez milhões em 2018, com 750 vacas em produção. Hoje, a fazenda está entre as 20 maiores 
produtoras de leite do País, segundo a consultoria paulista Milkpoint.

Greidanus é um dos poucos no Brasil que utiliza o conceito de leitura da linguagem corporal das vacas, para turbinar a produção. Em sua fazenda, a média diária por vaca é de 34 litros de leite. Entre as
mais produtivas, há um grupo formado por 360 animais, no qual a média é de 60 litros de leite, em quatro ordenhas diárias. Esse volume é 12 vezes superior à média brasileira. No País, a média por vaca ordenhada é de cinco litros diários, para 24 milhões de animais. “Usamos boa genética, tecnologias de reprodução, mas observar o animal é essencial”, diz Greidanus. Para o especialista holandês Joep
Driessen, médico veterinário que estuda comportamento de vacas leiteiras desde que se formou na universidade de Utrecht, em 1994, o Brasil poderia rapidamente dobrar a produtividade do rebanho, caso adotasse práticas de bem-estar e monitorasse o comportamento animal. “Pode-se conseguir até duas lactações extras na vida de cada vaca”, afirma Driessen, que esteve no País, em 2014, a convite da Alltech do Brasil, empresa americana de nutrição e saúde animal. 

A visita proporcionou o segundo encontro entre Greidanus e Driessen. O primeiro aconteceu, há quatro anos, em uma das viagens do produtor aos Estados Unidos para participar de um congresso no
qual Driessen era um dos palestrantes. “Ele abordava exatamente a importância da leitura dos sinais corporais da vaca para maiores ganhos”, diz Greidanus. “Fiquei muito interessado em ouvi-lo para confirmar se estava no caminho certo”. A leitura corporal dos animais faz parte do trabalho de Greidanus desde meados dos anos 1990, quando começou a produção leiteira em sociedade com o sogro, o imigrante holandês Franke Dijkstra, um dos pioneiros do plantio direto em 1972 no Brasil. “Posso dizer que numa avaliação de zero a dez, estou com nota oito em relação à leitura dos sinais de meu gado”, diz Greidanus. 

Em 2014, a receita com a venda do leite da Frank’Anna foi de R$ 7,3 milhões, o que dá uma média de R$ 1,14 por litro entregue em uma cooperativa da região. A cotação obtida pela fazenda foi 6,5% superior
à média do Estado, de acordo com o Cepea/USP. “Chegamos bem até aqui porque desde que comecei a tirar leite tenho o costume de olhar o gado”, diz Greidanus. “E mudar o que for preciso.” 

Para Driessen, que patenteou e criou uma consultoria chamada “CowSignals” ou, literalmente, “Sinais da Vaca”, o produtor de leite deve garantir o bem-estar animal em seis momentos: fornecimento
de água fresca, luz, ar, descanso, espaço limpo e confortável e, por fim, na oferta de uma boa alimentação. Com todos estes itens em dia, o fazendeiro precisa desenvolver a capacidade de interpretar os
sinais corporais do animal, antes que um dos seis elementos mal geridos interfira na produção de leite. “Não é difícil aprender a técnica”, afirma Driessen. De acordo com o especialista, o primeiro passo é observar todos os animais no pasto ou nas baias. A partir desse ponto, o produtor deve diminuir seu campo de visão e se concentrar no comportamento individual de cada vaca, observando como ela se alimenta, anda ou fica parada, ou mesmo se há alguma

lesão pelo corpo. “Sinais de contusão podem significar que o leito de um animal confinado está muito pequeno”, afirma Driessen. De acordo com o zootecnista Luis Keplin, gerente nacional para gado de leite da Alltech, que acompanhou Driessen em sua viagem pelo Brasil, a leitura corporal serve para dar uma visão do quanto uma fazenda pode ganhar, sem que o produtor entre no vermelho. “Monitorar o rebanho não envolve alto custo”, afirma Keplin. “Às vezes, uma pequena intervenção em uma baia, na dieta, ou na posição do cocho de comida, pode fazer a diferença entre o prejuízo e o lucro”. No entanto,
apenas observar o gado não é suficiente. “Tenho visto produtores observando o comportamento de animais, mas nem sempre eles sabem bem o que fazer com a informação”, diz Keplin. 

Para Driessen, um bom começo seria dar a máxima atenção a uma vaca que fique parada, em estado de espera. Esse é o principal sinal de que algo não vai bem. “As vacas não têm tempo para esperar”,
diz Driessen. “Elas devem ser vistas como grandes maratonistas”. Não se trata apenas de uma figura de linguagem. Segundo Driessen, uma vaca que produz 30 litros de leite por dia requer a mesma
energia de um atleta para percorrer 42 quilômetros. “Uma vaca saudável está sempre se alimentando, ruminando, na ordenha ou descansando, mas nunca está passiva ”, afirma o especialista holandês.