Por Sérgio Vieira

A reação é em cadeia: o agronegócio brasileiro tem sido duramente castigado pelas mudanças climáticas. A plantação é afetada. E o agricultor tenta salvar a sua produção. O problema, no caso do produtor brasileiro, está justamente na última parte dessa equação. O número de plantações que estão seguradas de eventuais catástrofes é muito pequeno, se comparado com o enorme risco a que estão sujeitas. “Os efeitos do El Niño e La Niña têm sido severos, porque desencadeiam chuvas em excesso, alterações na temperatura, secas e geadas”, disse Joaquim Neto, presidente da comissão de seguro rural da Federação Nacional de Seguros Gerais (FenSeg).

indenização a partir do seguro agrícola é um atenuante para quem vê de perto os efeitos do clima na conta final da colheita. Mas o número de quem segura a lavoura é assustadoramente preocupante. Somente 15% da área plantada no Brasil é efetivamente segurada. E isso vem diminuindo nas últimas safras. “É bem possível que hoje a gente esteja perto de 10%”, afirmou.

Ritmo mais severo das mudanças climáticas nos últimos anos tem ampliado a necessidade de indenizações aos produtores

Segundo dados do Registro Nacional de Sinistros (RNS) Rural, ferramenta desenvolvida pela Confederação Nacional das Seguradoras (CNSeg), os eventos de seca, granizo e geada foram responsáveis por 87% dos sinistros de seguro agrícola entre abril de 2012 e novembro de 2023, considerando o registro de oito seguradoras no País.

No período registrado, as principais ocorrências foram:
• a seca, com 72.293 sinistros,
• seguida por granizo (com 30.509),
• geada (19.896),
• chuva excessiva (11.012),
• e tromba d’água (2.282), entre os principais fatores de acionamento do seguro.

Ainda que os dados reflitam o período de quase 11 anos, é fato que nos últimos anos os impactos na agricultura e, por consequência, o acionamento dos canais de seguro tem sido maiores nos últimos anos.

“De cinco anos para cá, os impactos têm sido mais frequentes e mais severos. O ápice de ocorrência foi na safra 2021/2022, com eventos em todos os períodos do ano. Nesse período, a gente pôde demonstrar o apoio que o seguro garante ao agronegócio brasileiro”, afirmou Neto. “Não imaginávamos, que na safra atual, o El Nino viesse tão forte. Mas houve aumento de aviso de sinistro, principalmente em Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Paraná.”

(Divulgação)

“Os efeitos do El Niño e La Niña têm sido severos, com chuvas e geadas.”
Joaquim Neto, presidente da Comissão de Seguro Rural da FenSeg

Por região, o maior número de registros ocorreu no Sul, com 27.923 casos. Com 8.960 cadastros nas companhias de seguro, o Sudeste vem logo atrás em relação a eventos climáticos nas plantações. O Centro-Oeste ficou com 5.051 registros, provocadas, nesta ordem, por seca, chuva excessiva e geada. Norte e Nordeste tiveram poucos casos de sinistros, com 129 e 12 solicitações, respectivamente.

A tendência, segundo o dirigente da FenSeg, é de um aumento significativo de casos de sinistros do seguro agrícola no Brasil. Mas há a preocupação de que se essa conta não feche. “Na safra de 2021/2022, houve prejuízo para as seguradoras, já que o se arrecadou foi menor do que foi indenizado”, disse Neto.

A perda, naquele período, foi da ordem de 110%. Ou seja: dos 100 que se arrecadou, foi necessário pagar 110. Na safra seguinte, esse descompasso chegou a 140%, um grande problema para as companhias. Isso para um universo R$ 6,2 bilhões coletados e R$ 8,8 bilhões pagos pelas seguradoras para os agricultores. O reflexo, inevitável, é o aumento do valor do seguro.

(Divulgação)

Uma saída, segundo o executivo da FenSeg, seria uma maior subvenção do governo federal na contratação do seguro. “Isso seria financeiramente mais viável para o governo do que renegociar dívidas dos agricultores e ampará-los de outra forma”, disse.

Na safra passada, dos R$ 8,8 bilhões pagos pelas companhias, a União garantiu aporte de R$ 1 bilhão. “Nos últimos anos, esse recurso federal tem diminuído. E isso é muito preocupante. Fato é que precisa mudar a cultura do agricultor, para que olhe com atenção a questão do seguro. Não dá para ter uma visão assistencialista.”