09/07/2018 - 10:00
Especial – Brasil no mundo
Pelo ranking do Fundo Monetário Internacional (FMI), a China e a Índia são respectivamente a segunda e a sétima maior economia do mundo. Neste ano, elas devem somar um Produto Interno Bruto (PIB) de US$ 16,4 trilhões, 19,4% da riqueza gerada no planeta. Há quem aposte que, em 2050, China e Índia sejam as maiores economias globais, deixando para trás os Estados Unidos, o Japão, a Alemanha, o Reino Unido e a França. Independentemente de os países se tornarem, de fato, líderes globais, existe uma questão que chama a atenção ad agronegócio brasileiro: eles contam com uma população de 1,4 bilhão de chineses e de 1,3 bilhão de indianos. Juntos, respondem por mais de um terço das 7,4 bilhões de pessoas no mundo. “A China e a Índia são países que vão importar cada vez mais alimentos daqui para frente”, afirma o agrônomo Fabio Meneghin, sócio e consultor da Agroconsult, de Florianópolis (SC). “Já somos um grande parceiro comercial com a China, mas temos grandes oportunidades para crescer ainda mais por lá e tornar mais expressiva as exportações para a Índia.”
Isso significa que não só a soja está em jogo, mas o milho, as proteínas animais, como as carnes bovina, suína e de aves, o feijão, as frutas, o café e até o etanol devem ser mais frequentes nos embarques aos dois países. Mas o Brasil precisa fazer direito sua lição de casa. Saber se comunicar com mais agilidade e clareza com os demais países, além de reforçar as políticas de fiscalização de sanidade, segundo o engenheiro civil Jacyr da Silva Costa Filho, presidente do Conselho Superior do Agronegócio da Federação da Indústria do Estado de São Paulo (Cosag/Fiesp) e diretor da Região Brasil da cooperativa francesa Tereos, grande produtora do setor sucroenergético nacional. “Hoje se fala em dois meses o tempo para responder um simples questionário no processo de acordos com outros países”, diz Costa Filho. “Isso não existiria se houvesse uma resposta padrão.”
A boa notícia, para o agronegócio brasileiro, é que os dois países não são suficientes na produção de alimentos. Nem vão ser futuramente. A força da China está principalmente em exportações de aparelhos eletrônicos, vestuário, produtos minerais, metalúrgicos e químicos. Já a Índia comercializa mais pedras preciosas, medicamentos, vestuário, petróleo e componentes eletrônicos e elétricos. “A própria China já se declarou como a grande importadora de alimentos”, diz Meneghin. Nos últimos anos, tanto a China como a Índia tem aumentado as importações de alimentos a uma taxa de 15% ao ano. Apesar de os países possuírem rendas per capitas baixas – o FMI estima que, este ano, um chinês ganhe US$ 10,1 mil e um indiano US$ 2,8 mil –, a perspectiva é de melhoria da procura por alimentos mais diversificados na mesa. Na Índia, por exemplo, grãos como a lentilha, variedades de feijões e o grão de bico são uma oportunidade. “Mas o país vem aos poucos deixando de ser totalmente vegetariano”, afirma Meneghin. “Uma nova onda de consumidores está crescendo no país interessados em comer carnes.” Hoje as pautas das exportações brasileiras para a Índia são em grande parte o açúcar, a soja, os produtos florestais e o couro. Foram negociadas 3,3 milhões de toneladas de produtos, apenas 1,8% do total exportado pelo agronegócio no ano passado.
“A china e a índia são países que vão importar cada vez mais alimentos daqui para frente” Fabio Meneghin,
sócio da Agroconsult
As remessas para a China, o maior parceiro comercial do Brasil na pauta agrícola, se resumem em soja e produtos florestais. No ano passado, foram negociadas 62,3 milhões de toneladas, 34% do total do comércio internacional das commodities agrícolas do País. A promessa ainda recai sobre a intensificação de embarques de maiores quantidades de proteína animal, além de frutas, café e, futuramente, o etanol. O governo chinês tem sinalizado com a possibilidade de adicionar 10% de etanol à gasolina em 2020. “É uma grande oportunidade para as empresas do setor sucroenergético no Brasil”, diz ele. “Estima-se uma demanda inicial de 15 bilhões de litros do biocombustível.” Não por acaso, o País não pode dormir no ponto. Foi o que ocasionou, por exemplo, o crescimento da taxação do açúcar brasileiro no país asiático. Desde maio do ano passado, o produto nacional que exceder a cota de 1,95 milhão de toneladas por ano, sai de uma taxa de importação de 50% para 95% sobre o valor exportado. Com a medida, as exportações no ano passado caíram 86,3%, totalizando 334 mil toneladas de açúcar. “O Brasil ficou por muitos anos fora de acordos comerciais no País, isso permitiu que outros países tomassem seu lugar”, diz Costa Filho. “Isso não pode mais acontecer.”