E nquanto muitos agricultores estão receosos em relação à rentabilidade do milho safrinha nesta temporada, o que levou boa parte deles a cogitar a redução da área plantada, o produtor Argino Bedin caminha na contramão de seus pares. Dono de duas propriedades nos municípios de Sorriso e Nova Ubiratã, ambas em Mato Grosso, nas quais plantou 14,5 mil hectares de milho na segunda safra, Bedin vai direto ao ponto quando questionado por DINHEIRO RURAL sobre a sua decisão: “a safrinha vai muito bem, obrigado, e por isso investi na plantação para ter maior produtividade” (leia mais no quadro ao lado). O motivo desse otimismo vem do fato de o agricultor, que na safra principal tem a soja como carro chefe, ter colocado no mercado sua produção de milho safrinha, em outubro do ano passado, antes mesmo do plantio do cereal. Com a venda antecipada de mais de um milhão de sacas, equivalente a 50% de sua produção estimada de milho, Bedin arrecadou cerca de R$ 16 milhões. A média obtida pela saca de 60 quilos foi de R$ 16,50, valor 24% superior ao observado no fim de maio, mês em que o preço na região já havia despencado para R$ 12,50 a saca, segundo o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/USP). “Travei as vendas quando vi que a safra americana sinalizava boas condições para o plantio e que, justamente por isso, o mercado teria uma baixa geral de preços”, diz Bedin.

A safra americana influencia diretamente a produção de Sorriso, apesar de ser plantada a sete mil quilômetros de distância do município. Os Estados Unidos,  principal regulador do mercado mundial de milho, cultivaram, no ano passado, uma área de 34,3 milhões de hectares. Nesta safra, até o final de maio, mês considerado como ideal para a semeadura na região do Meio-Oeste, principal celeiro agrícola daquele país, 85% da área do grão já havia sido plantada, de acordo com consultorias que acompanham o mercado internacional. A expectativa é de que os americanos colham algo em torno de 360 milhões de toneladas, a partir de meados de setembro. Isso é mais do que o quádruplo da produção brasileira, em torno de 79 milhões de toneladas.

Embora seja pequena na comparação com o mercado americano, a produção do milho safrinha no País tem levado os agricultores a uma melhor gestão das fazendas. No caso de Bedin, por exemplo, os 50% restantes ainda não comercializados de forma antecipada (volume para o qual não foi feito hedge, no jargão financeiro) servem para um jogo de mercado. “Vamos estocar essa parte da safrinha e especular”, diz o produtor. “Qualquer oscilação no mercado pode trazer outras boas oportunidades.” Para o agricultor Nelso Bedin, da fazenda Pôr do Sol, também de Sorriso, que apesar do sobrenome não tem relação de parentesco com Argino, a gestão da safrinha tem trazido ao negócio um refinamento administrativo que antes não existia. Segundo Eleandro Teixeira, gerente da fazenda e genro de Nelso, com a safrinha o produtor consegue até se capitalizar, sem depender muito do dinheiro da soja. O cultivo do milho também ajuda a pagar os funcionários e a reformar as máquinas da propriedade. “Por essas razões, mesmo se os preços não forem muito atraentes, a safrinha ainda é um bom negócio”, diz Teixeira. “Além de ser extremamente importante para movimentar o comércio local.” 

Na fazenda Pôr do Sol, de um total de 3,4 mil hectares aptos à produção, foram plantados 2,2 mil hectares nesta safrinha, ante 1,5 mil hectares na passada. Teixeira também comercializou de forma antecipada cerca de 40% do cereal, algo em torno 100 mil sacas de milho ao preço médio de R$ 15,50. “Achamos prudente vender uma parte da nossa safra quando vimos que era possível uma margem econômica boa, independentemente do que acontecesse com o preço a partir daí”, afirma o gerente. Quando colocou o milho no mercado, Teixeira também já previa que a partir deste mês, época na qual tradicionalmente as vendas começam a ficar mais aquecidas, poderia haver uma queda de preços no mercado. “Sendo bem otimista, quem vender bem daqui para frente vai receber, no máximo,  R$ 10 por saca”, diz.

À PROVA DE SECA 


Mais produtividade: Lobato, gerente da Monsanto, destaca a importância da tecnologia VT PRO3
 

O produtor Argino Bendin, de Sorriso (MT), espera colher nesta safrinha de milho 140 sacas por hectare, 30 a mais que na temporada passada, quando sua lavoura foi afetada pela fAalta de chuvas. Para se safar da seca, o produtor aceitou o desafio proposto pela Monsanto de utilizar nesta safrinha sementes com a tecnologia VT PRO3, que ajuda no desenvolvimento da raiz e, consequentemente, na maior produtividade da planta. No mês passado, a empresa mostrou os primeiros resultados de campo obtido nas propriedades, entre elas a de Bedin, de uma variedade transgênica apresentada em agosto de 2013. Segundo Guilherme Lobato, gerente de biotecnologia de milho da Monsanto, como a tecnologia fortalece o sistema radicular há uma melhoria na capacidade da planta em captar água e nutrientes no solo, aumentando a produtividade. Em testes, as produtividades ficaram próximas de 250 sacas por hectare, cerca de 25 sacas a mais que a média colhida normalmente. “Uma raiz bem nutrida, melhora o desempenho fisiológico da planta e favorece o seu bom desenvolvimento e a sanidade”, diz Lobato.