O desmatamento brasileiro ligado às lavouras de café atingiu 737 mil hectares entre 2002 e 2023, de acordo com um relatório divulgado nesta quarta-feira que advertiu que os impactos ambientais negativos da perda de florestas poderiam afetar o setor.

O desmatamento direto — em que a terra foi desmatada para o cultivo — levou à derrubada de cerca de 312.803 hectares durante o período, disse a Coffee Watch em seu relatório, acrescentando que o restante veio da perda adicional de florestas nas fazendas de café.

+ Café de Nova Alta Paulista, extremo oeste de SP, recebe selo de indicação geográfica
+ Exportação de café verde do Brasil recua 18% com pressão de taxas dos EUA

Brasil é o maior produtor e exportador de café do mundo

O Brasil é o maior produtor e exportador de café do mundo, produzindo dezenas de milhões de sacas de 60 kg por ano. No entanto, seu futuro está em perigo, disse a Coffee Watch, devido ao impacto da perda de florestas para as chuvas necessárias para as colheitas.

“O Brasil precisa reverter o curso urgentemente porque esse desmatamento não é apenas um desastre de carbono e biodiversidade — também está matando as chuvas e levando à quebra de safra”, disse Etelle Higonnet, diretora da Coffee Watch, em um comunicado.

Em Minas Gerais, o principal Estado produtor do Brasil, oito dos últimos 10 anos registraram déficits de chuva, disse o Coffee Watch, acrescentando que a missão do satélite Soil Moisture Active Passive da Nasa mostra que a umidade do solo caiu até 25% em seis anos nas zonas de maior produção.

Embora os produtores do Brasil dependam tradicionalmente das abundantes chuvas de primavera e verão do país, as secas dos últimos anos levaram os agricultores a explorar opções de irrigação caras para acompanhar a demanda global.

O relatório combinou dados do MapBiomas, Hansen Global Forest Change e Nasa, entre outras fontes, para chegar às suas conclusões.

Fotografia de um pé de café especial na região com identificação geográfica do tipo Denominação de Origem "Matas de Rondônia"
Matas de Rondônia. Crédito: Renata Silva/Embrapa

Os cafeicultores brasileiros devem adotar práticas agroflorestais sustentáveis — atualmente utilizadas em menos de 1% das principais zonas cafeeiras — para garantir o futuro do setor, segundo o relatório.

O grupo de exportadores brasileiro Cecafé disse que o relatório se concentra no desmatamento de municípios inteiros e não analisa a dinâmica da preservação da vegetação nativa nas próprias fazendas.

O Cecafé apontou para uma pesquisa publicada pela Universidade Federal de Minas Gerais em 2023, que constatou que 99% das 115.000 propriedades produtoras registradas no cadastro ambiental rural não apresentaram desmatamento significativo desde 2008.

Café
Grãos – Foto: Embrapa