Durante a sessão plenária desta sexta-feira, 31, na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp), a deputada estadual Thainara Faria (PT-SP), que é uma mulher negra, denunciou que foi vítima de dois episódios de racismo dentro da própria Casa, onde cumpre seu primeiro mandato. Um deles aconteceu nesta tarde, quando foi impedida por uma servidora de assinar o livro de presença sob a justificativa de que ‘é só para deputados’.

A parlamentar estava sentada à mesa, com uma placa de ‘deputada’ à sua frente, e estava usando o bóton dado aos membros do legislativo estadual. Thainara afirmou que ouviu a servidora comentar, pelas suas costas, ‘é difícil’ e decidiu confrontá-la. A servidora teria respondido ‘é que a senhora é nova, e a gente não aprendeu ainda quem são os deputados’.

Durante o discurso desta tarde, a deputada mostrou que todos os servidores recebem uma folha com o nome e uma fotografia de cada membro da Assembleia. Em nota, o presidente da Casa, André do Prado (PL-SP), disse que substituiu a servidora.

A Assembleia Legislativa de São Paulo, localizada no bairro do Ibirapuera, é a maior do País, com 94 deputados.

O outro episódio de racismo teria ocorrido no último dia 15, data da cerimônia de posse dos deputados. Thainara afirma que foi impedida de entrar na Assembleia por uma servidora e uma policial. As duas liberaram a entrada do assessor de Comunicação da parlamentar – que é um homem branco – e duvidaram que Thainara fosse tomar posse. “Aqui é só para os deputados. Cadê seu bóton?” disseram a servidora e a policial.

De acordo com a assessoria da parlamentar, os bótons estavam sendo entregues dentro da casa, para os empossados na cerimônia.

Thainara afirmou nesta tarde que, na cerimônia de posse, mais de dez vezes lhe pediram que abrisse espaço ‘para os deputados passarem’. “Vocês não estão acostumados com uma mulher preta circulando nessa casa. Não tem porque me barrar nos espaços, não tem porque me impedir de assinar um livro. O racismo, quando não dói, mata a gente.”

A equipe jurídica da parlamentar afirma que está elaborando um requerimento pra a abertura de uma sindicância em face da servidora que lhe impediu de assinar o livro nesta tarde.

Questionado sobre as providências que seriam adotadas em face dos dois episódios denunciados pela deputada Thainara Faria nesta tarde, o presidente da Alesp enviou a seguinte nota ao Estadão:

“O presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo, André do Prado (PL), se solidariza com a deputada Thainara Faria (PT).

De imediato, o presidente determinou providências ao Secretário Geral Parlamentar, que substituiu a funcionária pública envolvida no episódio. O caso será avaliado em âmbito administrativo.”