Depois de registrar uma safra complicada devido aos prejuízos causados pelo clima seco e pelas geadas, a perspectiva para a cultura de cana-de-açúcar traz um alento ao mercado. A produção brasileira da commodity em 2022/23 deve chegar a 598,3 milhões de toneladas, crescimento de 3,4% sobre a safra anterior. “Mesmo tímido, o aumento é importante tanto na expansão da produção como da área plantada”, afirmou Andy Duff, analista especializado em cana, açúcar e etanol do Rabobank.

De acordo com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a área de colheita deve chegar a 8,3 milhões de hectares, 0,5% abaixo da anterior. O ganho virá da produtividade, que deve ter expansão de 3,9%, chegando a 72 toneladas por hectares. Com o trabalho no campo realizado, a expectativa é que saiam das usinas 36,4 milhões de toneladas de açúcar, acréscimo de 4,1% frente à safra 2021/22. Quanto ao etanol, está previsto aumento de 4,2% na produção na mesma comparação.

Mesmo com boas perspectivas em volumes, o setor precisará ficar atento às diversas ameaças que se desenham para os próximos meses. Um deles, novamente, é o clima. O fenômeno da La Niña entra em seu terceiro ano consecutivo provocando o resfriamento das águas do Pacífico Equatorial e o desequilíbrio no comportamento meteorológico do Brasil. O segundo motivo são os preços internacionais. Segundo a FitchRating, o açúcar deve ser comercializado por 17,5 centavos de dólar por libra-peso em 2023, leve redução frente à média de 18,5 centavos por libra-peso em 2022. Pesará a favor do produtor brasileiro, o real desvalorizado que pode equilibrar parte das contas. Além disso, para a mesma consultoria, o etanol pode apresentar fundamentos mais sólidos diante do preço da gasolina.

Andy Duff, do Rabobank, faz análise similar sobre o combustível. Segundo ele, os altos preços dos derivados de petróleo com os consequentes reajustes por parte da Petrobras podem permitir maior espaço para a produção do etanol brasileiro.“Este é um momento de observar quais serão as ações tomadas pela estatal e quais os impactos que vão gerar no mercado, mas as premissas são de que o preço na bomba suba”, disse.

Para o analista, no entanto, o setor está preparado não só para enfrentar dificuldades como também para continuar investindo, especialmente nas novas tecnologias e em cogeração de energia. Já testada, essa estratégia se consolida como um caminho viável para baixar os custos e maximizar receita por tonelada produzida, o que significa mais competitividade para as usinas.

Produção regional

O Sudeste, responsável por 63,7% da produção nacional, terá um volume colhido 4% superior ao obtido na safra anterior. Ainda que a área colhida tenha caído para 5,1 milhões de hectares devido à concorrência da cana-de-açúcar com outras culturas, a produtividade vem subindo bastante, alcançando 74.571 quilos por hectare, uma média bem superior à do resto do País.

Resultado semelhante foi registrado no Centro-Oeste com pequenos ajustes na área e na produtividade em relação ao levantamento anterior. Nos arredores de Brasília, a área plantada foi de aproximadamente 1,78 milhão de hectares, com aumento de 3% na produtividade. Resultado: colheita de 129,1 milhões de toneladas, incremento de 1,5% sobre o ciclo passado.

“Mesmo tímido, haverá aumento da produção em função dos ganhos de produtividade ” Andy Duff Rabobank (Crédito:Divulgação)

No Nordeste, devido a problemas climáticos na última safra, parte das lavouras foi abandonada ou dedicada a outras culturas. Nesta temporada, muitas destas áreas retornarão à produção, por isso a expectativa é de crescimento de 3,2% na área a ser colhida. O resultado será uma produção de 54,82 milhões de toneladas, 10,1% superior à safra 2021/22.

Pelas projeções iniciais, a safra da cana pode ser mais doce este ano. Mas diante de tanta instabilidade climática e geoeconômica, o produtor precisará ser mais racional e rápido na tomada de decisões. Características que têm de sobra.