09/10/2013 - 16:14
Foi dada a largada para o plantio da safra 2013/2014 de grãos no Brasil. Mas, ao contrário de anos anteriores, quando as expectativas ficavam em torno da quebra de recordes na produção de grãos, as atenções estão voltadas para a lavoura de soja, que deve atingir a casa dos 88 milhões de toneladas e, enfim, ultrapassar a safra americana prevista de 85 milhões de toneladas. Na safra 2012/2013, encerrada em julho, o Brasil chegou perto de tornar-se o maior produtor mundial da oleaginosa. Mas, com perdas de safra provocadas pela seca no Nordeste e pelo excesso de chuvas no sul do País, a produção nacional foi de 81,4 milhões de toneladas, 0,7% menor que a americana. “A produção de soja deve crescer em cima de áreas de pastagens e milho”, diz Glauber Silveira, presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja). “Só um desastre tiraria essa liderança do País.” Além da soja, de acordo com os especialistas do setor, o algodão deve ser o destaque positivo e o milho, o negativo.
Os elevados preços pagos pela saca de soja no mercado internacional são o combustível para a corrida dos agricultores brasileiros pela ampliação da produção. Desde o ano passado, quando a cotação da soja superou os R$ 80 por saca de 60 quilos, os preços da commodity têm se mantido bem acima dos valores históricos de R$ 40 por saca, e isso não deve mudar no ano que vem, afirma Silveira. “a forte demanda pelo grão deve manter os preços acima de R$ 60 por saca”, diz o presidente da Aprosoja. “A valorização do dólar frente ao real é outro atrativo importante.” Segundo Silveira, a área de plantio de soja deve crescer cerca de 6%, alcançando 29,3 milhões de hectares, ante os 27,7 milhões de hectares no período anterior. A cultura vai expandir o cultivo em cima do milho de verão no Paraná e no Rio Grande do Sul, e com a absorção de terras de pastagens, em Mato Grosso, já que a área de algodão, que é plantada no mesmo tempo da soja, também deve crescer. “A expectativa é de que o algodão também terá preços mais atrativos”, diz Silveira.
Na cotonicultura, a expectativa do mercado para a nova safra é de uma produção 3,5% maior, alcançando 3,3 milhões de toneladas, contra os 3,2 milhões de toneladas colhidas em 2012/2013. No entanto, esse resultado ainda se mantém aquém dos volumes históricos de 6 milhões de toneladas produzidas no Brasil antes da crise econômica mundial. Segundo Amaryllis Romano, sócia da consultoria paulista Tendências, a safra 2012/2013 já vinha de uma queda expressiva na produção de algodão de 33%, e o pequeno aumento previsto para a próxima colheita não deve interferir nas cotações da cultura no mercado internacional. “Será um período de boa margem de lucro para os produtores”, diz Amaryllis.
Já a produção de milho deve se reduzir, em decorrência da recuperação e da expansão esperadas na safra americana, que pode superar a casa dos 350 milhões de toneladas. De acordo com Amaryllis, como os produtores brasileiros já ficaram desconfiados com os valores 10% menores obtidos neste ano, e com o volume maior produzido pelos EUA, que tende a derrubar ainda mais a cotação internacional do cereal, optaram por diminuir a área plantada. Com isso, a produção brasileira de milho, que chegou a 81,3 milhões de toneladas em 2012/2013, pode cair para 79 milhões de toneladas. “Mesmo assim, acredito que a safra de grãos brasileira possa crescer pelo menos 2% no próximo ano”, afirma Amaryllis. “Vamos ultrapassar 190 milhões de toneladas.”
Em meio à euforia dos produtores, Leonardo Machado, assessor técnico da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), alerta que, além da preocupação natural com o clima, é necessário redobrar os cuidados com a forte incidência de três pragas de difícil controle: a lagarta helicoverpa, a mosca branca e a ferrugem asiática, que afetam a produtividade de culturas como a soja e o milho. “É importante o agricultor se precaver e fazer o tratamento correto das culturas”, diz Machado. “Assim, ele evitará prejuízos maiores.” De acordo com dados da Embrapa, só com a ferrugem da soja, descoberta em 2001, as perdas dos produtores rurais podem chegar a US$ 20,8 bilhões.