28/05/2013 - 12:02
Os índios chamam a árvore do pinhão-manso de mandubiguaçu, que significa amendoim grande na língua tupi. Para eles, a planta sempre foi essencial na dieta, por causa do óleo contido no fruto. Na última década, o pinhãomanso ganhou o status de objeto de pesquisa para a produção de biodiesel, mas a distância ainda é gigantesca entre o extrativismo – método utilizado como regra, por séculos – e sua transformação em uma oleaginosa industrial, como apostam empresas de biotecnologia, entre elas as americanas SGB e Life Technologies, ambas com unidades de pesquisa no Brasil, além da própria Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). Atualmente, a meta dos pesquisadores é fazer dessa planta cultivada em solos de baixa fertilidade uma fonte confiável e permanente de óleo. “Não estamos longe de algumas respostas importantes”, diz Bruno Laviola, coordenador do projeto da Embrapa Bionergia, em Brasília, chamado BR-Jatropha, nome científico da planta. “O pinhão-manso é ideal para produzir diesel vegetal e substituir parte da soja usada atualmente para biocombustível.” Do volume de quase três bilhões de litros de biodiesel produzido no País, cerca de 80% são extraídos da soja.
Iniciado em 2008, com término previsto para 2015, o projeto BR-Jatropha pode dar algumas respostas importantes sobre o comportamento do pinhãomanso. “Já passamos do meio da pesquisa, indo para a reta final”, diz Laviola. O pinhão-manso, altamente adaptável às regiões Nordeste e Centro-Oeste do País, está na lista das prioridades da Embrapa para os próximos anos, ao lado da agricultura de baixo carbono e do cultivo de precisão nas lavouras.
Segundo o economista Santiago Giraldo, gerente de desenvolvimento empresarial da SGB, a fase de pesquisa do pacote tecnológico para a planta inclui estudos que vão de sementes a máquinas para a colheita. “Até a colheita do pinhão é feita à mão, método que encarece toda a cadeia de produção”, diz Giraldo. A SGB possui três centros de desenvolvimento no Brasil, em Minas Gerais, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. A empresa americana, que é parceira da Embrapa no projeto BR-Jatropha, já investiu no País mais de R$ 50 milhões. A Embrapa recebeu, até agora, R$ 7 milhões da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), do Ministério da Ciência e Tecnologia, para custear as pesquisas. Saindo do campo para a engenharia genômica está a Life Technologies, também com pesquisa no Brasil, mas focada no estudo de aprimoramento dos genes do pinhão-manso para maior produtividade e adaptação a diferentes solos para cultivo. A empresa, que fatura globalmente US$ 3,7 bilhões com o desenvolvimento de sequenciadores de DNA, começou suas pesquisas para encontrar uma alternativa ao biocombustível produzido com milho, nos Estados Unidos.
O que se sabe até agora é que o pinhão-manso tem uma produtividade superior à de outras plantas, entre elas a soja e o girassol. Em um hectare é possível retirar até 1,5 mil litros de óleo de pinhão, ante 500 litros de óleo de soja ou 400 litros do girassol. Outra vantagem é que, como cultura perene, a produção das amêndoas de pinhão-manso começa aos dois anos e se estende por até 30 anos. No entanto, segundo Laviola, esses dados ainda não são suficientes para tornar a cultura economicamente viável. “Os custos de poda, adubação, fertilização e colheita são elevados”, afirma Laviola. “Mas as respostas virão.”
Uma das saídas para reduzir o custo de produção já foi encontrada. O resíduo do processo de extração do óleo do pinhão-manso gera uma massa que pode ser usada como adubo e ração animal. O desafio, agora, é desenvolver variedades não tóxicas, através de cruzamento de plantas. “Estamos em busca de variedades produtivas”, diz Laviola. “Com a venda do resíduo, o produtor poderia abater parte de seus custos.”