01/11/2011 - 0:00
“O principal entrave é o Custo Brasil, uma somatória de ineficiências que castigam os elos da cadeia”
é presidente do Centro das Indústrias de Curtumes do Brasil
Poucos setores da economia brasileira têm a capilaridade e o potencial apresentados pela indústria do couro e de peles. Um dos grandes motores da economia nacional, a atividade de processamento dessa matéria-prima está intimamente ligada à própria história do Brasil. Sua importância econômica é da maior grandeza. A indústria de processamento, que transforma o couro in natura em semiacabado ou acabado e pronto para a fabricação de diversos produtos, movimenta cerca de US$ 3,2 bilhões e emprega cerca de 50 mil pessoas. Já a cadeia produtiva do couro, que abrange os setores de curtumes, calçados, componentes, máquinas e equipamentos para calçados de couros, artefatos, além de artigos de viagem, reúne dez mil unidades industriais, gera mais de 500 mil empregos e movimenta uma receita superior a US$ 20 bilhões por ano.
No plano internacional, o couro brasileiro se destaca. O total exportado de US$ 1,74 bilhão, no ano passado, confirma as posições do País como o segundo maior produtor e o quarto exportador de couros do mundo – para 2011, a indústria projeta embarques da ordem de US$ 2 bilhões. De janeiro a agosto deste ano, os principais mercados do País foram China e Hong Kong, com US$ 413,68 milhões. A receita é equivalente a 29,6% do total exportado e representa um aumento de 4% em relação a igual período de 2010. Em seguida vêm a Itália, com US$ 323,16 milhões (23,1% de participação e elevação de 24%), e os Estados Unidos com US$ 147,77 milhões (10,6% e crescimento de 17%).
O fato de o Brasil ser dono do maior rebanho bovino comercial do planeta, o que gera abundante oferta de matéria- prima, é um dos fatores que explica o bom desempenho da indústria nacional. A escala de produção dessa cadeia do agronegócio vem sendo potencializada pelos avanços tecnológicos registrados. Na última década, o setor aumentou em 293% a parcela da receita obtida com a produção de couros acabados, o produto mais valorizado no mercado, passando de US$ 318 milhões, no ano 2000, para US$ 1,25 bilhão, em 2010. Finalmente, registre-se a importância da indústria de couros para a própria balança comercial do País, cuja participação representou 8,2% do saldo de 2010 e de 15,2% no primeiro trimestre deste ano.
Potência nacional: a cadeia do couro gera 500 mil empregos em 10 mil empresas que movimentam US$ 20 bilhões por ano
Infelizmente, tais conquistas vêm sendo progressivamente comprometidas nos últimos anos, gerando forte perda de competitividade do setor, em razão de dois fatores principais. De uma parte, por causa dos impactos das crises econômicas internacionais, que vêm afetando mercados de consumo conquistados pelo couro brasileiro, principalmente na Europa. Entretanto, o principal entrave é de origem interna, representado por uma política cambial adversa aos interesses dos exportadores e, em especial, pelo chamado Custo Brasil – uma somatória de ineficiências que castiga os agentes econômicos aqui instalados, representada pela absurda carga tributária, pela falta de linhas de crédito para capital de giro, pela morosidade na restituição dos créditos retidos nas exportações, pela excessiva burocracia e as mais altas taxas de juros do planeta.
A despeito desse cenário adverso, a indústria prossegue em seu esforço de promover o produto nacional. São boas mostras desse empenho a realização do 1º Congresso Mundial do Couro, neste mês, no Rio de Janeiro. Também digno de destaque é o programa Brazilian Leather, desenvolvido em parceria com a Agência Brasileira de Promoção das Exportações e Investimentos, a Apex-Brasil, que em recentes mostras mundiais tem apresentado aos países importadores o portfólio da indústria nacional. E a Feira de Xangai, em setembro, registrou a presença recorde de brasileiros.