01/11/2010 - 0:00
Para atender a demanda da comunidade nipônica no Brasil, a indústria agrícola produz cifras que saltam aos olhos dos consumidores e do mercado
Às 5 horas da manhã, os moradores dos cinturões verdes já estão na lavoura. Como é de costume, famílias inteiras se dedicam a produções agrícolas variadas para abastecer o mercado hortifruti. Destes locais, sai quase tudo o que se possa imaginar, mas de determinadas regiões agrícolas, sobretudo paulistas e paranaenses, partem produtos de alto valor agregado para atender a demanda das comunidades nipo-brasileiras, que apesar de já estarem no Brasil há 102 anos, não deixaram de consumir alimentos típicos. Entre as hortas convencionais, surgem áreas artificialmente alagadas para cultivos de arroz, ou resfriadas para dar vida aos shitakes e shimejis. As condições criadas pelos agricultores lembram o clima do Japão e fizeram nascer uma indústria que fatura até 50% a mais quando comparada aos produtos convencionais.
“Cuidados extras no cultivo destes produtos
agregam valores acima de 50%”
Carlos Abe
exportador de cogumelos
Os agricultores que se dedicaram a cultivar estes itens tiveram que colocar sua inteligência em prática para sua obtenção. Criaram técnicas especiais de cultivo para o arroz, o bambu, a soja, o feijão azuki e o seu broto, bardana, cebola e dominam a produção de cogumelos. “Tudo o que eu trago da fazenda é vendido. Temos um público fiel, que paga mais por ter conhecimento dos cuidados diferenciados que temos com os produtos”, diz Hiroaki Nagata, produtor rural de Embu, na Grande São Paulo. Entre os produtos mais solicitados, o broto de feijão moyashi é campeão. O quilo custa R$ 8, enquanto o preço médio do quilo do feijão foi cotado a R$ 3,70. “Hoje já dominamos a técnica, mas até conseguir o ponto exato do cultivo, apanhamos um pouco. Os cuidados diários extras exigem tempo e dinheiro”. Nagata segue à risca a cultura japonesa e junto com os filhos, faz tudo. “Eu planto, produzo e vendo. Sei o que o cliente japonês quer e como quer”. Há 20 anos ele vende os produtos na Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo, a Ceagesp, e está satisfeito. “A demanda é grande, e apesar das gerações estarem mais familiarizadas com os hábitos brasileiros, a demanda cresce a cada ano, mas isso também leva em conta o aumento de restaurantes e lojas especializadas”.
Abra o olho e veja o peso do valor agregado
ARROZ
Arroz japonês: R$ 5,90
Arroz para bolinho: R$ 8,90
Arroz agulhinha: R$ 2,50
FEIJÃO
Moyashi (broto): R$ 8
Feijão azuki: R$ 11,90
Feijão carioca: R$ 3,70
COGUMELOS
Agaricus blazei: R$ 70 a R$ 200
Shitake: R$ 12 a 14
Champignon de Paris: R$ 9
FARINHAS
Trigo tipo A: R$ 16,45
Trigo tipo B: R$ 9,90
Trigo convencional: R$ 1,87
Para atender a demanda da comunidade nipônica no Brasil, a indústria agrícola produz cifras que saltam aos olhos dos consumidores e do mercado
Público fiel:
Hiroaki Nagata comercializa produtos
japoneses na Ceagesp há 20 anos
Em Embu, Nagata não produz o arroz japonês. “É necessário muitos investimentos para reproduzir as condições de charco, deixei para as grandes indústrias”, brinca o agricultor. O arroz é a base da alimentação e cultivado em áreas alagadas. As lavouras estáo no Rio Grande do Sul e São Paulo. Tanto cuidado extra, faz o preço do quilo do arroz ser 50% superior ao arroz agulhinha. “Para os japoneses, o arroz acompanha tudo. Os mais velhos não aceitam fazer uma refeição sem arroz, dizem que sem arroz, não há vida, e eles acreditam que traz boa sorte”, explica Sérgio Umezaki, da Cooperativa Agrícola do Vale do Tietê, de Piedade.
O zootecnista Carlos Abe é um expoente de sucesso desta indústria. Na fazenda em São Francisco Xavier, no Vale do Paraíba, produz variedades de cogumelo shitake, o agaricus blazei e o champignon, tudo em condições artificiais. “Os galpões precisam de temperaturas controladas diariamente para que o fungo se desenvolva bem”. Tanto cuidado transformou o agricultor em exportador e há 10 anos, a maior demanda vem do Japão. Hoje, são mais de 30 toneladas de agaricus blazei exportadas ao mês. O preço? “Pode variar de R$ 70 a R$ 200 o quilo, dependendo do tipo”, diz Abe, que agora também investiu na cultura do kunugui, um carvalho próprio para o cultivo de shitake. “Devido a todos estes cuidados, os produtos ganham um peso maior no mercado”.