01/04/2014 - 3:38
Na década de 1970, nem em sonho o produtor João Apoloni, dono da fazenda Boa Sorte, em Quarto Centenário (PR), imaginava que um dia iria colher 80 sacas de soja por hectare. Há 40 anos, suas lavouras produziam no máximo 30 sacas de soja por hectare, volume que na época já era um feito espetacular. No País, a média estava próxima de 18 sacas por hectare. Apoloni conseguia se destacar entre seus vizinhos por ser um aficionado por produtividade, manejo de solo e controle de pragas, características que a maior parte dos agricultores da época não possuía. O tempo passou, e hoje, graças ao uso intensivo de tecnologia, seu filho Carlos Apoloni produziu nesta safra, pela primeira vez na história da fazenda Boa Sorte, 83 sacas de soja por hectare. Segundo Carlos, esse recorde se deve basicamente ao uso de semente de soja transgênica, a Intacta RR2 Pro, desenvolvida pela americana Monsanto. A semente, além de ser produtiva e resistente ao herbicida glifosato, defende a lavoura do ataque de pragas, como a famigerada helicoverpa. “Quando contei a meu pai a produtividade alcançada em escala comercial, ele ficou de boca aberta”, diz ele.
A Monsanto licenciou nove empresas para vender as sementes transgênicas no País, entre elas Syngenta, Coodetec, Don Mario e Nidera. A soja transgênica da empresa foi desenvolvida para as condições brasileiras de clima e solo, testada em 1,5 mil propriedades das diferentes regiões produtoras e colocada no mercado nesta safra, depois de ser aprovada pelos principais países importadores de soja. Entre eles, o sinal verde mais aguardado era o da China, atualmente o maior cliente da oleaginosa brasileira. Na fazenda Boa Sorte, 150 hectares foram destinados à nova tecnologia, do total de 2,5 mil hectares agricultáveis da propriedade. “Nossa produtividade média é de 58 sacas, mas queremos mais”, diz Apoloni. Para a próxima safra, a previsão é aumentar a área cultivada com as novas sementes para 350 hectares. “Estamos testando dez novas variedades para descobrir quais são as que se adaptam ao nosso clima e solo.”
O principal atributo da Intacta RR2 Pro é sua resistência a pragas como as lagartas falsa medideira e helicoverpa armigera. Somente com a helicoverpa as perdas anuais ultrapassam R$ 10 bilhões no mundo, segundo a Fundação Mato Grosso, de Rondonópolis (MT). Apenas em Mato Grosso foi gasto R$ 1 bilhão para controlar a praga no ano passado. “A redução de custos é um fato”, diz Apoloni. “Na área da nova soja não fizemos aplicações de defensivos.”
Atraído pelos menores custos para manter a lavoura, o produtor Moacir Ferro, dono da fazenda Nossa Senhora Aparecida, de Maringá (PR), também destinou parte de suas terras para a nova semente da Monsanto. Dos 200 hectares de soja, 50 hectares foram plantados com a Intacta. Segundo o produtor, a economia com defensivos agrícolas foi de R$ 100 por hectare. “Normalmente faço três aplicações de defensivos”, diz Ferro. “Mas na área com a nova semente não fiz nenhuma e economizei R$ 5 mil.”
No entanto, há um longo caminho para a adoção da nova semente. Uma das grandes batalhas em curso na Monsanto é convencer os produtores de que as áreas de refúgio são fundamentais para proteger culturas transgênicas; caso contrário, elas correm o risco de se tornarem ineficazes dentro de poucos anos. A técnica do refúgio consiste em reservar 20% da área à soja convencional, evitando-se assim que lagartas resistentes à tecnologia se multipliquem. Guilherme Lobato, gerente de biotecnologia de soja da Monsanto para a região Sul, diz que a durabilidade da nova tecnologia depende dessas áreas de refúgio. “Somente com elas não perderemos 11 anos de pesquisas”, afirma Lobato. A preocupação faz sentido, pois, enquanto nos Estados Unidos a medida é obrigatória, no Brasil ela ainda depende da vontade do produtor. E aí mora o perigo. Segundo Apoloni e Ferro, há produtores vizinhos às suas propriedades que estão plantando a soja transgênica sem refúgio. “Não adianta apenas um fazer o certo”, diz Apoloni. “Se não for em conjunto, voltaremos a ter de enfrentar as lagartas, coisa que não gostaria de fazer.”