03/11/2020 - 7:02
O balanço de entidades do setor foi de um movimento intenso em alguns cemitérios, mas menor que nos anos anteriores. O Sindicato dos Cemitérios e Crematórios Particulares do Brasil recomendou que o acesso ficasse restrito a 60% da ocupação. “Nós tivemos uma movimentação que oscilou entre 20% e 50% do que houve no ano passado”, avalia Gisela Adissi, presidente do Sincep e da Acembra. Juntas, as duas entidades representam 120 cemitérios.
A disparidade realmente foi grande. Na Vila Formosa, a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) precisou realizar o monitoramento do trânsito na avenida João XXIII para garantir a fluidez diante da enorme fila de veículos na entrada para o velório no início da tarde. No Cemitério do Araçá, por exemplo, o movimento cresceu ao longo da manhã com filas de carros na entrada principal, mas ele estava vazio pela manhã. No da Consolação, a estimativa foi de 3 mil visitantes, um terço do ano passado. O movimento também foi relativamente baixo no Cemitério São Paulo, na zona oeste.
Gisela afirma que vários fatores explicam a queda de visitas em relação ao ano passado. Um deles foi a antecipação da visitação. Um dos indicadores para quem trabalha no setor é perceber várias flores nos túmulos. Outro fator é a pandemia. “Muitas pessoas ainda têm receio da contaminação.”
A maioria dos 22 cemitérios privados decidiu não realizar cerimônias religiosas nem mesmo em locais abertos. Por outro lado, a maioria preparou algum tipo de celebração virtual, como missas e painéis online, criando alternativas para quem preferiu evitar as visitas presenciais aos cemitérios. O Cemitério Parque das Cerejeiras, na região metropolitana de São Paulo, foi um deles.
O sociólogo Rogério Baptistini, da Universidade Mackenzie, afirma que a baixa visitação reflete o momento de enfrentamento da pandemia no Brasil. “Neste momento de pandemia, a data reflete o espírito do tempo. O fluxo pequeno nos cemitérios não se deve apenas ao isolamento social, mas, também, ao pouco caso para com a vida e seu significado profundo, à crise civilizatória e à quase morte da empatia. Nos bares e nas praias, a vida e a diversão correm solta. O vírus já não existe.”
No Cemitério São Paulo, o aposentado Agostinho Ribeiro Neto, de 65 anos, também compartilha essa desesperança. “Tenho dois filhos, mas nenhum deles veio comigo. Essa geração tem uma relação diferente com a morte.”
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.