PREPARAÇÃO: Doda participou do Athina Onassis Horse Show, no Rio, com vista à Olimpíada de Londres

Imagine um menino magro e mirrado ao lado de um cavalo de corrida. Imagine agora esse menino e o cavalo em um pasto, a perder de vista no horizonte. Aos olhos de Álvaro Affonso de Miranda Neto, o cavaleiro paulista conhecido pelo apelido de Doda, essa imagem já foi aterradora. Na infância, Doda tinha medo de cavalos. Passadas quase três décadas e muitas cavalgadas, a história é outra. Aos 39 anos de idade, Doda está casado desde 2005 com uma das mulheres mais ricas do mundo, Athina Onassis, neta do célebre armador grego Aristóteles Onassis. Ela própria uma amazona, Athina já o encontrou consagrado por carreira de vitórias em competições hípicas nacionais e internacionais em modalidades como salto, que fizeram dele o décimo melhor cavaleiro do mundo no ranking da Federação Equestre internacional (FEI). “Ficar entre os melhores do mundo foi um objetivo traçado e alcançado”, afirma Doda. “A conquista é fruto de dedicação e da boa fase de entrosamento com os meus cavalos.”

A sintonia com os cavalos, segundo ele, levou um bom tempo para se ajustar. “Na infância sentia medo de cavalos, apesar de crescer ouvindo boas histórias do Regimento de Cavalaria Andrade Neves, em que meu avô serviu.” Hoje, para Doda, estar entre os melhores do mundo também causa um certo medo, mas de um outro tipo. “Agora, quero um desafio maior”, diz. “Minha peleja é subir no ranking da FEI para estar entre os três melhores do mundo.” Para ele, essa tarefa não é tão complicada como aparenta e lembra um pouco como conseguiu se livrar do trauma com os cavalos na infância. Ele conta que perdeu o medo depois dos 9 anos, época em que passou a frequentar diariamente as aulas de equitação no Clube Hípico Santo Amaro, em São Paulo. “Foi a convivência com os animais que me levou à paixão pelo esporte”, afirma Doda.

EM FAMÍLIA: Athina Onassis, que também pratica equitação, e Doda Miranda compraram um centro hípico na Holanda

Hoje, ele pratica hipismo oito horas por dia em pistas de competição equestre em Bruxelas, na Bélgica, cidade onde vive desde 1995. Mas não se desliga do Brasil e regularmente passa alguns meses por ano no País. Nos dois casos, quando está fora das pistas de equitação, se contenta com outras atividades para manter a forma, como corrida, ciclismo e futebol. “O esporte é uma mania de família. Meu pai já praticava equitação na adolescência e me contava suas experiências”, diz. “As histórias dele na Vila Militar, em Deodoro, no Rio de Janeiro, me davam muita segurança para seguir em frente.” Doda é filho do empresário Paulo Miranda, um dos donos da seguradora paulista Pamcary, especializada no transporte de cargas.

Doda começou a colecionar prêmios aos 11 anos. O primeiro foi no Torneio Mirim Pão de Açúcar, em 1984, realizado em São Paulo. “Foi a primeira vez que disputei um campeonato e amadureci como atleta”, diz. Daí em diante, segundo ele, não existia mais vestígios do garoto medroso. Aos 14 anos, no último campeonato que disputou na categoria mirim, Doda foi o campeão paulista. “Depois, consegui outras três vezes ser campeão paulista e campeão brasileiro por duas vezes.” Até os 18 anos, o cavaleiro conquistou ainda um terceiro lugar no Campeonato Brasileiro de Hipismo. Foi nessa época que o seu pai criou a Copa Pamcary Young Riders. A disputa era aberta a cavaleiros entre 16 e 20 anos e servia de preparação para a categoria sênior. Doda foi campeão quatro vezes. “Competir se tornou algo natural em mim”, afirma.

Não foi apenas no Brasil que o cavaleiro ganhou destaque nos centros hípicos. Em 1992, sagrou-se vencedor do Grande Prêmio da Alemanha e, no mesmo ano, ainda conquistou a medalha de bronze por equipe, na Itália. Mas apesar de todas as conquistas, faltava ganhar uma medalha em Jogos Olímpicos. “Eu só pensava nisso”, diz. “Treinava com a obsessão por participar de uma disputa dessa.” Quatro anos depois, em 1996, lá estava ele na Olimpíada de Atlanta, nos Estados Unidos. “Fiquei com o bronze”, diz. “Foi a primeira medalha olímpica do Brasil, na equitação.” Depois, em 2000, Doda repetiu o prêmio na Olimpíada de Sydney, na Austrália. Mas, antes disso, em 1999, ele havia sido medalha de ouro nos Jogos Pan-Americanos de Winnipeg, no Canadá. “Todos os prêmios desses jogos fazem parte dos momentos marcantes da minha vida e que sempre carrego comigo”, diz.

Na bagagem do atleta, além de boas recordações, ele leva um plano semanal de competições seguidas à risca. Atualmente, em todos os fins de semana Doda está em alguma cidade da Europa ou da Ásia, disputando campeonatos. “Meu objetivo é estar nas principais competições, como as etapas da Copa do Mundo, do Global Champions Tour e da Copa das Nações, para pontuar na FEI”, diz. Tudo isso, realizado ao lado da filha de Christina, filha de Onassis, com Thierry Roussel, magnata francês da indústria farmacêutica. Ele conheceu Athina, 12 anos mais nova, no circuito de competições em 2003. No início deste ano, ela conquistou o sexto lugar no GP e o título de melhor amazona do campeonato Internacional de Amsterdã. No ano passado, Athina, que é dona de uma fortuna estimada entre US$ 800 milhões e US$ 2 bilhões, e Doda compraram um centro hípico, o AD Stables, em Valkenswaard, na Holanda. É lá que eles treinam para as competições. “Na conta de 2011 coloco duas conquistas, a compra da hípica que nos deu tranquilidade para treinar e a minha vitória no GP do Global Champions Tour, no Catar”, diz Doda.

Segundo ele, um cavaleiro premiado não se faz sem um bom cavalo. Suas vitórias foram possíveis graças a animais como Bawani, o cavalo da raça anglo-árabe que marcou o início de sua carreira na equitação. Outro animal lembrado é Aspen, cavalo que o projetou internacionalmente quando participou dos Jogos Olímpicos e do Pan-Americano. Sua aposta, hoje, é nos recém-comprados Dan e Rahmannshof’s Bogeno, da raça purosangue lusitano, com os quais participará da próxima Olimpíada, em Londres. Está em seus planos, além da Olimpíada, se destacar no evento promovido pela sua mulher, o campeonato Athina Onassis Horse Show, em agosto, no Rio de Janeiro.

Doda não estará sozinho defendendo o País nessas duas competições. Para ele, quanto mais brasileiros na pista melhor. Luiz Roberto Giugni, presidente da Confederação Brasileira de Hipismo (CBH) faz coro com o cavaleiro, mencionando a importância da participação de competidores como Rodrigo Pessoa e Bernardo Alves. “São atletas de primeiro time no mundo”, diz Giugni. “Não é à toa que o Brasil se tornou temido e respeitado no circuito internacional de hipismo.” Na opinião de Giugni, a colocação de Doda entre os dez primeiros no ranking da FEI só aumenta o respeito que o País tem conquistado no mundo. “Vamos com tudo para Londres ou para qualquer outro lugar”, diz Giugni.