Eles produzem na maior bacia leiteira do Estado de São Paulo, que compreende os municípios de Descalvado, Araras e Itirapina. Possuem o maior rebanho de vaca holandesa pura de origem (HPB-PO) registrado no Brasil, com 1,4 mil animais em lactação, das 3,4 mil que formam o plantel. A produtividade média da fazenda é de 30 mil litros de leite por hectare-ano, 2,9 mil por cento acima da média nacional. Sem contar que é deles a segunda posição no ranking dos maiores produtores de leite do País, com 16 milhões de litros por ano, o que lhes garante um faturamento anual de R$ 25 milhões. Mas, para os pecuaristas Roberto Jank Júnior e Jorge Jank, irmãos de Marcos Jank, expresidente da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), isso tudo ainda não basta. Eles pretendem transformar, em dois anos, a Agrindus, a empresa da família, com sede na fazenda Santa Rita, em Descalvado, no interior paulista, em um verdadeiro império do leite. Em apenas um quarto dos dois mil hectares da Santa Rita, os irmãos projetam atingir uma produção anual em torno de 24 milhões de litros de leite, com pelo menos 1,7 mil vacas em lactação – façanha essa que deve colocar a Agrindus na liderança do setor no Brasil, à frente da fazenda São José, em Tapiratiba (SP), que produz pouco mais de 20 milhões de litros de leite por ano. “Vamos intensificar ainda mais a nossa produção”, diz Jank Júnior. “Para isso, a bola da vez é a genética.”

Segundo o pecuarista, ao longo de 2013 e 2014, serão investidos mais R$ 2,5 milhões em melhoramento genético, por meio do programa Gestor Leite, da CRV Lagoa, a cooperativa belgo-holandesa CRV, de Sertãozinho (SP), especializada em genética, com produção e comercialização de sêmen e embriões. Só neste ano, os Jank já investiram outros R$ 2,5 milhões em um novo sistema de ordenha automatizado, alojamentos para mais 350 vacas, além de equipamentos de conforto térmico, como ventiladores e aspersores nos estábulos. Tudo para o bem-estar das vacas holandesas, raça meio enjoada, que não gosta de calor intenso. “O estresse térmico na vaca pode influenciar na qualidade do leite”, diz Jank Júnior.

Segundo Raul Carneiro, gerente do Gestor Leite, o programa lançado em 2008 é pioneiro no Brasil. O objetivo do programa é buscar o melhoramento do rebanho com base no potencial genético de cada animal. Assim, é possível mapear as características de produção, conformação e funcionalidade dos bovinos. “As avaliações genéticas permitem estimar o quanto de uma determinada característica o animal possui”, diz Carneiro. Isso quer dizer que uma fêmea com um valor genético, por exemplo, de mil quilos para leite, tem esse potencial de produção e pode transmitir a característica a seus descendentes. “São informações importantes que norteiam o produtor quanto às ações necessárias de melhoramento do plantel, e que podem fazer diferença nas contas da fazenda”, diz Carneiro. Isso inclui, por exemplo, o descarte de fêmeas com baixo potencial genético, ou transformá-las em receptoras de embriões produzidos a partir da melhor genética do rebanho. Atualmente, o Gestor Leite avalia mais de 12 mil vacas em lactação e mais de 50 mil fêmeas, no País.

Para Carneiro, conhecer os pontos fortes do rebanho e os aspectos que requerem melhoria possibilita, ainda, direcionar acasalamentos baseados nas informações genéticas de matrizes e reprodutores, além de conhecer previamente o perfil genético de cada geração, antes da tomada de decisão sobre qual material melhorador utilizar em cada fêmea. “Os acasalamentos dirigidos e pautados em avaliações garantem a produção de bovinos economicamente mais eficientes para o negócio”, diz.

Segundo Jank Júnior, para obter uma geração de vacas em produção leva-se cerca de quatro anos. Isso significa que a lactação de uma novilha de primeiro parto é resultado de decisões tomadas há pelo menos cinco ou seis anos. Por isso, conhecer o potencial genético dessas vacas, para selecioná-las e decidir como serão suas filhas, pode poupar trabalho de gerações e potencializar os ganhos econômicos. Como termômetro para medir os ganhos, a CRV Lagoa criou a ferramenta Índice Econômico Brasileiro (IEB ). “É o primeiro índice genético econômico do Brasil”, diz Carneiro. Segundo o gerente, o IEB permite ao produtor saber, em reais, o quanto da genética de uma fêmea para leite – o que inclui gordura e proteína –, está alinhada com a tendência e política de remuneração do leite na indústria nacional. Em suma, isso significa que uma vaca com IEB de mil pontos tem genética para, em condições ideais de ambiente, produzir R$ 1 mil a mais ao longo de uma lactação, comparada à base genética. “É uma maneira eficiente de alinhar genética à tendência de demanda do mercado, produzindo leite conforme as necessidades da indústria”, afirma Carneiro.

Para a Agrindus, ter esse tipo de controle é outro ponto importante no crescimento da empresa. Na fazenda, os Jank tocam ainda um pequeno laticínio, onde produzem leite integral, desnatado e semidesnatado do tipo A, e sete sabores de iogurte da marca própria Letti, lançada em 2007. “Com essa tecnologia para crescer, vamos apostar também no laticínio”, diz Jank Júnior. “Vamos produzir queijo frescal e creme de leite”, diz. Com isso, a empresa espera alavancar as vendas. “Nossa marca é relativamente nova, e já absorve 50% da produção”, diz.

Os produtos Letti são comercializados em 60 cidades do Estado de São Paulo, inclusive a capital. O restante da produção é fornecido para o único leite tipo A semidesnatado da marca Taeq, e para o creme de leite fresco pasteurizado da marca Qualitá, da rede Pão de Açúcar. “A ideia é ampliarmos o portfólio de produtos e expandir nosso mercado”, afirma Jank Júnior.