DESTAQUES DA FAZENDA: com as doadoras Zura da Pontal e Izabel da Juisa, Trindade Júnior fabrica nelore

FINO TRATO: o administrador Antonio Alfeu (abaixo) é quem cuida da dieta e da saúde, no dia a dia, do nelore e do gir leiteiro da fazenda mineira. A propriedade conta ainda com área própria para a realização de leilões

Nas ruas estreitas e tortuosas, cheias de subidas e descidas, no Morro do Alemão, complexo que compreende 13 favelas na zona norte do Rio de Janeiro, o empresário Paulo Afonso Frias Trindade Júnior passou o início de sua infância. À época, na década de 1980, o garoto que jogava bola no bairro suburbano nem imaginava que, um dia, seria criador de nelore. E premiado: sua fazenda, a Nova Trindade, localizada em Uberaba (MG), a mais de 900 quilômetros das praias cariocas, conquistou o título de melhor novo criador de gado da raça nelore do País, concedido pela Associação de Criadores de Nelore do Brasil (ACNB), no ano passado. “Nunca pensei que do Complexo do Alemão, iríamos para a Barra da Tijuca, na zona oeste do Rio, e depois para o mundo rural de Minas Gerais”, diz Trindade Júnior. Essa façanha só foi possível de realizar, segundo o criador, depois que os negócios com aluguel de máquinas de datilografar, e posteriormente com prestação de serviços em tecnologia da informática, com a abertura da empresa carioca Investplan Computadores, em 1996, deslancharam nas mãos de seu pai, Paulo Afonso. “O desafio agora é ganhar o prêmio nacional de melhor criador”, diz

Trindade Júnior. O interesse dele e do pai pela pecuária surgiu quando ambos começaram a receber convites de criadores de nelore para participar de leilões em Minas Gerais. A amizade com criadores os levou a entrar no negócio. Felipe Picciani, proprietário da fazenda Monte Verde, em Uberaba, foi um deles. Mais do que isso: Picciani orientou e deu suporte inicial à formação do criatório da Nova Trindade. “Foi uma espécie de incubadora de nossa fazenda”, afirma Trindade Júnior. Motivado pelo amigo, em março de 2005, o patriarca da família Trindade investiu R$ 500 mil na compra dos cinco primeiros bovinos, que ficaram ainda sob os cuidados de Picciani, em sua propriedade, já que a família Trindade ainda não possuía terras. “No primeiro ano de experiência já tivemos um bom resultado e isso nos motivou a investir ainda mais no negócio”, diz. Ele se refere ao desempenho da vaca nelore Líbia da Nova Índia, adquirida em 2005, que chegou à oitava posição no ranking nacional de matrizes fino trato : o administrador Antonio Alfeu (abaixo) é quem cuida da dieta e da saúde, no dia a dia, do nelore e do gir leiteiro da fazenda mineira. A propriedade conta ainda com área própria para a realização de leilões 2005/2006. A premiação acabou levando Trindade Júnior e seu pai a participar da feira Expozebu, a maior exposição mundial de gado zebuíno realizada anualmente no parque Fernando

Costa, em Uberaba. “Só acompanhávamos os animais por foto e mantínhamos contato por e-mail e telefone com o Felipe”, diz. “Depois que fomos à feira e conhecemos Uberaba compramos a fazenda.” Na aquisição da área de 290,4 hectares, limpos, sem nenhuma estrutura construída, a família investiu R$ 2,4 milhões, em setembro de 2006. Além da influência dos amigos, pesou na decisão de investir na fazenda de Uberaba o fato de o município ser o principal polo tecnológico da raça nelore. É ainda em Uberaba que a Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ) tem sede. “Em Uberaba também estão os melhores profissionais”, diz Trindade Júnior, responsável pela administração da Nova Trindade, que visita uma vez a cada mês. “Uberaba respira nelore.” O plantel da Nova Trindade integra, ainda, o programa de melhoramento genético da ABCZ. Em cinco anos, a fazenda já registrou 1,8 mil bovinos.

Para a construção de toda a infraestrutura da Nova Trindade, que levou apenas nove meses para ficar pronta, foram injetados mais R$ 2 milhões. Em março de 2007, a fazenda pôde realizar seu primeiro leilão. O sucesso do evento abriu as portas para a realização de muitos outros. Atualmente, a Nova Trindade sedia de seis a oito leilões, em média, por ano, alguns deles promovidos com parceiros. “Queremos espalhar genética no mercado e abranger toda a cadeia do gado nelore”, afirma Trindade Júnior.

A média de preços das fêmeas arrematadas nos leilões na Nova Trindade atingiu R$ 120 mil, em 2011. “Nos leilões de animais para produção, a média ficou em R$ 9 mil”, diz Trindade Júnior. No caso do nelore, segundo o criador, há animais para todos os gostos e bolsos. “Os tourinhos de campo são vendidos por 40 arrobas de boi gordo”, diz. Do plantel da Nova Trindade, segundo Júnior, já saiu também macho de R$ 500 mil. “Vendemos metade dele”, diz. “Chegamos a uma valorização semelhante com uma vaca doadora.” Na verdade, a história de sete anos de bons resultados da genética da Nova Trindade começou no primeiro leilão, em 2007, quando também foi realizada a liquidação da Santa Nilza, fazenda conhecida por já ter conquistado o prêmio nacional de melhor criador da raça nelore. “Foi a maior liquidação da raça à época”, afirma. “Nossa base genética veio muito forte da Nilza.”

Foi a partir daí que o negócio da família começou a crescer. Pequenos sítios nos arredores da Nova Trindade foram comprados ao longo de cinco anos, até que a propriedade atingiu 532 hectares, quase o dobro da área original. Sem nenhuma estrutura, cada hectare valia em média R$ 14,5 mil, 75% mais do que valia em 2006. A compra de outras quatro fazendas no município mineiro, todas batizadas, deu origem ao grupo Nova Trindade, dono de 2,5 mil hectares, onde são criados, além dos 1,1 mil bovinos nelore, 300 vacas girleiteiras e 500 receptoras. “Temos espaço para crescer quatro vezes o tamanho do nosso rebanho”, afirma Trindade Júnior. Os investimentos no gir leiteiro, para melhoramento genético voltado à produção de leite, foram feitos a partir de 2008, numa área de 338,8 hectares. A gestão do dia a dia das fazendas está a cargo do administrador Antônio Alfeu do Nascimento Júnior. “Fazemos manejo extensivo para a maior parte dos nelore e incrementamos com suplementação mineral, à vontade”, diz Nascimento Júnior. No piquete, de acordo com o administrador, as novilhas recebem ainda silagem de milho e ração. Já na cocheira, os animais são alimentados, além da silagem de milho, com feno moído e quatro tipos de ração, que variam de acordo com a idade e o ganho de peso, prédeterminados pelo veterinário da fazenda para a formação do animal.