09/12/2022 - 7:07
Fundador do RenovaBR, o empresário Eduardo Mufarej afirma ser preciso aumentar o leque de alternativas oferecidas à população nas eleições. Em entrevista ao Estadão, ele argumentou que um caminho possível é fomentar o surgimento de novas lideranças políticas para, desse modo, propiciar melhores escolhas dos eleitores nas urnas. O tipo ideal de renovação, segundo ele, é levar para as Casas Legislativas parlamentares que analisem dados e evidências no momento das tomadas de decisão, e não simplesmente arranjos partidários.
“É fundamental que pessoas que não participariam do processo eleitoral se encorajem e disputem as campanhas”, afirmou. “O discurso político no Brasil está tão polarizado que tem excluído do debate a maioria da população, que são os moderados, pessoas que não estão nos espectros radicais.” O empresário também argumenta ser preciso acelerar a aprovação das reformas, especialmente a tributária, para recolocar o País no rumo do crescimento. “A partir da simplificação tributária e da melhoria de competitividade para as empresas, o próximo passo é eliminar subsídios”, acrescenta.
Em parceria com o Insper, o grupo de renovação política liderado por Mufarej oferece, nesta semana, uma espécie de “curso preparatório” para congressistas de primeiro mandato. Todos os eleitos estreantes no Legislativo foram convidados. A “sala de aula”, em São Paulo, reúne Rosângela Moro (União Brasil) e Deltan Dallagnol (Podemos), entre outros. Também participam egressos do RenovaBR já exercendo seus mandatos ou veteranos do próprio curso, como a deputada estadual reeleita Marina Helou (Rede). A ideia é favorecer também a troca de experiências entre os parlamentares.
Nesta quinta-feira, 8, o tema do debate são “Os Próximos Quatro Anos do Congresso Nacional”, com a presença do governador reeleito do Rio Grande do Sul Eduardo Leite (PSDB), da deputada federal reeleita Tabata Amaral (PSB) e do empresário Abílio Diniz, além de outros políticos e especialistas. Segundo Mufarej, a proposta é formar congressistas que “olhem para como vamos construir um País lidando com realidades diferentes e para a retomada do projeto de futuro do Brasil”.
Leia os principais trechos da entrevista:
Quando se fala em renovação, estamos falando exatamente de quê? Idade? Ideias? Gênero? Cor da pele?
Práticas e personagens. Primeiro, promover a inclusão de gente que não teria disponibilidade, normalmente, de disputar cargos eleitorais. Entendemos que a sociedade merece melhores alternativas para que, no dia das eleições, possa realizar melhores escolhas. Para isso, é fundamental que pessoas que não participariam do processo eleitoral se encorajem e disputem as campanhas. Segundo, não adianta ter novos rostos cumprindo os mesmos hábitos. É importante trazer gente bem qualificada, bem preparada, que esteja disposta a olhar para as evidências e, assim, ter as melhores tomadas de decisão.
Como restabelecer o interesse da sociedade pelo debate político qualificado?
O discurso político no Brasil está tão polarizado que tem excluído do debate a maioria da população, que são os moderados, pessoas que não estão nos espectros radicais. Esse é um fenômeno que não é só presente no Brasil, mas em diversos lugares. O País vai ser potencialmente melhor na medida em que a população fizer melhores escolhas, e se a população continuar realizando as escolhas que tem feito, vai colher os frutos que tem colhido. Mas temos de reconhecer que o eleitor é soberano e tem o direito de realizar as escolhas que quiser. Nosso papel é oferecer o maior número possível de possibilidades para que ele possa, dentro desse aquário, eleger aqueles que considera ter mais aderência com os seus valores.
Existe um perfil ideal de congressista na visão do Renova?
Pessoas que estão olhando para dados e evidências como base para a tomada de decisão. É preciso olhar para o mundo, para as potencialidades, para enxergar soluções que vão ajudar a construir um país mais justo, fraterno e próspero. O Brasil é um país que deixou a agenda de crescimento de lado, é preciso recuperar essa pauta. Sem a pauta de crescimento, vai ser muito difícil construir justiça social. São pessoas que estão olhando para como vamos construir um país lidando com realidades diferentes e para uma reconstrução de futuro. O Brasil precisa retomar seu projeto de País.
Qual a postura ideal de um congressista diante das emendas de relator, por exemplo? É um dispositivo válido para governar?
As emendas sempre existiram no Brasil. A questão é como você atua em relação a elas e qual o porcentual do Orçamento que está direcionado a essas emendas, e se ele está sendo executado dentro de critérios de transparência e das regras colocadas pelo Tribunal de Contas da União (TCU). Essa é a questão mais importante. Há obrigação de ter transparência do gasto público. O pagador de impostos merece saber para onde está indo o dinheiro que ele deixou de receber para fazer uma contribuição ao Estado brasileiro.
Existe uma discussão hoje sobre institucionalizar o orçamento secreto. O presidente da Câmara defende esse dispositivo.
Qualquer medida que vá na direção inversa da transparência com o gasto público não é positiva para o País, exceto em questões que são de segurança nacional, como o orçamento do Departamento de Defesa americano, por exemplo. Não haver transparência em investimentos que estão sendo feitos em Estados e municípios é uma aberração.
Quais pautas devem ser prioritárias no ano que vem?
Dentro da via de crescimento econômico, há uma reorientação das cadeias de suprimento globais à qual o Brasil está alheio. Os Estados Unidos vão precisar revisitar sua estrutura de cadeia de valor perante a China, e há uma grande oportunidade pro Brasil nesse aspecto, inclusive de reindustrialização de determinadas áreas. O segundo elemento que eu considero importante é o reposicionamento da agroindústria brasileira, ou seja, o Brasil como potência verde, algo que tem sido muito dito, mas agora é precisa desdobrar isso. Temos altíssimo potencial para ser o primeiro país carbono neutro do mundo. Outra pauta importante é a de eletrificação e exportação de energia. Por último, é preciso investir em produtividade. Para isso, precisamos preparar as pessoas para os empregos do futuro. O Brasil precisa desapegar da visão de ser uma potência dos anos 1990.
Alguma reforma no caminho para o crescimento?
As reformas estão colocadas há 25 anos e nós temos andado em direção a elas em baixa velocidade. Isso faz parte da dinâmica democrática, mas o sistema tributário brasileiro já deu o que tinha que dar, ele está exaurido, chegou ao seu limite. A simplificação tributária é absolutamente essencial. E o Brasil, a partir da simplificação tributária e da melhoria de competitividade para as empresas, precisa eliminar subsídios. Existem subsídios cruzados para determinadas indústrias que precisam deixar de existir.
No perfil que se desenhou para o Congresso, o ambiente é propício para essas reformas?
Olhando em retrospecto, vejo que é possível termos um Congresso reformista. Contra fatos não há argumentos, e o fato é que o País não cresce. Eu cresci nos anos 1980 e se chamava de década perdida, agora acabamos de ter outra. No contexto atual, estamos próximos de uma estagflação. A gente precisa mudar essa dinâmica. Para isso, o Brasil precisa se entrosar com a economia global, ocupar o espaço que ele tem e entender um pouco para onde o mundo está indo. Outro elemento fundamental é colocar no nosso radar a relevância que a Índia vai ganhar nessa ‘remexida’ dentro das polaridades geopolíticas, e como o Brasil vai se posicionar dentro desse contexto.
A cláusula de barreira e as consequentes fusões e federações afetam a renovação política de alguma forma? Ela é boa ou má nesse sentido?
Todas as pessoas conseguem perceber que a excessiva fragmentação partidária não ajudou o Brasil. Dito isso, a concentração partidária, com concentração de alocação de recursos nos caciques partidários é problemática. A gente vai precisar debater no Brasil, um país que tem financiamento público, mas não debate o financiamento público, quais vão ser os critérios para que o recurso possa ser melhor alocado, para que ele seja de fato um fomento de inclusão e participação democrática, e não de perpetuação de cargos para determinados players.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.