A 30 dias da votação em primeiro turno, o presidente Jair Bolsonaro (PL) não conseguiu ainda arregimentar o apoio engajado de nenhum dos governadores dos três maiores colégios eleitorais do País: São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. Embora busquem eleitores que se enquadram no mesmo campo político que o presidente, a direita, os três chefes do Executivo nestes Estados evitam associação com o discurso radicalizado do bolsonarismo em temas como urnas eletrônicas, ataques ao Superior Tribunal Federal (STF) e ameaças à democracia.

São Paulo, Minas e Rio reúnem mais de 63 milhões de eleitores, o que representa cerca de 40% do total de votantes no Brasil.

Mais próximo a Bolsonaro na região Sudeste, o governador do Rio, Cláudio Castro (PL), tem usado pouco a imagem do presidente nas redes sociais e na TV. Mas por pressão do PL, a ideia é que Bolsonaro entre em comerciais nas próximas semanas, só que de forma moderada e falando de economia e Auxílio Brasil.

A mais recente pesquisa Datafolha no Estado, divulgada ontem, mostra que Castro se descolou do deputado federal Marcelo Freixo (PSB), candidato apoiado por Luiz Inácio Lula da Silva (PT): 31% a 26%. Pesquisa Ipec (ex-Ibope) divulgada na semana passada aponta que o ex-presidente mantém pequena vantagem sobre Bolsonaro entre os eleitores do Rio: 39% a 36%.

A avaliação entre aliados de Castro é de que as campanhas para governador e presidente estão descoladas neste ano, ao contrário de 2018, e o eleitorado agora tende a buscar o voto seguro de quem já está no poder. “O eleitor do Rio está mais preocupado com a vida dele do que com a eleição nacional”, disse o publicitário Paulo Vasconcellos, marqueteiro de Cláudio Castro.

A campanha à reeleição do governador do Rio ainda avalia como será sua participação nos eventos do 7 de Setembro no Rio de Janeiro. A ideia é de que o governador apareça ao lado de Bolsonaro, mas há um cuidado para evitar que o chefe do Executivo estadual fique vinculado a eventuais ataques ou declarações do presidente contra membros de outros poderes ou instituições democráticas.

No caso de Minas Gerais, a separação de interesses do eleitor é ainda mais emblemática. Na pesquisa Datafolha divulgada ontem, o governador Romeu Zema (Novo) ampliou a vantagem sobre Alexandre Kalil (PSD) e registrou 52% das intenções de voto, ante 22% do adversário – ex-prefeito de Belo Horizonte, que conta com o apoio de Lula.

Na pesquisa anterior, divulgada dia 18, Zema tinha 47% e Kalil 23%. O nome apoiado por Bolsonaro, Carlos Viana (PL) cresceu de 4% para 5%.

‘LUZEMA’

Antes considerado um aliado de Bolsonaro, Zema não só ignora o presidente da República em sua campanha na TV e redes sociais como seu entorno tem incentivado um movimento chamado “Luzema” (voto casado em Lula e Zema). Assim como nos casos do Lulécio (voto em Lula e Aécio Neves em 2002 e 2006 ) e Dilmasia (voto em Dilma Rousseff e Antonio Anastasia em 2010), o Luzema não tem chancela oficial, mas pode ser visto em adesivos, bonés e memes nas redes sociais.

A explicação, segundo integrantes do governo mineiro, é geográfica. Lula tem mais votos nas regiões mais pobres do Estado, em cidades que passaram a receber repasses do atual governo. Prefeitas petistas como Marília Campos, de Contagem, e Margarida Salomão, de Juiz de Fora, mantêm uma boa relação com Zema.

“Eles (governo) estimulam esse movimento Luzema, mas acho improvável que ele tenha consistência. Mas as pessoas estão desanimadas com a eleição estadual e isso favorece a inércia e o recall. Se as redes sociais e a TV não mexerem com as pessoas, vai dar Lula e Zema por inércia”, disse Marcus Pestana, candidato do PSDB ao governo mineiro.

Mapas de votação da eleição em Minas em 2018 – conforme a ferramenta Geografia do Voto, parceria entre o Estadão e a agência Geocracia – mostram que no primeiro turno para governador, a então surpresa Romeu Zema obteve vitória sobre Fernando Pimentel com uma votação geográfica praticamente idêntica à de Bolsonaro no Estado.

Minas Gerais, com 16,2 milhões de habitantes aptos a votar neste ano, é o segundo maior colégio eleitoral do País, e costuma ser o fiel da balança da eleição presidencial.

Os petistas minimizam o movimento Luzema e atribuem a ideia a partidos como o Solidariedade, Agir e Avante, que estão com Lula no plano nacional e Zema no Estado.

“Ainda é cedo. Só 30% dos eleitores de Minas sabem que o Lula apoia o Kalil. Alguns partidos apoiam o Lula para presidente e o Zema para governador, mas a campanha é unificada”, disse o deputado federal Reginaldo Lopes (MG), líder do PT na Câmara.

‘TERCEIRA VIA’

Em São Paulo, o governador Rodrigo Garcia (PSDB) aumentou o tom nas críticas ao PT e reforçou o discurso sobre a segurança pública, mas sem se associar em nenhum momento a Bolsonaro.

A campanha de Garcia relativizou os números do Datafolha divulgados ontem. O governador tucano, conforme o levantamento, permanece em terceiro lugar na disputa pelo Palácio dos Bandeirantes, atrás de Fernando Haddad (PT) e Tarcísio de Freitas (Republicanos), ex-ministro da Infraestrutura, apoiado por Bolsonaro. Garcia pretende fazer uma “disputa de atributos” com seus adversários e aposta na alta rejeição a Bolsonaro em São Paulo para chegar ao segundo turno.

O eleitor bolsonarista está no radar da campanha do tucano, mas isso não significa que o governador vai acolher a agenda do presidente.

Os candidatos à Presidência têm concentrado suas agendas no Sudeste, região mais rica e mais populosa do País. Somente São Paulo concentra 34,6 milhões de eleitores. Segundo o Agregador de Pesquisas do Estadão, Lula supera Bolsonaro por 39% a 35% na região Sudeste.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.