Emerson Loureiro: “Somos agro. Vemos os riscos de forma diferente dos outros bancos”

Um gerente de banco que não usa gravata nem fica fechado na agência com ar condicionado. Que pega o carro e vai até a fazenda, e, com conhecimentos de zootecnia ou agronomia, discute de igual para igual com o produtor. Depois de uma boa prosa sobre a safra, aprova o crédito em duas horas. Parece difícil de imaginar? Não para os clientes do novo banco Original, controlado pela J&F, a holding dona da JBS, maior empresa de proteína animal do planeta. Resultado da fusão entre o antigo banco do grupo, o JBS, e o gaúcho Matone, adquirido em março, o Original terá como foco principal elevar as operações de crédito para o agronegócio. Não lhe falta bala na agulha: só no ano que vem, o banco terá nada menos que R$ 10 bilhões disponíveis para emprestar.

Basear seus analistas de crédito em localidades como Marabá (PA), Goiânia (GO), Andradina (SP) ou Pedra Preta (MT), próximos aos produtores, é uma das estratégias do Original para competir com o poderoso Banco do Brasil (BB), maior banco do País e líder no crédito rural, com uma carteira de R$ 83,78 bilhões. Ao contrário do BB e da maioria de seus concorrentes, que costumam basear- se na capilaridade de suas redes, o Original terá apenas uma agência, em São Paulo. Uma equipe de 100 analistas formados em agronomia, zootecnia e veterinária visitará as propriedades para fazer a análise de crédito. “Eles têm condições muito melhores de avaliar se uma fazenda é bem operada do que um engenheiro ou administrador baseado na avenida Paulista”, afirmou o presidente do banco, Emerson Loureiro, à DINHEIRO Rural. Até agora, o antigo banco JBS financiava principalmente a cadeia de fornecedores do frigorífico: 85% de sua carteira de crédito está alocada para a pecuária. Daqui para a frente, a ideia é expandir também para a agricultura, que deverá ser responsável por metade do total dos empréstimos.

 

 

Joesley Batista: “Queremos ser os maiores no crédito rural privado no País”

“Queremos ser o maior banco privado no crédito rural no País”, afirma Joesley Batista, presidente da J&F. Segundo o empresário, a história de complicadas renegociações de dívida dos produtores com o BB, que criou um estigma do setor entre os bancos, é coisa do passado. “Emprestar para o campo é rentável, e o setor não pode viver só do monopólio do Banco do Brasil”, afirma Batista. Os controladores do JBS construíram aos poucos as condições para expandir o financiamento aos produtores rurais. Loureiro passou pelo BankBoston e comandou por sete anos a mesa de câmbio do grupo JBS. Ele diz que o Original será diferente dos outros bancos justamente pela ligação com o agronegócio, que faz parte do DNA do grupo. “Vemos os riscos de forma diferente dos outros bancos”.

O que permitirá um aumento agressivo da carteira de crédito daqui para a frente é uma forte base de capital do Original. Para um total de ativos de R$ 4,3 bilhões, o banco tem um patrimônio líquido de R$ 1,87 bilhão, muito acima do exigido pelo Banco Central. Grande parte do capital foi injetada com a compra do banco Matone, num acordo do JBS com o Fundo Garantidor de Crédito (FGC), uma entidade criada para garantir a estabilidade do sistema financeiro.

O produtor, entretanto, dificilmente encontrará juros mais baixos no Original do que no BB, que repassa recursos financiados pela caderneta de poupança. No entanto, o banco tentará fazer com que a diferença em relação aos juros do BB seja a menor possível. O Original já avalia alternativas para captar recursos. A principal será usar a carteira de crédito do agronegócio como lastro para vender Letras de Crédito ao Agronegócio, compradas principalmente por pessoas físicas atraídas pela isenção de Imposto de Renda.

Colaborou Viviane Ávila