21/04/2014 - 15:51
“Não concordo com preceitos baseados em ideologias, acredito em ciência”
Reeleito em 2013 presidente da International Feed Industry Federation (IFIF), entidade global que representa mais de 80% da produção de alimentos no mundo, o brasileiro Mário Sérgio Cutait participou do Global Agribusiness Fórum 2014.
Qual é a sua opinião sobre o uso de anabolizantes em bovinos para ganho de peso?
É necessário usar toda a tecnologia disponível para atingir ganhos de produtividade. O mundo precisa de mais alimentos, a um custo menor. Não concordo com preceitos baseados em ideologias, acredito em ciência. A Europa proíbe o uso e a compra de alimentos com melhoradores de performance, mas o europeu quando viaja se farta de comer carne. Isso é uma grande hipocrisia.
Como o Brasil deve lidar com as restrições a respeito dos melhoradores de performance?
O Brasil precisa mostrar aos compradores internacionais que possui rastreabilidade e segregação da produção, para evitar desconfianças sobre a segurança alimentar no País.
Então o País não deveria receber mais pelo produto?
Sim, mas quem está ganhando são os revendedores, que colocam nosso produto pelo triplo na prateleira.
O pecuarista brasileiro conseguiria aumentar a produtividade somente com a ração?
Sim, haja vista a impressionante tecnologia embarcada na indústria de ração. No entanto, percebemos que os criadores têm receio de investir sem ter a certeza de que irão receber o valor justo pela alta produção. Para mim, o Brasil não precisa de 200 milhões de cabeças de boi, precisa somente da metade disso, produ- zindo o dobro de carne.
Mas como reduzir custos e ainda assim dobrar a produtividade?
Através da integração lavoura-pecuária. Um criador de bovino não pode produzir carne apenas. Ele precisa ter uma área agrícola onde produza alimento para consumo próprio e para os animais. Isso reduz seus custos e aumenta os lucros.
Hoje, o mundo produz um bilhão de toneladas de ração. Com o aumento da demanda por alimentos, quanto terá de ser produzido no futuro?
Segundo os números da FAO, a produção de proteína animal vai crescer 60% até 2050. A produção de ração, no mínimo, deve crescer o mesmo.
Além de um importante fornece- dor de alimentos, o Brasil pode se tornar exportador de rações?
Acho que não. O Brasil não tem esse potencial pela falta de infraestrutura logística. Além disso, ainda precisaria ajustar as questões tributárias.
O Brasil deveria seguir o exemplo dos chineses?
Sim, porque o chinês é muito obje- tivo, ele gosta de dominar a produção de tudo o que faz. Tanto que, nos últimos dez anos, vieram ao Brasil tentando fechar acordos para produzir soja aqui, para depois exportar para a China.
O sr. é a favor da internacionalização das empresas brasileiras?
Sim. O País precisa de mais empresas globais, como é o caso dos três frigoríficos brasileiros que atuam no Exterior. Até por-que depender das atividades em um só país é algo muito arriscado hoje em dia.
Qual é a sua opinião sobre o uso de milho na produção de etanol?
Acho que isso precisa ser discuti- do. A FAO diz que o mundo precisará de 60% a mais de proteína animal. Sendo assim, também seriam necessários 60% a mais de ração e o mesmo percentual de milho. Se o etanol também demandar milho, teremos de refazer as contas, pois a alimentação humana e a dos animais são prioridades.